Carlos Bloch Junior, Elizabeth Pacheco Fontes, Paulo Arruda,
Elíbio Rech e Paulo Mazzafera
A sessão de Ciências Agrárias, coordenada pelo geneticista e Acadêmico Paulo Arruda, dentro do evento Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe 2010, contou com palestras do Acadêmico Elíbio Rech e dos pesquisadores Paulo Mazzafera, Elizabeth Fontes e Carlos Bloch.
Desafios na agricultura
O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Acadêmico Elíbio Rech é Doutor em Ciências da Vida pela Universidade de Nottingham, em Oxford, na Inglaterra, Mestre em Fitopatologia e Bacharel em Engenharia Agronômica, ambos pela Universidade de Brasília (UnB). Ele lançou para os presentes a indagação, título de sua palestra: como intensificar a produção de alimentos massivamente com redução da expansão da área e da emissão de gás carbônica na atmosfera?
“A agricultura é um dos mais importantes sistemas ecológicos do planeta”, afirmou o Acadêmico. “É necessário intensificar os resultados associados à saúde humana, social e cultural e com relação aos impactos ambientais, além de monitorar todos esses aspectos simultaneamente”, acrescentou. Só o agronegócio brasileiro é responsável por 50% das exportações do país e gera mais de 17 milhões de empregos – mais que 37% do total nacional.
Rech demonstrou que existem vários programas para intensificar a produção de alimentos e atenuar as mudanças climáticas. As ações incluem diversificar a expansão agrícola em áreas sem floresta, restaurar o carbono em solos agrícolas e agroflorestais e contribuir com ações mais sustentáveis. Um exemplo é o Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, que visa reduzir as emissões antrópicas e incentiva o reflorestamento. “A efetividade dessas opções de manejo do solo e programas em prol do meio ambiente deverá variar nas diferentes áreas, demografias, condições socioeconômicas e específicas”, informou o Acadêmico.
O Brasil já dispõe de uma matriz energética bem equilibrada: 47,3% englobam as energias renováveis. Para alcançar, e até mesmo ultrapassar, os 52,7% de energias não renováveis, é preciso continuar investindo em uma economia de baixo carbono. “Conseguimos chegar nesse patamar graças à agricultura e às hidroelétricas”, destacou Rech.
Café descafeinado
O pesquisador Paulo Mazzafera, da Embrapa Café, em Brasília, é Doutor e Mestre em Ciências Biológicas, ambos pela Universidade de Campinas (Unicamp), abordou em sua palestra os avanços na pesquisa sobre plantas de café biologicamente descafeinadas.
A cafeína – substância estimulante encontrada no café, utilizada em refrigerantes e medicamentos – não deve ser ingerida em doses elevadas ou por pessoas que apresentam algum tipo de intolerância. O processo de produção de café descafeinado faz com que este perca em aroma e sabor, por isso a importância de uma planta seja naturalmente descafeinada e não perca suas as características atraentes no produto final.
O pesquisador apresentou o Decaffito (termo patenteado por ele), que permite a produção de um café derivado de plantas Arabica – a espécie mais usada na produção de café – com grãos que contêm pouco ou quase nenhum teor de cafeína em seu estado natural. “A pesquisa teve inicio em 2004 e aproximadamente 28 mil mudas foram testadas, através de muitos cruzamentos, até chegarmos ao Decaffito“, relatou Mazzafera.
O maior problema encontrado é o da polinização cruzada, causada por abelhas que visitam os dois tipos de plantação e que leva o Decaffito a perder suas propriedades. “As flores dessa planta abrem muito cedo e aumentam essa possibilidade”, explicou Mazzafera. Para evitar o problema, as plantações de Decaffito precisam ser isoladas das plantas naturais e as abelhas seriam usadas apenas no período de floração.
A pesquisa visa melhoramentos no agronegócio. Segundos dados do site da Embrapa, a demanda do mercado mundial para o café descafeinado está estimada em cerca de US$ 7 bilhões (R$ 20 bilhões aproximadamente) por ano. No Brasil, o café descafeinado é hoje vendido com um preço de varejo 70 a 100% superior ao café comum.
Plantas que necessitam de pouca água
Elizabeth Pacheco Batista Fontes, Doutora em Biologia Molecular pela Universidade do Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, apresentou palestra intitulada Tolerância de Plantas a Déficit Hídrico, tema de importância fundamental dentro do quadro atual de mudanças climáticas.
Elizabeth demonstrou que a modificação in vitro de genes que codificam proteínas de proteção contra seca pode aumentar a expressão dessas proteínas na planta e conferir tolerância ao déficit hídrico. A pesquisa acrescenta muito à engenharia genética nos estudos de tolerância a seca.
Intragenia e alfaiataria molecular
O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia de Brasília, Carlos Bloch, Doutor em Filosofia pela Universidade de Durham, na Inglaterra e Mestre em Ciências Biológicas pela Universidade de Brasília (UnB), encerrou o tópico de Ciências Agrárias com a palestra intitulada Intragenia e Alfaiataria Molecular, referências a métodos aplicados em suas pesquisas. Basicamente a pesquisa tenta identificar nos organismos, na natureza ou nos genes proteínas que tenham atividade biológica.
O pesquisador informou que existe pouca pesquisa sobre peptídeos bioativos. O trabalho de Bloch busca a decriptação de moléculas no interior dos próprios genes – o que chamou de arqueologia molecular. “O objetivo é encontrar potencialidades não manifestadas neles” afirmou o pesquisador, explicando que a esse método foi dado o nome de intragenia.
A alfaiataria molecular é complementar a esse método. “O princípio é a manipulação da molécula, no sentido de encontrar um arranjo que ajude as proteínas procuradas a se mostrarem”, esclareceu. A pesquisa encontra aplicação na indústria farmacêutica, por exemplo, em medicamentos que ajudam na diminuição da pressão arterial e de efeito analgésico.