Doutora em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Monica Andersen é atualmente Professora Adjunta da disciplina de Medicina e Biologia do Sono do Departamento de Psicobiologia daquela universidade. Foi uma das vencedoras do Prêmio Para Mulheres na Ciência 2007, concedido pela LOréal, Academia Brasileira de Ciências e Unesco, com sua pesquisa sobre privação de sono. Colaboradora do Prof. Sérgio Tufik nesta pesquisa, publicaram artigo nos últimos Anais da ABC, de setembro de 2009, uma edição dos especial sobre os 75 anos da Unifesp que vem tendo grande repercussão.

A pesquisadora aborda os debates recentes sobre a necessidade diária de sono do homem moderno, tema que tem sido alvo de muitos estudos. Ela diz que, embora o sono ocupe aproximadamente um terço do nosso tempo de vida, é cada vez maior o tempo que passamos acordados atualmente. A prevalência dos distúrbios de sono, segundo Andersern, está aumentando nas sociedades modernas, uma vez que a exposição constante à luz artificial e as atividades interativas, como a televisão e a Internet, combinam-se com as pressões socioeconômicas que postulam uma sociedade de funcionamento integral de 24 horas. “Mesmo em nossas atividades particulares acabamos estendendo as atividades até tarde da noite, adentrando pelo nosso horário normal de descanso e de sono reparador”, aponta Monica, destacando que o entendimento global do impacto sobre a saúde e as condições clínicas em conseqüência da privação do sono permanece ainda amplamente desconhecido.

Monica explica que, uma vez que cada sistema orgânico possui um papel distinto e crítico na adaptação de mudanças ambientais contínuas e desafiadoras, torna-se fundamental a condução de estudos visando investigar a maneira pela qual esses sistemas são afetados pela perda do sono. No modo de vida atual, a maior parte da privação do sono em humanos ocorre na do sono REM, na segunda metade da noite. Essa fase do sono é um dos processos mais importantes do ponto de vista fisiológico e, portanto, não pode e não deve ser ignorado. Na literatura encontra-se documentada uma ampla variedade de efeitos negativos da privação do sono sobre o desempenho psicomotor e cognitivo, variações de humor, comportamentais e alterações cerebrais. Mas apresenta aspectos positivos, como efeito antidepressivo.

Se por um lado o sono regular é comumente tido como um estado livre de qualquer estresse, que deveria servir para recuperar o organismo dos eventos ocorridos durante o dia, a supressão do sono por períodos breves ou prolongados traz, indubitavelmente, algum estresse ao organismo. “Nossos estudos têm demonstrado que ratos machos privados de sono paradoxal apresentam aumento da liberação de glicocorticóides e progesterona, e que o hormônio sexual masculino, a testosterona, fica significativamente reduzida”, conta a pesquisadora, o que altera seu comportamento sexual.

Em especial nas últimas décadas, o estresse vem fazendo parte do nosso cotidiano. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, o estresse afeta mais de 90% da população mundial e é considerado uma epidemia global que não mostra sua verdadeira fisionomia. Na verdade, nem sequer é uma doença em si: é um quadro de distúrbios físicos e emocionais provocado por diferentes tipos de fatores que alteram o equilíbrio interno do organismo, incluindo alterações comportamentais, endócrinas e imunológicas. “O organismo tem um repertório considerável para lidar com o estresse agudo, caso ele não ocorra com muita freqüência. No entanto, quando essa condição se torna repetitiva ou crônica, seus efeitos se multiplicam em cascata, causando sérios desgastes”, avalia Monica Andersen.