A Conferência Regional dos Jovens Cientistas da TWAS-Rolac foi encerrada em 2/12/2010 com o segundo Simpósios de Jovens Cientistas das Ciências Exatas e Engenharia, que contou com a participação dos chilenos Rodrigo Cienfuegos e Mauricio Calderon, engenheiro civil e geólogo, respectivamente; do físico brasileiro Nathan Bessa Viana; do físico e matemático Jacob Mostovoy e do astrônomo e astrofísico Luis Zapata, ambos do México.
Física e Matemática
Jacob Mostovoy, físico do Centro de Investigação e de Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional (CINVESTAV del IPN (México) -, apresentou o trabalho Teoria de Nilpotência para nós e árvores binárias. Em 1997, Mostovoy recebeu título de PhD em Matemática pela Universidade de Edimburgo. Entre 1998 e 2008 foi pesquisador do Instituto de Matemática da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e atualmente é professor do Departamento de Matemática do CINVESTAV.
Em sua apresentação, Mostovoy abordou o estudo de vários tipos de objetos combinatórios, com base na analogia da série de Taylor, que engloba uma série de funções no cálculo numérico. Segundo ele, “esse método é bem conhecido na Teoria dos Grupos, ramo que estuda as estruturas algébricas e sua simetria, onde é usado para medir a não-comutatividade das multiplicações”. Mostovoy explicou que o modelo pode ser aplicado no estudo da multiplicação não-associativa sobre árvores binárias. Em todos esses casos, por mais complicado que sejam os objetos, a expansão Taylor tem um significado transparente de combinação: ela atribui a um objeto formal a soma de todos os seus sub-objetos.
O segundo pesquisador da área foi o membro afiliado da ABC Nathan Bessa Viana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que apresentou o estudo As pinças óticas e aplicações da biologia celular. Viana formou-se em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e concluiu seu PhD com a tese “Pinças óticas e aplicações”. Atualmente é professor de Física na UFRJ. Publicou artigos e desenvolveu metodologias aplicando Física aos problemas em Biologia. Ele se interessa principalmente pelo estudo das propriedades elásticas da membrana celular, pelo citoesqueleto de células e materiais macios.
A pinça ótica ou armadilha ótica, como explicou Viana, é uma ferramenta que pode ser usada para manipular objetos em escala micrométrica e exercer e medir forças nessa escala. Essas características tornam os instrumentos adequados para aplicações em Biologia molecular e celular. Ele disse que os motores moleculares, a interação proteína-DNA e as propriedades mecânicas das células e materiais macios são exemplos de temas que podem ser investigados empregando pinças óticas. “Nós conseguimos descobrir que a tensão na superfície da membrana celular é influenciada pela presença de uma proteína do citoesqueleto. E, pela primeira vez, a cápsula do Cryptococcus neoformans foi medida, um fungo encapsulado que pode ajudar a descobrir a arquitetura de cápsulas”, informou Viana.
Astronomia e Astrofísica
Luiz Zapata, do Centro de Radioastronomia e Astrofísica (CryA, na sigla em espanhol) da Universidade Nacional Autônoma do México, apresentou o trabalho Espectroscopia molecular (sub)milimetrada da Nebulosa de Órion: um estudo detalhado da desintegração violenta de um sistema estelar jovem. Ele recebeu seu título de doutor no ano de 2006 com a tese intitulada “Observações centimétricas e milimétricas da formação massiva de uma estrela na região Sul OMC1”. Seus interesses de pesquisa incluem o estudo da formação de galáxias, estrelas e planetas, já tendo publicou mais de 30 artigos e capítulos de livros sobre esses temas.
Segundo Zapata, os resultados de observações recentes feitas com o Submillimeter Array, um radiotelescópio localizado no Havaí, enfocaram a região formadora de estrelas Órion BN/KL. Zapata explicou que ocorreu um escoamento de estrelas nessa região e que, provavelmente, tal fato deve ter sido produzido por uma explosão violenta durante o rompimento de um jovem sistema estelar massivo, há cerca de 500 anos atrás. “As observações confirmaram que jovens estrelas massivas, no centro de enxames de estrelas aglomeradas, têm encontros dinâmicos muito próximos uns aos outros que resultam em eventos enérgicos e explosivos”, informou ele.
Geologia
Mauricio Calderon, do Serviço Nacional de Geologia e Mineração do Chile, apresentou a pesquisa A evolução tectônica dos complexos ofiolíticos na região do Chile Austral e seu papel na orogenia dos Andes Patagônicos: insights de suas solas metamórficas. Ele concluiu seu PhD pelo Departamento de Geologia da Universidade do Chile, com pesquisas realizadas no Brasil, Portugal, Alemanha e Austrália. Sua tese de doutorado foi premiada pela Academia de Ciências do Chile como a melhor tese em Ciências Naturais para o período 2004-2006 e também obteve o Prêmio TWAS-Rolac para Jovens Cientistas na categoria Terra e Ciências Planetárias em 2008.
Calderon explicou que sua linha de pesquisa baseia-se nos complexos ofiolíticos, que são complexos associados a cadeias montanhosas recentes. “Eles foram sendo formados durante toda a história do planeta e preservaram as informações sobre a existência e evolução dos antigos oceanos, assim como a formação de cadeias de montanhas”, esclareceu o cientista. Estes complexos montanhosos têm sido interpretados como remanescências do fundo do mar da bacia Rocas Verdes, uma bacia semi-oceânica estabelecida no sul da América do Sul durante as primeiras eras do supercontinente Gondwana até sua ruptura.
O pesquisador salientou que um dos principais objetivos do estudo é desvendar os complexos processos geodinâmicos envolvidos na adaptação tectônica dos complexos ofiolíticos. Os resultados, juntamente com os novos dados litológicos – referentes aos tipos de rochas -, estruturais e geocronológicos, permitem considerar que as bandas miloníticas – rochas fortemente foliadas e deformadas – representam, em sua grande maioria, os complexos ofiolíticos.
Engenharia
Rodrigo Cienfuegos, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Chile, apresentou a pesquisa Observações sobre as alterações morfológicas produzidas pelo impacto do tsunami de 27 de fevereiro de 2010 ao longo da costa nas regiões VI e VII. Cienfuegos concluiu seu doutorado pela Escola Nacional Superior de Hidráulica e Mecânica de Grenoble, na França. Desde 2006, ele é responsável pelos cursos de Mecânica dos Fluidos, Hidráulica, Transporte de Sedimentos e de Engenharia Costeira na graduação e pós-graduação do seu Departamento.
Cienfuegos reportou-se ao tsunami que aconteceu no Chile no dia 27 de fevereiro de 2010: um terremoto atingiu a região central do país, causando danos generalizados. O epicentro foi localizado na costa externa de Maule, mas a zona de ruptura se estendeu por uma área de cerca de 500 km de comprimento e 130 km de largura. Essa ruptura provocou enormes ondas que resultaram no tsunami devastador que atingiu a costa do Chile várias horas após o choque.
O engenheiro informou que um plano de pesquisa internacional de tsunami foi iniciado poucos dias após o evento, contando com a participação de cientistas dos Estados Unidos, Grécia, Alemanha e Chile e coordenado pelo Centro Internacional de Informação sobre Tsunami (Unesco-ITIC, na sigla em inglês), localizado em Honolulu, Havaí. O trabalho de Cienfuegos, portanto, se concentra em descrever e caracterizar as inúmeras mudanças da morfologia costeira causadas pelo impacto do tsunami sobre o litoral. O estudo, de maneira geral, tem uma significativa, importância social e ambiental e deve oferecer orientação para futuros planos de reconstrução e gestão costeira.