O Brasil deveria usar os recursos advindos da exploração do petróleo da camada pré-sal para financiar a criação de um modelo de desenvolvimento único e autônomo, amparado em “sólidos pilares” de ciência e tecnologia, que favorecesse a exploração racional de seus próprios recursos naturais e de outras regiões tropicais.

A idéia foi defendida em 8 de setembro, pelo Acadêmico Carlos Nobre que, como representante do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), participou de audiência pública da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas (CMMC).

Em discussão, o Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas e as perspectivas do Brasil para a 15ª Conferência das Partes (COP 15) das Nações Unidas. Esse encontro será realizado em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca, com a participação de especialistas de 200 países, que irão debater o acordo global que sucederá o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Eles acenam com a adoção de regras mais rígidas de redução das emissões de gases do efeito estufa.

“Precisamos descobrir uma maneira de explorar o potencial do país de forma nunca utilizada. Criar essa competência é tarefa do ITA [Instituto Tecnológico da Aeronáutica], da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e de ilhas de competência de Mecânica Fina e Ótica que nos mostram o caminho de um desenvolvimento autônomo”, afirmou Carlos Nobre.

Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ele disse ainda que o Brasil terá pelos próximos 20 anos a “grande oportunidade” de contribuir para a redução do aquecimento global, por meio de programas que priorizem o combate aos desmatamentos e queimadas, as ações de reflorestamento, o aumento da eficiência agrícola e o uso de energia renovável.

Para Nobre, o Brasil dispõe de características naturais que neste momento favorecem o desenvolvimento de sua economia e que não são encontradas em outros países emergentes, como Índia e da China. “No Brasil, nosso desafio é pensar em eficiência agrícola se quisermos reduzir radicalmente aqui a emissão de gases poluentes da atmosfera. Precisamos inverter essa tradição de expansão da área pelo aumento da eficiência”, observou.

Liderança

Mesmo lembrando que o Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas ainda está em discussão na Câmara dos Deputados, Nobre afirmou que o Brasil já tem condições de liderar o debate sobre a redução do desmatamento tropical. Ele ressaltou ainda a criação da Rede Vida, pelo MCT, destinada a ampliar o conhecimento sobre as mudanças climáticas globais. A rede, que já contaria com 76 instituições e 139 grupos de pesquisa, pretende apresentar o resultado de suas primeiras pesquisas em 2010.

“Temos condições de ser um país plenamente desenvolvido. Nosso grande potencial é o ambiental, mais que o agrícola, onde já somos uma potência. A implementação bem sucedida do plano poderá tornar menor a emissão de gás carbônico”afirmou.

Nobre ressaltou ainda que a exploração do pré-sal tem que ser feita com “sabedoria” para que ela não comprometa a produção de combustíveis alternativos e para que não ocorra o mesmo verificado com o Proálcool, que foi implantado pelo governo na década de 1980 e fracassou por falta de apoio da Petrobras, segundo ele. “Que o pré-sal não sirva de desculpa para não avançarmos no uso de biocombustíveis renováveis. Temos o maior potencial de energia eólica do mundo, mas ainda atuamos de forma tímida”, disse Nobre.

Durante a audiência pública, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) criticou a demora na análise do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas pela Câmara. “Vamos chegar à COP 15 e o governo vai colocar a culpa no Congresso. O governo mandou o projeto sem regime de urgência”, lamentou.

Após a fala do senador, Nobre observou que o Inpe já se prepara para ampliar o monitoramento da cobertura vegetal de todos os biomas do país, e não apenas da Amazônia, em um trabalho que envolverá diversas instituições públicas, a exemplo da Embrapa.

Também presente na audiência, a senadora Marina Silva (PV-AC) saudou a exposição de Nobre e salientou que, neste momento, “não há nada mais grave do que manter um velho padrão de desenvolvimento”.

Nobre enfatizou ainda que o país também precisa adotar algum mecanismo de compensação ambiental pela emissão de gás carbônico resultante da exploração do pré-sal. “A Petrobras vem se preparando há mais de dez anos junto com outras petrolíferas no sentido de diminuir suas emissões na exploração de petróleo. O setor técnico da Petrobras é responsável por esses experimentos”, afirmou o cientista.

Ainda durante a audiência pública, também foi aprovado requerimento que convida o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a falar na comissão sobre o Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas, em data a ser definida.