Nascido em São Paulo, em 1974, Alexandre Costa Pereira não demonstrava inclinação pela Ciência na infância, embora seu pai ser fosse médico e professor universitário. A ideia de viajar em busca de oportunidade de pesquisa, porém, já não lhe era estranha, pois seu pai fez pós-doutorado na Scrips Institute, San Diego nos Estados Unidos, uma experiência que considerou importante. “Eu vi como era viver no meio acadêmico, como meu pai lidava com os problemas do cotidiano e percebo hoje como essa vivência me influenciou”, revela.
Na época do vestibular, pretendia escolher o curso de Música. Porém, na iminência da inscrição, acabou optando por Medicina, embora seus pais até apoiassem sua escolha inicial. Já na faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), começou a fazer iniciação científica e freqüentar laboratórios. E lembra até hoje das dicas que recebeu. “Meu pai dizia que eu devia procurar um orientador que fosse realmente motivado, que pudesse me passar o interesse pela ciência e me apresentar ao dia-a-dia da pesquisa”. Assim o fez, e lá cursou todas as etapas, até o doutorado.
Hoje médico cardiologista e pesquisador do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração, onde coordena o grupo de Genética Humana, Pereira aprecia a múltipla atuação. “Gosto de poder clinicar e também pesquisar, essa versatilidade traz muitos benefícios, gera novas idéias em ambas as áreas”.
O cientista vem trabalhando com a identificação de fatores genéticos que causam doenças do sistema cardiovascular. “Sempre fui atraído pela idéia de conseguir uma informação útil para a pessoa e sua família, um prognóstico de longo prazo a partir de um entendimento da área genética”, entusiasma-se Pereira. A responsabilidade dos fatores genéticos na provocação de doenças como hipertensão, diabetes, infarto e derrame gira em torno de 30 a 50%. Esse alto percentual justifica os esforços dos pesquisadores em localizar os marcadores genéticos dessas doenças. “Precisamos identificar exatamente os genes para poder oferecer um teste”, explica o Acadêmico.
A originalidade dos estudos de Pereira provém da descoberta da diversidade geotemporal dos fatores genéticos responsáveis pelas doenças. “O interessante é que no mundo, em cada população, esses fatores não vão ser os mesmos”, explica o pesquisador, “porque o ambiente muda a genética das populações. Não importa, portanto, se esses fatores foram identificados na população da Finlândia, podem ser identificados na população brasileira também e os resultados talvez não sejam os mesmos”, conclui. Mas essa diversidade não desanima o médico. “O objetivo agora é conseguir explicar o que modula essa variabilidade”, revela.
A área genética sempre gera muitas controvérsias. O estudo de Pereira pode permitir o pleno conhecimento de doenças futuras, antes mesmo do nascimento do indivíduo. “E isso gera discussões éticas, porque hoje em dia você pode identificar e selecionar embriões”, explica Pereira, “você pode escolher o filho que vai ter e daria para identificar as doenças e colocar embriões que não as terão. Outras características também poderiam ser escolhidas pelos pais, como a altura, o sexo, a cor dos olhos e da pele, ou até o ouvido absoluto para a música”.
A indicação de Alexandre Costa Pereira foi iniciativa do Acadêmico José Eduardo Krieger, que foi seu orientador no doutorado. O novo Membro Afiliado da ABC considera que uma das missões desse grupo de jovens que está sendo incorporado à Academia é fortalecer a imagem da Ciência perante os jovens. “Acreditando ou não que a maioria dos problemas do mundo pode ser resolvida pela Ciência, sua importância é inegável. Precisamos trazer pessoas jovens para o debate, que é relevante para a Academia como estratégia de atuação política frente às necessidades da sociedade”.