Dentro do Simpósio Como mudou nossa visão do mundo – Darwin e a Origem das Espécies, a Acadêmica Vera Lúcia Gaiesky, do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), fez sua apresentação na Reunião Magna da ABC sobre Darwin e a Revolução Molecular no gênero Drosophila.
“O que somos? Um organismo muito simples e o mais estudado do ponto de vista genético, a Drosophila, nos ajudou a responder essa questão”. Vera contou que foi na Fly Room da Universidade de Columbia na primeira década do século XX que mentes brilhantes como as de Morgan, Müller, Wilson, Bridges e Sturtevant, em atmosfera de forte estímulo intelectual, à luz das teorias de Darwin e Wallace. Usaram a Drosophila melanogaster como organismo experimental e interpretaram o nascente Mendelismo em termos da teoria cromossômica da herança.
Deste esforço, resultaram o clássico mecanismo de hereditariedade mendeliana (1915), a descoberta da herança ligada ao sexo (Morgan 1910) e a do efeito mutagênico das radiações (Müller 1927).
Com a vinda de Theodosius Dobjanski para o Brasil formou-se a primeira geração de geneticistas brasileiros, incluindo os Acadêmicos Crodowaldo Pavan, Antonio Cordeiro, Francisco Salzano, entre outros. “Eles começaram a utilizar outras espécies de Drosophila da nossa fauna neotropical, altamente distribuída da Flórida até a Argentina. Algumas das espécies tinham uma característica muito interessante, que eram seus cromossomas totalmente rearranjados, um genoma plástico em termos de reorganização de seu próprio cariótipo”, apontou Estudos dessa natureza deram reforço para a nova teoria sintética da evolução que estava surgindo, baseada em evidências da genética de populações.
Foi também com a Drosophila que foram descobertos os genes com homeobox – ou seja, uma região conservada de genes responsáveis por genes pelo estabelecimento dos planos corporais e de outros genes importantes para o desenvolvimento que renderam a Edward Lewis, Christiane Nüsslein-Volhard e a Erich Wieschaus, o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1995, demonstrando que as formas dos corpos animais tanto de uma mosca como dos seres humanos eram constituídas pelos mesmos genes, de acordo com o conceito de Darwin da origem das espécies.
A conservação evolutiva de várias outras famílias gênicas a partir dos genes de Drosophila levou ao que se conhece hoje como o kit de ferramentas genéticas para construção dos corpos dos animais, incluindo os seres humanos. As primeiras descobertas de que, apesar das grandes diferenças de aparência, fisiologia e complexidade, todos os animais -vermes, abelhas, moscas, dinossauros, borboletas, ursos, zebras e seres humanos – compartilham um kit comum de genes mestres que governam a formação de seu plano de corpo formaram a base para a compreensão do processo evolutivo atuando sobre o desenvolvimento e a diferenciação como nunca antes havia sido possível. “Há genes que determinam a formação de olhos, outros que formam corações, outros que formam patas ou pés e assim por diante”, esclareceu a Acadêmica.
Com o refinamento de métodos analíticos nas últimas décadas, Drosophila como gênero e não mais apenas a D. melanogaster, passou a ser estudado do ponto de vista molecular. Em 2001, foi publicado o seqüenciamento do genoma de Drosophila melanogaster e em 2007, os de outras onze espécies de Drosophila. “Hoje a Drosophila é modelo até para o estudo de doenças e do envelhecimento humano, pois os genes encontrados no genoma da Drosophila foram encontrados também no genoma humano”, explicou Vera Gaiesky.