As irmãs de Luciana Almeida Silva fizeram graduação em Economia, um irmão fez Engenharia e o outro Agronomia. Na época da decisão, ela pretendia fazer Matemática, mas resolveu mudar: estava em dúvida entre Química e Engenharia Civil, esta última por influência de um dos irmãos. Foi aprovada nos dois cursos em universidades distintas, mas, como sempre gostou de Química, das estruturas moleculares, optou por este curso.
Suas principais influências foram os bons professores de Química. “Depois que entrei na faculdade tive a sorte de conhecer o professor Jailson Bittencourt, uma pessoa e um cientista fascinantes. Fiz iniciação científica com ele na área de Química Inorgânica. Sempre me impressionou sua capacidade de trabalhar com diversas coisas ao mesmo tempo”. Assim, após graduar-se, Luciana fez mestrado e doutorado na Universidade Federal da Bahia, mas seu orientador achava que sua formação estava muito restrita a um mesmo lugar e uma mesma área de atuação. Surgiu a possibilidade de trabalhar na USP com o Prof. Jivaldo Matos e na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), onde conheceu o Acadêmico Helion Vargas, da área de Física. “Esse período foi ótimo, só me estimulou a continuar. Mas ainda assim, eu precisava me expandir mais”.
Em 2006, já casada e professora adjunta da Universidade Federal da Bahia desde 2002, foi fazer um pós-doutorado no California Institute of Technology (Caltech), nos Estados Unidos. Embora sendo agrônomo, o que torna o Brasil mais interessante para atuar, seu marido, Vinicius Clareto, largou tudo para acompanhá-la. “Fiquei lhe devendo essa, mas ele adorou a experiência. Ele fez curso de inglês, aproveitou. Claro que eu não abriria mão de minha terra, mas foi um período muito bom. Me enriqueceu muito, profissional e pessoalmente”.
Lá, Luciana começou a trabalhar com um tema diferente. “Foi um redirecionamento de foco, no qual usei toda a bagagem que já havia adquirido com trabalhos anteriores”. Trabalhou com o professor Michael Hoffmann, renomado cientista a quem havia citado muitas vezes em sua tese. Dentre as linhas de pesquisa que ele sugeriu, a que mais lhe encheu os olhos foi a relacionada a geração fotocatalítica de hidrogênio, que é um combustível muito atrativo, a partir de água e luz solar. Luciana está desenvolvendo há cerca de dois anos pesquisas relacionadas a esse tema.
Para ela, os últimos anos foram movimentados. Em 2008, conseguiu aproveitar boas oportunidades e consolidar seu trabalho. Em 2009, no entanto, houve um incêndio no prédio do Instituto de Química, que ficou interditado por quase seis meses. Nada da sua estrutura de pesquisa foi perdida, mas as atividades tiveram que parar, pois não havia como transferir o material e os equipamentos: foi um período de inércia. “Quando retornamos, enfim, estávamos com a energia acumulada, dinheiro no bolso e conseguimos montar o sistema completo. Alguns trabalhos já estão tendo resultados”.
Ela observa que a linha de fotocatálise para produção de hidrogênio é nova, poucas pessoas fazem isso no Brasil. E acha que tem dificuldade de atrair estudantes para a área, por sua timidez e porque dá aulas para a Engenharia Química, cujos alunos querem passar pelos laboratórios, mas não têm a intenção de ficar, já que pretendem rumar para a indústria. Mas já conta com alguns alunos de iniciação científica e um de mestrado. “Quero investir em recrutar mais alunos para conseguir formar pesquisadores nesta área. Acho que 2010 será um bom ano.”
A indicação para a ABC ocorreu no final de 2009. “Fiquei muito honrada, não esperava… Conversei com outros indicados e percebo agora que podemos usar esse instrumento para tomar mais iniciativas, desenvolver mais projetos, isso nos dá mais visibilidade e credibilidade”. Ela diz ter ficado impressionada com a qualidade da pesquisa dos Membros Afiliados cujas apresentações assistiu. “Me sinto feliz de fazer parte desse rol. O reconhecimento nos dá estímulo e auto-confiança, isso se reflete nas apresentações, cheias de entusiasmo e firmeza.”