Foi em um intercâmbio para o Reino Unido que o físico Alexandre Reily Rocha descobriu sua vocação. Cursando o ensino médio no Liceu Albert Sabin na cidade de Ribeirão Preto, passou um ano no Methodist College Belfast. Durante o programa, entrou em contato pela primeira vez com laboratórios de Física e Química no colégio britânico. A partir desta experiência foi que o baiano de Caculé, filho de uma antropóloga e um médico urologista, definiu o caminho que seguiria na sua vida profissional.

Graduou-se na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde fez duas iniciações científicas, sendo uma na área de Física Médica. Posteriormente, Rocha cursou o mestrado na própria Unicamp e no Laboratório Nacional de Luz Síncroton e o doutorado pela Trinity College Dublin, na Irlanda, e pós-doutorado em Física da Matéria Condensada pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), onde desenvolve simulações computacionais de materiais.

O gosto pela programação em computadores surgiu durante duas pesquisas de iniciação científica. Mas somente decidiu que realmente queria atuar em programação de computadores e começou a trabalhar na área quando foi chamado para um projeto do professor José Antonio Brum. “Eu percebi que a parte experimental não era a minha preferência. Eu gostava mesmo era de modelar os problemas e fazer os experimentos no computador”, observa.

O que lhe interessa realmente são as propriedades elétricas dos materiais. Rocha trabalha com transporte eletrônico, tenta reproduzir o mundo real dentro de um computador da melhor maneira possível. Está estudando os sistemas nanoscópicos. “A escala clássica, antiga, é bem diferente da escala quântica, que é a do mundo moderno. É um mundo em que as equações, os problemas e os fenômenos observados tendem a ser muito diferentes”, explica Alexandre Rocha.

Produzir para escala industrial o que antes simulava em laboratório é o novo desafio do físico. “Em escala industrial não se tem o mesmo nível de controle que no laboratório, não se consegue pegar um átomo aqui e mexer para lá. Eu gostaria, então, de introduzir o que chamamos de desordem e tentar fazer isso dentro do computador. Os sistemas são muito maiores, fica tudo muito mais complicado, mas eu tenho um interesse bastante grande nessa área”.

O pesquisador destaca que a nanociência é uma área que atrai muitos estudantes dentro da Física e que já existe na UFABC um curso de pós-graduação nesse setor. Porém, lamenta a evasão na graduação e atribui a isso duas razões: a dificuldade do curso e a falta de perspectiva profissional. “Os cursos de Engenharia, por exemplo, são também bastante puxados, mas lá o aluno vê onde pode chegar. Já na Física, isso não fica muito claro para o aluno, principalmente porque as empresas contratam poucos físicos”, compara o cientista, que ressalta que o mercado de trabalho para físicos ainda é muito restrito à academia.

Membro afiliado da ABC desde 2008, Alexandre Rocha considera a indicação uma grande oportunidade para entrar em contato com outros cientistas. “Os membros da Academia estão muito envolvidos com propostas de política de ciência e tecnologia do Brasil. Acredito que participar dessas discussões é bastante interessante”, avalia o pesquisador.

Alexandre Rocha acredita que a instituição em que trabalha, a UFABC, tem um papel importante na mudança de paradigmas do ensino de ciências exatas no país. Ela é bem nova – funciona desde 2005 – e tem uma proposta interessante. Seu projeto pedagógico, incluindo os cursos, disciplinas, grades e estatuto foi baseado no texto Subsídios para a Reforma da Educação Superior, produzido pela Academia Brasileira de Ciências, e a Declaração de Bolonha, produzida por um grupo de Ministros da Educação europeus reunidos em Bolonha, em 1999.

Os primeiros alunos eram da região do ABC paulista, a maioria de Santo André. O último vestibular, porém, para 2009, atraiu muita gente de fora. “Lá o aluno não entra na universidade escolhendo o curso e sim para fazer o bacharelado em Ciência e Tecnologia. Dentro da instituição, o aluno pode passear por todas as áreas, ser verdadeiramente multidisciplinar. Eu gosto muito da idéia, é interessante, mais parecida com o modelo americano que tem muito mais flexibilidade”.

Ele explica que o aluno de Engenharia pode, ao longo do curso, perceber que gostaria de fazer Física. A evasão então se dá apenas de um curso para o outro e se torna uma escolha e não uma frustração. “Isso é uma riqueza, é muito importante para a auto-estima do aluno. Ele começa a trilhar um caminho e, se no meio do caminho decide seguir em outra direção, é uma coisa normal, não tem que começar do zero”, conclui o pesquisador. A UFABC teve como primeiro reitor um de seus idealizadores, o Acadêmico Luiz Bevilacqua, e agora tem como reitor pro tempore pelo também Acadêmico Adalberto Fazzio.