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De: 3 de novembro de 2008

Até: 5 de novembro de 2008

A ABC promoveu workshop sobre doenças infecciosas, dentro do acordo Brasil-Índia firmado pelos respectivos Ministérios da C&T, representando os governos dos dois países. O evento ocorreu na sede da ABC, entre 3 e 5/11, e contou com 18 cientistas brasileiros e oito indianos discutindo a situação da Aids, tuberculose, lepra, malária e leishmaniose nos dois países.

O workshop foi aberto pelo presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Jacob Palis, que deu as boas-vindas aos participantes, especialmente aos cientistas indianos presentes, além de destacar a importância da cooperação Brasil-Índia. Em seguida os coordenadores do evento – o Prof. M.R.S. Rao (pelo lado indiano) e o Acadêmico Eloi S. Garcia(pelo lado brasileiro) – apresentaram a proposta da reunião. A idéia é que cada um dos grupos estabelecidos discutisse o “estado da arte” em seu país da Aids, tuberculose, lepra, malária e leishmaniose – doenças infecciosas cujo estudo foi definido como prioritário por ambos os países e aprovado na reunião Brasil-Índia realizada na ABC em 2006.

Dezoito cientistas brasileiros e oito pesquisadores indianos apresentaram suas conferências, e os grupos se reuniram no final de cada tarde para elaboração de um documento, atualizando as prioridades debatidas nos projetos definidos na reunião de janeiro de 2008 em Bangalore, na Índia.

O organizador brasileiro do evento, Eloi Garcia, considera que as doenças discutidas são de alta prevalência e altamente endêmicas nos dois países. Para ele, os pontos principais de discussão envolvem novos fármacos mais eficazes e mais baratos que possam controlar essas cinco doenças; novos métodos de diagnóstico mais rápidos e específicos para estas doenças e, em terceiro lugar, a possibilidade de desenvolvimento de vacinas.

“Este evento marca o início de um processo de cooperação. O Brasil e a Índia tem pouca cooperação científica, esse programa da ABC está criando uma movimentação no sentido de aproximação e crescimento da interação entre os dois países”, disse o Acadêmico Wanderley de Souza, que coordenou a área de malária e leishmaniose. Nessa área, foram definidos ao final da reunião quatro projetos conjuntos.

Para Eloi Garcia, esse se tornará um mega-projeto que envolverá não só o intercâmbio de pesquisadores como também o desenvolvimento de tecnologias. “A Índia é um país que está num nível de desenvolvimento científico muito parecido com o Brasil”.

O Acadêmico Manoel Barral-Neto avalia que os dois países têm apresentado uma expansão recente na atuação científica, apresentam algumas similaridades e, principalmente, algumas complementaridades na abordagem, o que pode ser bastante útil aproximar para estimular projetos em conjunto.

Para Barral-Netto, indianos e brasileiros são culturalmente muito diferentes, mas ao mesmo tempo são povos que não têm muita animosidade, o que torna a aproximação mais fácil. “O Brasil e a Índia têm uma série de doenças em comum, e nós decidimos começar a cooperação pelas doenças dos pobres. Temos muito que trocar”.

Wanderley de Souza explica que na reunião de 2006 foram identificados focos iniciais, o que levou à elaboração de um projeto e um levantamento dos recursos necessários. Ambos foram submetidos à reunião de cúpula Brasil-Índia e foram aprovados. “Hoje nós já temos um texto e recursos financeiros aprovados, de modo que essa segunda reunião já permite um planejamento mais efetivo para o início do ano que vem.”

Segundo Wanderley, alguns dos projetos aprovados neste encontro visam ao desenvolvimento de medicamentos para malária, leishmaniose e toxoplasmose. Outros três enfocam a área básica, visando a uma melhor compreensão de como é exercida a ação parasitária. O Acadêmico considerou o resultado do evento muito positivo e afirmou que em meados de março a Índia já estará recebendo um grupo de estudantes brasileiros no âmbito do projeto.

O grupo de leishmania, ao qual pertencia o Prof. Barral, apresentou idéias que ainda não foram publicadas. “Numa reunião deste tipo, a gente pode ver o que ainda está em andamento nos laboratórios. Isso permite que a colaboração comece nessa fase, o que possibilita propostas de projetos em conjunto. Se somarmos nossas competências, temos a chance de sermos mais competitivos internacionalmente”, explicou. Sendo o único grupo que ainda não tinha um projeto de pesquisa bilateral, decidiu elaborar um documento de imediato e enviá-lo, o mais rápido possível, a ABC e ao Department of Science and Technology (DST) da Índia.

O grupo de pesquisadores indianos informou que o DST já aprovou três projetos colaborativos: HIV/Aids, tuberculose e parasitologia (malária e leishmaniose) e está para avaliar o projeto sobre a investigação de lepra. No entanto, enfatizaram que os recursos financeiros indianos somente serão liberados quando o Brasil também aprovar os projetos solicitados pelos cientistas brasileiros.

A reunião foi elogiada por todos os participantes e apresentadores, que destacaram o alto nível científico dos debates ocorridos e principalmente o foco dado a cada uma das doenças. Na reunião de encerramento do workshop, os participantes manifestaram a importância da parceria Brasil-Índia e a relevância dos projetos colaborativos, totalmente diferentes aos dos outros programas já existentes no CNPq, que enfocam a relação pesquisador-pesquisador. O evento foi encerrado com a solicitação de todos os presentes para que a ABC continue se empenhando em somar esforços para conseguir financiamentos que possibilitem o prosseguimento dessa frutífera colaboração.

Workshop Brasil-Índia sobre Doenças Infecciosas