Confira o artigo escrito por Sérgio Rezende, membro titular da ABC, em parceria com os cientistas Adão Villaverde, Ricardo Reis e Sérgio Bampi para o Jornal GGN, publicado em 16/01:

Um circuito integrado (CI), também conhecido por chipconsiste de um conjunto de circuitos formados por dispositivos e componentes eletrônicos (transitores, diodos, resistores, etc) fabricados numa pequena pastilha de material semicondutor. Desde os primeiros CIs produzidos comercialmente no início dos anos 1960 até hoje a tecnologia evoluiu vertiginosamente, com a contínua diminuição do tamanho de suas nanoestruturas básicas. Isto possibilitou a existência de uma enorme variedade de chips, usados em telefones celulares, em todos os equipamentos eletrônicos domésticos, industriais, automóveis, tablets, computadores e tantos outros. Em uma visão macroeconômica, deve-se considerar que os chips são cada vez mais fundamentais para o sucesso de ecossistemas como agronegócio, transporte, medicina e saúde, aeroespacial e tantos outros.

Na América Latina, apenas o Brasil tem uma fábrica de chips, a CEITEC, empresa vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ela foi criada em 2008, no governo Lula, e está localizada em Porto Alegre, no eixo de seus ecossistemas científicos e inovativos, onde são formados engenheiros de microeletrônica e cientistas da computação de nível internacional. A empresa teve suas instalações básicas concluídas em 2010 e começou a produção parcial em 2012. Desde então, projetou e produziu CIs comerciais, com engenharia nacional e certificações internacionais no seu nicho de mercado, que se originaram de demandas do governo federal, como chips para cartões de bancos, passaportes, identificação de veículos etc. Entretanto, o governo não concretizou as compras previstas e a CEITEC teve que investir em produtos para o setor privado, conseguindo gradualmente ampliar se faturamento.

Nos últimos anos a CEITEC trabalhou para ampliar seu leque de produtos mais complexos e investiu mirando o longo prazo. Em 2021, empresa já tinha fabricado mais de 162 milhões de chips (http://www.ceitec-sa.com.br), vendidos somente para o setor privado, e estava próxima de atingir seu superavit, quando foi surpreendida por um decreto determinando sua liquidação. A iniciativa da liquidação foi do Ministério da Economia, com a justificativa que a empresa era deficitária. O MCTI, ao qual a empresa era vinculada, aceitou a intervenção pacificamente, sob o argumento que a CEITEC não faria falta pois haviam muitas outras fábricas de chips no país. 

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Felizmente, no início de 2022, o Tribunal de Contas da União sustou a liquidação da CEITEC, ao reconhecer o pioneirismo da empresa e a falta de justificativas técnicas robustas para a liquidação, além de detectar irregularidades nos procedimentos para avaliar a empresa que levaram à decisão sumaria do Ministério da Economia.