Um grupo de sete notáveis da USP lançou um manifesto em que cobra alterações estruturais na universidade e exorta professores a participarem mais do processo de sucessão reitoral, que se inicia agora.

Assinam o documento, intitulado A USP precisa mudar, os seguintes professores: Adalberto Fazzio, do Instituto de Física; Glauco A. Truzzi Arbix, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas; Hernan Chaimovich Guralnik, do Instituto de Química; Jorge Elias Kalil Filho, da Faculdade de Medicina; Marco Antonio Zago, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; Renato Janine Ribeiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas; e Vahan Agopyan, da Escola Politécnica.

O manifesto aponta a necessidade de a USP se modernizar sem perder suas “tradições de qualidade”. “As mudanças implicam fortalecer os critérios de qualidade em todas as suas ações e mecanismos de gestão, a começar pela escolha de seu próprio reitor, favorecendo o predomínio da academia sobre os interesses menores. Isso exige subordinar os procedimentos burocráticos e de gestão às atividades-fim, despindo-os dos seus componentes ritualísticos e cartoriais”, diz o texto.

O movimento surge pouco depois de uma greve seguida de ocupação do campus de São Paulo pela Polícia Militar (a pedido da reitoria) que lançou a USP numa espécie de crise de identidade. O subproduto positivo do episódio é que ganharam maior evidência discussões existenciais sobre o papel da universidade, que vão desde a legitimidade das associações sindicais até a forma de eleição para reitor, passando por questões estratégicas como excelência acadêmica e avaliação.

O grupo considera que o processo eleitoral, previsto para terminar em outubro, é uma excelente oportunidade para melhorar o nível do debate, levando os candidatos a posicionar-se sobre os mais variados temas e definindo quais são os consensos que estão além de candidaturas individuais.

Em relação especificamente à escolha do reitor, o movimento defende a eliminação do colégio eleitoral do segundo turno, do qual participam apenas 256 professores muito próximos da reitoria. “O processo atual é altamente insatisfatório”, diz Marco Antonio Zago, um dos articuladores do movimento. A alternativa proposta é o colégio eleitoral do primeiro turno, com 1.200 ou 1.300 membros, ou uma versão ainda mais ampliada.

O texto pede que uma nova forma de escolha seja efetivada já no primeiro ano da próxima gestão, para funcionar na eleição subsequente à deste ano.

Renato Janine Ribeiro, outro dos organizadores, enfatiza a questão da qualidade. “Muito do debate se tem centrado na forma de escolher o reitor, que é muito importante, mas é apenas um meio. O fim é o aumento da qualidade, o enfrentamento do que chamamos de déficits e o aproveitamento do que chamamos de oportunidades”, afirma o professor.

O grupo insiste fortemente na necessidade de reforçar os mecanismos de avaliação como forma de garantir a excelência acadêmica. “Não há um processo de avaliação forte, permanente e profundo. E o pouco que há é sempre visto como algo para prejudicar, punir e perseguir”, lamenta Zago.

Um dos problemas graves apontados pelo movimento é o que os signatários chamam de “forças centrífugas que tendem a desagregar a USP”. Pesquisadores de mais sucesso acabam se isolando e, através das fundações e outros mecanismos, batalham sozinhos por financiamento para seus projetos.

A ideia de universidade como “universitas” (o todo, o universo) perde o sentido, explica Ribeiro. Para ele, essa tendência pode ser combatida com mais liderança acadêmica, em especial de parte da reitoria, e com mais autonomia para as unidades. “O modelo da USP é muito centralizador”, queixa-se.

Outro alvo do movimento é a burocratização, que, nas palavras do documento “subordina o mérito ao rito”. É função da reitoria, diz o texto, “quebrar a estagnação”.

O documento também menciona a necessidade de a USP abrir-se mais para a sociedade, participando da solução de problemas e fornecendo os quadros necessários para enfrentá-los. Pede uma renovação do sistema de pós-graduação que aposte na interdisciplinaridade e em novas formas de articular grupos de pesquisa.