Como parte do evento Avanços e Perspectivas da ciência para América Latina e Caribe, ocorrido entre os dias 30/11 e 3/12 na Academia Brasileira de Ciências, aconteceu a 6a Conferência Regional de Jovens Cientistas – TWAS-Rolac.

O primeiro encontro do evento foi o Simpósio Jovens Cientistas das Ciências Exatas e Engenharia, ocorrido na manhã do dia 1º de dezembro, sob a coordenação do neurocientista mexicano Ranulfo Romo. Participaram o novo Membro Afiliado da ABC Alessandro Garcia, doutorado em Informática e professor da PUC-Rio; Annelise Casellato, doutorada em Química e professora da UFRJ; Laurent Loinard, doutorado em Astrofísica e professor da Universidade Autônoma do México; e a Acadêmica Leda dos Reis Castilho, doutora em Engenharia Bioquímica e professora da Coppe/UFRJ.

Engenharia da Computação

O primeiro a se apresentar foi Alessandro Garcia, que tratou de sua pesquisa intitulada Análise de Estabilidade de Propriedades Transversais em Sistemas de Softwares, na qual se estuda as propriedades que atingem mais de um módulo do software e por isso são consideradas mais propensas a gerar instabilidades no sistema.

Segundo Garcia, esse é um dos principais campos de estudo da Engenharia da Computação atualmente, no qual vem se procurando gerar novas linguagens que funcionem em um só módulo, eliminando assim as propriedades transversais. Entretanto, essas novas linguagens também geram dificuldades para os programadores, pois eles têm que se adaptar a novas gramáticas cada vez mais complexas. O palestrante ressaltou que estas pesquisas costumam partir do pressuposto de que as propriedades transversais são sempre nocivas à manutenção do software e buscam, portanto, soluções para este problema ao invés de buscarem “entender até que ponto o problema é realmente um problema”.

O que Garcia e seu grupo de pesquisa têm analisado nos últimos dez anos é exatamente isso. Seus estudos levam a crer que, ao contrário do que acreditavam muitos “gurus” da Engenharia de Computação, nem todos as propriedades transversais são maléficas. Ao final da pesquisa, que está em fase de comprovação de dados, o grupo pretende lançar um modelo produtivo esclarecendo quais as propriedades transversais que devem ser motivo de preocupação para os programadores e quais as que não apresentam nenhum risco. Isto poderá facilitar o trabalho dos programadores e também orientar novas pesquisas na área.

Química Bioinorgânica

Laureada em 2009 com o Prêmio LOréal-Unesco-ABC para Mulheres na Ciência, Annelise Casellato falou sobre a Química Bioinorgânica como uma ferramenta útil para descontaminação ambiental. Ela esclareceu que Química Bioinorgânica, caracterizada pela inter e multidisciplinaridade, é a área da Química que trata da interação entre metais e os sistemas vivos (proteínas ou enzimas). “O principal desafio da área é a obtenção de compostos com baixa massa molecular, capazes de mimetizar algumas dessas enzimas e proteínas, ou seja, imitar seu sítio ativo – a região onde a reação química efetivamente acontece”, apontou a pesquisadora.

O Departamento de Química Bioinorgânica da UFRJ, do qual Casellato é uma das coordenadoras, tem atuado principalmente em três frentes de pesquisa: a primeira delas é o desenvolvimento de compostos que atuem no branqueamento de resíduos industriais. A segunda é o desenvolvimento de compostos que possam atuar como drogas no tratamento de câncer e a última é o desenvolvimento de compostos que possam atuar como biorremediadores de pesticidas organofosforados baseados em enzimas hidrolíticas.

Esta última área é o foco principal de Casellato e tem por objetivo diminuir os efeitos danosos que os pesticidas causam no solo e nos seres vivos. A professora destacou que o Brasil, devido a sua grande produção agrícola, é atualmente o terceiro consumidor de agrotóxicos do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão, “o que torna imprescindível que pesquisas nesta área sejam desenvolvidas aqui”. O desafio desse estudo, segundo a cientista, é sintetizar compostos capazes de quebrar as moléculas desses pesticidas extremamente tóxicos gerando substâncias menos tóxicas, podendo assim remediar solos ou águas contaminadas.

Astrofísica

Em seguida, Laurent Loinard deu sua palestra, cujo título era Medindo o Universo com rádio-telescópios. Ele começou sua apresentação explicando a importância de se medir a distância das estrelas, pois este dado é fundamental para a obtenção de outras informações sobre as propriedades intrínsecas básicas dos corpos celestiais – massa e tamanho, entre outras. Entretanto, Loinard destacou que existe uma enorme dificuldade em se medir a distância das estrelas. “O céu aparece para nós como uma estrutura bidimensional, não conseguimos ter uma noção de perspectiva”, explicou.

O tema tem ocupado astrofísicos há muitos séculos e até hoje continua sendo desafiador. O sistema desenvolvido para a medição da distância das estrelas é o mesmo usado na topografia para a medição da altura de montanhas: a triangulação, que consiste em medir um ângulo, depois se afastar e medir outro ângulo. Conhecendo-se dois ângulos e um lado do triângulo (no caso, a distância percorrida), é possível saber a distância das estrelas. Porém, como é possível se afastar quando as estrelas são o referencial? Esta foi uma das dificuldades iniciais. “A solução encontrada foi fazer esta medição em diferentes épocas do ano, pois a movimentação da Terra faria então o papel de afastamento, mudando o ângulo de medição”.

O que parece muito simples na teoria, porém, é um enorme desafio quando posto em prática, pois os ângulos em questão são mínimos. Os astrofísicos de hoje, entre eles Loinard, trabalham no desenvolvimento de super-telescópios para a medição mais precisa destes ângulos, que levarão a respostas mais concretas sobre várias questões do universo.

Engenharia Bioquímica

Encerrando a primeira parte do Simpósio, Leda dos Reis Castilho falou sobre a aplicação da Engenharia Bioquímica ao desenvolvimento de produtos para a saúde humana. Para contextualizar melhor sua área, a Acadêmica indicou os principais campos de pesquisa, que incluem o desenvolvimento de terapias genéticas, vacinas (principalmente virais), proteínas terapêuticas, diagnósticos, terapias celulares e pesquisas com células-tronco. Ela destacou que este é um campo de pesquisa de ponta, que tem obtido enormes avanços, gerando muitos produtos que já estão disponíveis no mercado.

Num segundo momento, Leda falou sobre sua pesquisa em andamento, sobre a ampliação de escalas de células-tronco embrionárias em cultura. Este é um trabalho desenvolvido em conjunto por dois laboratórios da UFRJ – o Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC), da Coppe, e o Laboratório de Neurogênese e Diferenciação Celular (Landic), do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). “A pesquisa é de grande importância, pois tem como objetivo acelerar os processos de cultivo de células-tronco, possibilitando assim o aumento de sua aplicação em tratamentos terapêuticos”, destacou a pesquisadora.

A inovação da pesquisa é a utilização de frascos agitados como acelerador do processo de cultivo das células. “O grande desafio era fazer com que as células-tronco se multiplicassem, mas mantendo a pluripotência, ou seja, sua capacidade de se transformar em outras células”. Leda conta que foram utilizadas para a pesquisa células-tronco embrionárias, que possuem maior capacidade de diferenciação do que as células-tronco adultas. De início o trabalho foi realizado com células-tronco de camundongos e, depois do resultado bem sucedido nos testes, foi feito um estudo análogo com células-tronco humanas.

Os resultados da pesquisa são muito animadores. “Foi comprovado que nos frascos agitados as células-tronco se multiplicam com muito mais rapidez do que nos frascos estáticos, mantendo sua pluripotência”, relatou Leda. O próximo passo é fazer o cultivo em recipientes maiores para que se possa, no futuro, chegar a bio-reatores de até milhares de litros. “Isto fará com que a terapias celulares sejam cada vez mais uma realidade possível”, arrematou a cientista.