Adán José Corcho Fernández nasceu em Cuba e desde pequeno gostava muito de Matemática. “Não tive influência familiar nenhuma, porque meus pais tiveram muito pouca formação escolar, oriunda do governo Batista, ainda não havia a assistência educacional do governo Fidel. Meu irmão fez até o nível secundário para poder trabalhar e minha irmã se formou como professora do ensino primário”.
Por causa do seu bom desempenho em Física e Matemática, Adán foi selecionado para entrar num colégio de segundo grau mais especializado, o Instituto Pré-Universitário em Ciências Exatas Ernesto Guevara. Desde então, começou a participar de Olimpíadas de Matemática e a pensar em ser professor.
Chegava da escola e gastava horas resolvendo problemas de livros antigos, achava aquilo muito curioso. “Talvez em Cuba, onde as carreiras não têm propriamente uma relação com o mercado, pois os salários são semelhantes, as pessoas escolham uma profissão mais pelo que elas gostam”, aponta Fernández. Na faculdade encontrou então alguns colegas que gostavam de Matemática tanto quanto ele e ficou sabendo que havia um Instituto de Matemática muito bom no Brasil – o IMPA. “Em Cuba, no ano 1996, havia um bom estímulo para que fôssemos fazer mestrado fora, então me inscrevi e fui aceito”, conta Fernández.
Saiu então de uma pequena cidade rural cubana para o Rio de Janeiro, onde se adaptou bem. Cursou os dois anos de mestrado, voltou para Cuba onde ficou trabalhando em 1998 e no ano seguinte retornou ao IMPA para fazer o doutorado em Equações Diferenciais Parciais. Lá conheceu o Membro Afiliado da ABC, Krerley Oliveira, que em 2003 o convidou para passar uma temporada como professor visitante em Maceió, na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Gostou da cidade e do clima, parecido com o clima tropical de Cuba. Quando abriu um concurso público, em 2003, Fernández se inscreveu e passou. Casado com uma carioca, que foi para Maceió com ele, “foi ficando”, segundo ele. Em Cuba, porém, deixou a família. Tem duas filhas que moram nos Estados Unidos, “Hoje, uma está com 16 anos e a outra com 14. A última vez que as vi foi em 2000. Mas mantemos contato regular por telefone, temos uma excelente relação”.
Fernández foi indicado para a ABC pelo Acadêmico Hilário Alencar. “Procuro trabalhar pelo prazer de trabalhar, faço o que gosto. Se o reconhecimento vier, é ótimo, mas não é a primeira coisa que procuro. Fiquei muito honrado em ser indicado para a Academia sem ser brasileiro, isso me faz gostar ainda mais do país, tão acolhedor. Não sou nem naturalizado, tenho apenas o visto permanente por ser casado com uma brasileira. Se eu me naturalizar posso talvez perder a cidadania cubana, não tenho total certeza, mas acredito que Cuba não aceita a dupla nacionalidade e eu não quero deixar de ser cubano”.
O jovem professor da UFAL já orientou cinco alunos de mestrado e começará a orientar dois alunos de doutorado este ano, no Programa de Doutorado da UFAL em conjunto com Universidade Federal da Bahia (UFBA), recém aprovado pela CAPES. Para Adán Fernández, a Matemática é como um mapa, um quebra-cabeça bonito que requer do pesquisador organizar as idéias para chegar a um fim. “Nesse processo de descoberta que está a mágica da Matemática. É uma procura pela verdade.”