Após a realização da Conferência Mundial de Ciências em Budapeste, em 1999, a Academia de Ciências Húngara, junto com a Unesco, o Conselho Internacional de Ciências (ICSU, na sigla em inglês) e o governo húngaro decidiu organizar, a cada dois anos, uma edição do Fórum Mundial de Ciências.
A primeira edição do Fórum ocorreu em 2003, com o tema Conhecimento e Sociedade; em 2005, o tema foi Conhecimento, Ética e Responsabilidade; e em 2007, Investindo em Conhecimento: Investindo em Futuro. O tema da edição deste ano, que celebrou o décimo aniversário da Conferência Mundial de Ciências, é Conhecimento e Futuro. As edições são realizadas sempre por volta do dia 10 de novembro, data escolhido pela Unesco, em 2001, como o Dia Mundial da Ciência.
O evento de 2009, no entanto, ocorreu um pouco mais cedo, no período de 5 a 7 de novembro. A delegação brasileira foi bastante expressiva, chefiada pelo presidente do CNPq, o Acadêmico Marco Antonio Zago. Participaram também os Acadêmicos Luiz Antonio Barreto de Castro, Jailson Bittencourt de Andrade, Beatriz Barbuy, Jacob Palis, além da diretora do ICSU-LAC Alice Abreu e o Dr. Paulo de Góes, assessor da Presidência da ABC.
No dia 4/11 houve uma mesa-redonda ministerial do Grupo dos 77 sobre Estrutura, Organização e Financiamento da Pesquisa Científica e o papel do Estado. Esse debate resultou num comunicado, aprovado por unanimidade. Participaram da mesa diretora os Profs. Jószef Pálinkás, presidente da Academia de Ciências Húngara; Prof. Walter Erdelen, vive-diretor científico da Unesco; Dr. Abdulaziz Altwaijri, diretor geral do ISESCO; Embaixador Abdalmahmood Mohamed, presidente do grupo dos 77 e o Prof. Jacob Palis, ali na qualidade de presidente da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS). Com base nas discussões e sugestões apresentadas, chegou-se finalmente a um modelo extremamente rico de interação entre os países do Sul, que sob a égide da Unesco poderão trazer grandes contribuições para o desenvolvimento da cooperação Sul-Sul.
Na ocasião, Palis destacou em seu discurso o rápido avanço da ciência em alguns países em desenvolvimento vinculados à TWAS, como Brasil, Índia, China e África do Sul, que já investem mais de 1% de seu PIB em C&T. Recente pesquisa da Unesco, segundo ele, identificou que 40% dos cientistas mais atuantes do mundo hoje trabalham em países em desenvolvimento. “Há 25 anos atrás, esse total correspondia um quarto do número atual”, apontou o matemático.
Jacob Palis remeteu-se à bem sucedida Reunião Geral da TWAS ocorrida mês passado em Durban, na África do Sul, da qual participaram mais de 400 cientistas e contou com apresentações do ministros de C&T do Brasil, Índia e África do Sul. “Fomos recebidos pessoalmente pelo Presidente Zuma, numa demonstração do reconhecimento da importância da ciência e tecnologia para o desenvolvimento das nações do Sul”. Ele declarou confiar que o COSTIS emergirá rapidamente como uma voz forte pela ciência no Sul, e um poderoso parceiro na busca por alcançar os objetivos comuns a todos aqui presentes. “Queremos trabalhar junto com vocês para fazer com que isto aconteça.”
As atividades o Fórum Mundial de Ciências propriamente dito foram iniciadas no dia 5/11, contando com a presença do presidente da Hungria, László Sólyom, e do diretor geral da Unesco, Koichiro Matsuura, na mesa de abertura e com o lançamento do Consórcio para Ciência, Tecnologia e Inovação do Sul (COSTIS), uma iniciativa do Grupo dos 77, que reúne os ministros de C&T dos países membros. Lançado na Conferência Anual da TWAS de 2006, em Angra dos Reis, o COSTIS passou, desde então, por diversas modificações, até chegar a uma proposta consensual, que foi finalmente aprovada.
Após algumas apresentações extremamente interessantes e uma cerimônia de premiação, os grupos se dividiram em sessões temáticas, entre elas uma sobre Mulheres na Ciência que teve a Acadêmica Beatriz Barbuy como uma das expositoras. As outras foram sobre Ciência e Juventude, Diplomacia da Ciência e uma sessão intitulada Mobilizando a Ciência para a Política e a Política para a Ciência, presidida pelo Prof. Marco Antonio Zago.
O dia 6/11 contou com uma sessão plenária da qual participaram o presidente da Academia Chinesa de Ciências, Yongxiang Lu; o presidente do Conselho de Ciências do Japão, Ichiro Kanazawa; a presidente do ICSU, Catherine Bréchignac e o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis.
Uma vitória obtida no evento foi a acolhida por parte do presidente da Academia de Ciência Húngara da proposta brasileira de que o Fórum Mundial de Ciências se realizasse alternadamente, a cada dois anos, entre a Hungria e outros países. O Brasil se ofereceu para receber então a primeira edição do evento fora da Hungria, no ano de 2011, proposta que foi bem aceita tanto por parte da Academia de Ciências Húngaras como pela Unesco e pelo ICSU. “É muito interessante a perspectiva de se deslocar um debate que está assumindo um caráter cada vez mais eurocêntrico e primeiro mundista para um debate mais diversificado, que leve em consideração o potencial dos distintos países”, disse Paulo de Góes. No dia 7, com uma visita ao Parlamento húngaro, um dos prédios mais bonitos construídos na Europa no final do séc. 19, o Fórum foi encerrado.