Profundamente consternada, a Diretoria da ABC comunica o falecimento do Acadêmico Paulo de Tarso Alvim, ocorrido em18 de fevereiro em Ilhéus, na Bahia. Agrônomo de renome internacional, Alvim foi, de acordo com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) o mais influente fisiologista vegetal do Brasil e sem dúvida alguma, o mais reconhecido cientista agrícola brasileiro no exterior.
Nascido e criado em Ubá, Minas Gerais, Paulo de Tarso Alvim ficou órfão de pai aos dois anos de idade. Sua educação, assim como a de seus três irmãos maiores, ficou sob a responsabilidade de sua mãe, que para tanto exerceu por muitos anos a profissão de costureira.
Em 1937, prestou vestibular para o curso de agronomia na Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (ESAV), hoje Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde se formou engenheiro agrônomo em 1940. Foi convidado então para ser Professor Assistente de Botânica na ESAV onde ministrou em 1943 o primeiro curso de Fisiologia Vegetal oferecido no Brasil para estudantes de Agronomia.
Em 1945, foi cursar pós-graduação na Universidade de Cornell (EUA), onde obteve em o título de PhD em Fisiologia Vegetal. Ao retornar, iniciou pesquisas sobre fisiologia de plantas cultivadas e sobre a ecologia dos cerrados. Demonstrando a estreita correlação entre esse tipo de vegetação e as características químicas do solo, contribuiu para as técnicas de manejo do solo que permitiram a expansão da agricultura na região dos campos cerrados. Em 1949, por ocasião do 2º Congresso Sul-Americano de Botânica, em Tucumán, Argentina, coordenou o movimento que resultou na criação da Sociedade Botânica do Brasil.
Seu pioneirismo no campo da Fisiologia Vegetal foi logo reconhecido, tendo resultado em convite formulado pelo Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas (IICA/OEA), o que o levou a trabalhar por 12 anos em diversos países da América Latina, principalmente na Costa Rica e no Peru. Entre 1951 e 1955, foi pesquisador e professor da Escola de Pós-Graduação do IICA em Turrialba, Costa Rica, onde realizou pesquisas sobre fisiologia da produção do cacaueiro e do cafeeiro e orientou cinco teses de mestrado. Suas pesquisas contribuíram significativamente para aumento da produtividade dos cafezais daquele país.
Entre 1955 e 1962 atuou no IICA de Lima (Peru), onde colaborou com a Universidad Nacional Agrária “La Molina” no ensino de Fisiologia Vegetal e na implantação de sua escola de pós-graduação. Suas pesquisas com cultivos irrigados permitiram-lhe descobrir o fenômeno a que denominou “hidroperiodismo”, relacionado com o mecanismo da floração do cafeeiro e de outras espécies tropicais, além de ter inventado o primeiro porômetro portátil para avaliar o grau de abertura dos estômatos em condições de campo, conhecido na literatura especializada como “Porômetro de Alvim”.
Em 1963, colaborou com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) nos trabalhos de planejamento e implantação do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC). Foi o principal dirigente técnico da CEPLAC durante 25 anos (1963 a 1988), período em que a produção brasileira de cacau registrou o maior aumento de sua história. Na Amazônia, a produção que era de 2 a 3 mil t/ano, elevou-se para 50 a 60 mil t/ano. Aposentado da CEPLAC em 1989, foi presidente da Fundação Pau-Brasil (ONG), dedicada a atividades conservacionistas e a estudos sobre agricultura sustentável em regiões tropicais úmidas. Como Professor Honorário da UFBA, orientou dezenas de estudantes de pós-graduação. Publicou mais de 200 trabalhos técnico-científicos, cinco livros (como editor e co-autor) e pronunciou centenas de conferências em Congressos nacionais e internacionais.
Paulo Alvim foi homenageado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, entregue pelo Presidente da República do Brasil, em 2002 e com o “Gold Award” da Aliança dos Países Produtores de Cacau no mesmo ano. Foi contemplado com o Prêmio Internacional de Ciências “Bernardo A. Houssay”, oferecido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1995 e com a medalha de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República do Brasil no mesmo ano. Foi o escolhido para receber o Prêmio Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia, do Governo Brasileiro, em 1994. Recebeu o título de Doutor honoris causa da Universidade Federal do Amazonas em1985, a Medalha da Ordem do Mérito do Ex-aluno da Universidade Federal de Viçosa em 1980; a Medalha Agrícola Interamericana, do Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas, em 1979.
Foi homenageado com título de Pesquisador emérito do Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas em 1979. Em 1978, recebeu diplomas de Honra ao Mérito do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e da Sociedade Argentina de Fisiologia Vegetal.
Foi contemplado com o Prêmio Agricultura de Hoje, da Editora Bloch, em 1976; a medalha de Comendador da Ordem do Mérito da Bahia, do Governo do Estado da Bahia, em 1975; o Prêmio “Frederico de Menezes Veiga”, da Embrapa, em 1973; a Medalha do Mérito Agronômico do Brasil, da Federação de Engenheiros Agrônomos do Brasil, também em 1973, assim como a Medalha Jubileu de Prata, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Inspirador e organizador da Ceplac, Paulo Alvim deixa como legado uma das maiores contribuições à agricultura brasileira. A Diretoria da ABC apresenta suas condolências aos familiares.