Leiam o artigo do Acadêmico Wanderley de Souza, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor de projetos do Instituto Nacional de Metrologia Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro-RJ), publicado no jornal O Globo em 23/2:
“Há algum tempo os dados sobre o crescimento de alguns países asiáticos vêm surpreendendo, mesmo nos momentos de crise. Se tomarmos os dados referentes à evolução do PIB da China verifica-se que em 2004 era da ordem de US$ 2 trilhões, ocupando a quinta posição, atrás dos Estados unidos, Japão, Alemanha e Inglaterra. As previsões para 2010 são de um PIB de US$ 5,26 trilhões, ocupando a posição de segunda economia mundial e ultrapassando os países acima mencionados.
Os efeitos deste crescimento podem ser percebidos nas análises econômicas dos principais jornais, quase que diariamente. A presença da China na América Latina cresce de forma impressionante. Basta comparar dados referentes à exportação do Brasil e da China para os nossos vizinhos. Em 2002, Brasil e China exportaram para países da América Latina US$ 10,6 bilhões e US$ 7,1 bilhões, respectivamente. Já em 2008 os valores foram de US$ 45,2 bilhões e US$ 47,9 bilhões, respectivamente.
Qual o segredo desta significativa evolução no desempenho da China? Certamente são vários. No entanto, ao visitarmos as instituições chinesas percebe-se claramente o investimento prioritário em educação em todos os níveis, forte apoio à pesquisa científica e tecnológica, à inovação tecnológica e sofisticação do parque industrial. A julgar pelo esforço que vem sendo feito na China e em outros países asiáticos na área científica podemos prever que o crescimento será ampliado e estes países ocuparão posições de liderança cada vez mais sólidas.
O conjunto das publicações científicas de nível internacional proveniente da Ásia representava cerca de 9,9% do total mundial, em 1981. Neste ano, os Estados Unidos eram responsáveis por 41% de todas as publicações. Ainda neste ano, Brasil e China ocupavam, respectivamente, a vigésima-sétima e vigésima-oitava posições mundiais, em termos de publicações científicas. Entre os asiáticos, a liderança estava com o Japão e a Índia, ocupando, respectivamente, a quarta e oitava posições e contribuindo com cerca de 6,7% e 3,2% de toda a produção científica.Outros países, como Coreia do Sul e Taiwan, pouco contribuíam (quadragésima-quarta e trigésima-nona posição), contribuindo com 0,12% e 0,05%, respectivamente, para a ciência mundial.
Qual a situação atual? Primeiro, no conjunto, os países asiáticos contribuem, hoje, com cerca de 24% dos artigos científicos, enquanto os Estados Unidos contribuem com cerca de 28%. O vigoroso crescimento asiático se deu, sobretudo, graças à China, que agora contribui com 9%, e da vigésima-oitava posição passou para a segunda, deixando para trás Alemanha, Inglaterra e França, entre outros. O Japão manteve a quarta posição e contribuindo na faixa de 6,5%. Já a Coreia do Sul e Taiwan cresceram, ocupando hoje a décima-segunda e a décima-sexta posições, contribuindo com cerca de 2,9% e 1,86 %, respectivamente.
A análise dos dados disponíveis mostra, ainda, um crescimento significativo do Brasil e de alguns países europeus como Itália e Espanha. Outros, como a Rússia e Israel, vêm perdendo posição. O Brasil passou, no período analisado, da vigésima-sétima posição, contribuindo com 0,45% das publicações, para a décima-terceira posição, contribuindo com cerca de 2,5%. Os tradicionais produtores de ciência na Europa, como Inglaterra, Alemanha e França, vêm mantendo uma posição estável ao longo dos anos, o que confere aos países europeus a maior percentagem de publicações.
Fica claro que a China passará a desempenhar nos próximos anos uma posição privilegiada e de influência crescente no cenário científico mundial. O país enviou milhares de jovens pesquisadores para excelentes instituições científicas nos Estados Unidos e na Europa.
Estes jovens bem formados estão regressando em massa e encontrando condições de trabalho de excelente qualidade. Os laboratórios nas instituições chinesas estão bem montados. Os reflexos de todo este investimento já começam a surgir. É crescente a participação de pesquisadores chineses nos congressos internacionais.
Uma revista científica na área biológica, a Cell Research, lançada há cerca de vinte anos, já atingiu o índice de impacto de 4,5, sendo que o maior índice de uma revista brasileira pertence à centenária Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, que alcança 1,4. Os dados acima apontam para a necessidade de um aumento significativo na cooperação científica entre o Brasil e a China.”