O nome original é Sociedade Real de Londres para o Desenvolvimento do Conhecimento Natural. Mas a tradicional entidade britânica dedicada à ciência é mais conhecida como Royal Society. É tida como a mais antiga no mundo ainda em funcionamento: no ano que vem completa 350 anos. A festa de aniversário, no entanto, já começou, e quem ganhou o maior presente foram os internautas. É que a sociedade resolveu colocar em seu site fac-símiles de alguns dos textos científicos que marcaram os últimos três séculos e meio – escritos por pesos pesados como Isaac Newton, Benjamin Franklin, Edmund Halley (o descobridor do cometa que leva seu nome) e assim por diante.
A interface do site se chama é uma linha do tempo povoada por bolinhas cinzas (assinalando eventos) e vermelhas (marcando os anos das descobertas científicas, com os respectivos documentos). Passando o ponteiro do mouse sobre a bolinha, vemos um quadro mostrando do que se trata; clicando nele, chega-se a um comentário um pouco maior, com links para o texto do documento original, em formato PDF.
O primeiro trabalho científico mostrado é de 1666 – uma proposta do médico Robert Boyle ao colega Richard Lower, o responsável pela primeira transfusão de sangue bem-sucedida entre animais (no caso, entre cães). Boyle propunha que mais experimentos do tipo fossem feitos para verificar se as transfusões afetavam os hábitos caninos ou mudavam sua disposição em geral.
Logo depois aparece o próprio Isaac Newton, grande mestre da física e enunciador da lei da gravidade. Trata-se de uma carta do sábio para a Royal Society em 1672 descrevendo a decomposição da luz em raios de várias cores através de um prisma. O raciocínio de Newton é brilhante: percebendo que a cor era uma característica inerente de um raio de luz (e que a luz branca é a mistura de todas as outras cores), o físico entendeu que um telescópio sempre proporcionaria algum grau de distorção em suas imagens justamente por causa disso – cada cor de raio apontaria para pontos levemente diferentes. A partir daí, bolou um telescópio baseado em espelhos – o modelo básico mesmo dos mais modernos telescópios. Uma nota curiosa no comentário sobre o texto é que Newton precisou interromper o trabalho no meio para fugir da peste bubônica, que então grassava na Inglaterra. “E os cientistas de hoje pensam que têm problemas…”, diz a entidade.
Cinco anos depois, em 1677, o cientista holandês Antonie van Leeuwenhoek descreveu numa carta à Royal Society os “pequenos animais” que observara numa gota de chuva: era a primeira vez que se viam nossos hoje velhos conhecidos protozoários e bactérias. “Olhando atentamente, percebi, admirado, mil deles numa gota dágua, que eram da menor espécie que eu já vira até então”, escreveu Antonie.
No século XVIII, encontramos o relato do astrônomo Edmund Halley (que previu as passagens pela Terra do cometa que ganhou seu nome) sobre o eclipse do Sol que ocorreu na Grã-Bretanha em 22 de abril de 1715. Foi um evento muito antecipado na época, porque, como narra o próprio Halley, “desde 20 de março de 1140 (…) não se vê um eclipse total do Sol em Londres”. Seu relato foi o mais completo, porque seus colegas de Oxford e Cambridge não conseguiram observar bem o fenômeno. Halley calculou até a velocidade da sombra que encobriu o sol: 46,4 quilômetros por minuto.
Em 1752, damos de cara com um texto do próprio Benjamin Franklin, um dos pais dos Estados Unidos da América, descrevendo seu clássico experimento de soltar uma pipa no meio de uma tempestade para capturar raios.