Não é nenhum mistério que a melhor forma de ensinar uma criança sobre a importância da preservação ambiental é pelo contato. Podemos ter mil explicações e conhecimento pleno dos fenômenos que sustentam a vida na Terra, mas, se não estimularmos os pequenos a admirar a beleza pura e simples da natureza, eles jamais desenvolverão a paixão necessária para defendê-la. 

Foi o que ocorreu com o engenheiro florestal Daniel Magnabosco Marra, novo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências. Mineiro de Uberaba, Daniel cresceu em Brasília junto com os quatro irmãos e muitos amigos, com quem compartilhou momentos e brincadeiras ao ar livre, principalmente sobre duas rodas. A bicicleta é um de seus primeiros amores e ele carregou esse hobby até a vida adulta. Viver na capital federal era bom, mas sempre que possível a família retomava suas origens mineiras, passando temporadas em sítios de parentes. 

Durante essas visitas, Daniel se encantava pela natureza e via despertar em si uma vocação para as ciências ambientais que, influenciado pelo irmão mais velho, fez questão de seguir. Dentre todos os organismos com os quais tinha contato, as árvores eram as que mais o fascinavam, em especial uma pela qual cultivou um forte apego. “Era uma jabuticabeira que meu avô Pedro tinha em seu quintal, uma árvore frondosa e produtiva na qual eu gostava de subir e passar a tarde inteira”, rememora.  

A vocação pelo estudo do meio ambiente se manifestava também na escola. Biologia, geografia, matemática e física sempre foram suas disciplinas preferidas, temas indispensáveis para qualquer cientista natural. Em 2001, Daniel ingressou no curso de engenharia florestal da Universidade de Brasília (UnB) e deu seus primeiros passos na academia. Antes de começar a iniciação científica, o novo Acadêmico aproveitou para acumular experiências das mais diversas: foi monitor de dendrologia (especialidade da botânica dedicada à análise das plantas lenhosas, especialmente as que são relevantes para a economia),  estagiou na Embrapa e até fez intercâmbio na Universidade de Barcelona. “Participei ativamente de atividades acadêmicas e políticas durante a graduação, o que foi crucial para complementar a minha formação profissional”, relatou. 

Mas foi quando voltou da Espanha que Daniel encontrou o caminho que seguiria na ciência. Sob orientação da professora Jeanine Maria Felfili, uma de suas maiores inspirações científicas, escreveu sua monografia sobre regeneração ambiental de florestas. O trabalho lhe abriu novas portas, e Daniel se mudou para Manaus para cursar mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), onde foi orientado pelos professores Niro Higuchi (membro titular da ABC) e Joaquim dos Santos. Durante esse tempo ele continuou estudando sobre sucessão ambiental, mas dessa vez na maior floresta tropical do planeta. “Além de conhecer a Amazônia, adquiri vasta experiência profissional e acadêmica, e pude interagir com pesquisadores internacionais renomados”. 

Antes de ingressar no doutorado, Daniel passou um ano atuando como pesquisador assistente em um projeto de pesquisa da Universidade de Tulane, EUA. Depois, seguiu para a Alemanha, onde fez doutorado na Universidade de Leipzig (UL) e a Escola Internacional de Pesquisas em Ciclos Biogeoquímicos Globais do Instituto Max-Planck para Biogeoquímica (MPI-BGC). Nesse período teve como orientadores os professores Christian Wirth e Susan Trumbore, e manteve contato com seus colaboradores no Brasil para continuar pesquisando a Amazônia. Ele avalia que essa foi uma empreitada intensa, com muitas idas e vindas, que só foi possível graças à colaboração entre as instituições alemãs e o próprio Inpa. 

Daniel Marra é pesquisador do Instituto Max-Planck para Biogeoquímica (Jena, Alemanha), pesquisador associado ao Laboratório de Manejo Florestal (LMF/INPA) e professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências de Florestas Tropicais (PPG-CFT/INPA). Dedicou durante toda a carreira ao estudo da preservação florestal. Em particular, como a influência do homem e de eventos climáticos extremos contribuem para a perda de árvores, afetando a estrutura do ecossistema e sua biodiversidade. Para ele, o objetivo último de suas pesquisas é consolidar o manejo ambiental na Amazônia. “Sou movido pela curiosidade em entender a ecologia das florestas e a possibilidade de sistematizar tal conhecimento para garantir seu uso sustentável”, se descreve o novo Acadêmico. 

Quanto ao título de membro afiliado, Daniel Marra considera uma honra que faz valer todos os anos que dedicou à Amazônia. “Sem ciência não será possível desenvolver a região Norte”, apontou, acrescentando que a categoria de afiliados é um grande incentivo aos jovens pesquisadores. “Agradeço à Academia pela oportunidade de compor este seleto time de cientistas brasileiros, obrigado!”, finalizou.