Filho de um mecânico e uma dona de casa, Bruno Ricardo de Carvalho nasceu em 1989, em Cuiabá, capital do estado do Mato Grosso. Foi o primogênito e tem duas irmãs, sempre com seis anos de diferença entre cada filho. Ele conta que era muito apegado à família, mas que amava brincar na rua com os amigos do bairro, de jogar bola, pega-pega, e com o tempo aprendeu a jogar xadrez e dominó, além de videogame. No colégio, sempre teve mais facilidade com as matérias de exatas, sobretudo matemática e física. Muito curioso, prestava atenção em coisas básicas do cotidiano que despertavam seu interesse e sempre faia perguntas como “Como funciona a televisão?” ou “Porque o arco-íris é do jeito que é?”.  

Na época do vestibular, Bruno tinha a medicina em vista, mas por algum motivo acabou colocando física no formulário de inscrição. “Foi a minha sorte, pois me encontrei na profissão. E virei doutor, de qualquer forma”, brinca. Deu início, em 2007, à graduação em física pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e, desde o começo, já tinha interesse em participar de algum projeto, fosse tutoria, monitoria ou iniciação científica. “Tive a oportunidade de realizar iniciação científica e assim continuei até a conclusão do curso”, relata. 

No segundo ano de faculdade, o professor Jorge Luiz Brito de Faria lhe ofereceu uma vaga em seu laboratório para realizar iniciação científica. “Com a bolsa pude me dedicar integralmente aos estudos. Fui aluno de iniciação científica até o final do curso, durante três anos”, relata Bruno. Ele diz que o curso de graduação não foi nada fácil, mesmo com muita dedicação. “Mas valeu a pena.” 

Foi na graduação, também, que Bruno Carvalho teve seu primeiro contato com o mundo da pesquisa. Apesar do Departamento de Física da UFMT não ter, na época, equipamentos para o desenvolvimento de física experimental, ele desenvolveu sua pesquisa na linha de simulações computacionais, publicou artigos e participou de congressos, dando início à vida de pesquisador. Após formar-se, em 2010, decidiu que não pararia por ali. “Durante o meu último ano de graduação busquei diferentes instituições para realizar uma pós-graduação, fui aprovado para realizar o mestrado em outras universidades, mas acabei ficando na UFMT por questões familiares”, afirma.  

Iniciou, então, no ano seguinte, o mestrado em física na UFMT. Carvalho relata ter sido um período de muito aprendizado, pois sempre se perguntou se havia alguma forma de verificar o que ele simulava experimentalmente. Foi aí que tomou conhecimento da pesquisa do Acadêmico Marcos A. Pimenta, no estudo de grafeno por espectroscopia Raman ressonante. Por isso decidiu ir para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2012, para um curso na Escola de Altos Estudos da Capes sobre grafeno. “Este curso abriu a minha mente para o que realmente era pesquisa científica, algo difícil de se ter noção na universidade que me encontrava. Isso, sem dúvida alguma, mudou a minha carreira científica”, declara. 

Ele lembra que em uma das aulas do curso, olhou para o lado e avistou outro professor assistindo às aulas, participando e tomando notas também. Era o professor Marcos A. Pimenta. “Me recordo até hoje que quando me encontrei com o professor Pimenta em sala, ele estabeleceu três condições para ser meu orientador de  doutorado: que eu fosse aprovado na seleção, que eu falasse inglês e que eu soubesse tocar violão”, relembra. Carvalho retornou para Cuiabá extremamente motivado e iniciou os estudos em inglês e para a prova de doutorado. “Em 2013 ingressei no Programa de Doutorado em Física na UFMG sob a orientação do prof. Marcos e havia cumprido as duas primeiras condições; a terceira ainda estou cumprindo”, brinca. 

No doutorado, Carvalho conta que aprendeu que para fazer ciência, além de uma postura sistemática, são necessárias uma mente aberta, uma postura crítica e horas no laboratório. “Percebi a importância de se trabalhar em regime de colaboração e como um trabalho fica mais robusto e elegante quando existem pessoas de pontos de vista distintos trabalhando em conjunto”, destaca.  

Seus estudos das propriedades eletrônicas vibracionais de materiais bidimensionais foram o principal assunto da sua tese de doutorado. “Este era um tópico aberto por mais de 30 anos na comunidade científica e fomos capazes de propor uma explicação”, ressalta o pesquisador. Os resultados de seus estudos foram apresentados em diversos eventos nacionais e internacionais, além de terem sido publicados na Physical Review Letters e na Nature Communications

Em 2015, Carvalho mudou-se para os Estados Unidos, para realizar um estágio de doutorado- sanduíche na Pennsylvania State University (PSU), sob a orientação do professor Mauricio Terrones. Seu principal objetivo era a produção de diversos materiais bidimensionais, mas participou também de outros projetos de pesquisas. Ele contribuiu de forma significativa para quatro publicações em revistas de alto nível científico, sendo que duas foram publicadas na Science Advances e ganharam repercussão em inúmeros sites internacionais de divulgação científica. 

No último ano do doutorado, Carvalho retornou ao Brasil e focou na preparação da tese e de artigos científicos, bem como outros projetos. Pelo momento delicado em que o Brasil se encontrava em 2016, não houve edital para bolsa de pós-doutoramento no exterior. Porém, neste mesmo ano, houve a abertura de um concurso público no Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no qual foi aprovado e onde se encontra atualmente.  

Suas pesquisas envolvem o estudo das propriedades ópticas em materiais e se destinam a entender como nanomateriais se comportam quando são irradiados por um feixe de luz, área conhecida como espectroscopia óptica – o espalhamento da luz ao interagir com a matéria, neste caso, os nanomateriais. “Através de certas técnicas de espectroscopia óptica, obtenho o comportamento dos elétrons e de vibrações atômicas nesses materiais. O entendimento destas propriedades eletrônicas e vibracionais são essenciais para compreender a física fundamental desses nanomateriais e suas aplicações em nanotecnologia”, explica. Além disso, as aplicações se estendem para dispositivos ópticos, eletrônicos e sensores.  

Como reconhecimento de seu trabalho, Carvalho recebeu diversos prêmios, dentre eles o Prêmio Sociedade Brasileira de Física (SBF) de Tese de Doutorado 2016/2017 na área de matéria condensada e materiais; a Menção Honorífica do Prêmio José Leite Lopes de Melhor Tese de Doutoramento de 2016- 2017, também pela SBF; o Prêmio Capes de Tese 2018 da área de astronomia/física; e o Prêmio UFMG de Teses 2018, conferido à melhor tese do Programa de Pós-Graduação em Física.  

Carvalho se encanta pelo fato da ciência permitir questionamentos. “É importante ter a mente aberta para qualquer tipo de pergunta e saber que nem sempre é possível ter uma explicação lógica para o funcionamento de algumas coisas. Sou físico experimental e sempre me pergunto: por que estou vendo isso? Por que é assim? Isso acaba levando a outras questões”, expressa. 

Para Bruno Carvalho, ser membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) significa o reconhecimento como pesquisador, num país que não tem valorizado a ciência.  “Saber que eu, um jovem pesquisador, faço parte da ABC, que se empenha em fortalecer e expandir a ciência em nosso país, é muito gratificante e motivador. Espero poder contribuir com isso e fazer um pouco de diferença nesse meio”, destaca. 

O Acadêmico conta ter um estilo de vida bem simples e ser uma pessoa caseira, que gosta de ficar em casa assistindo séries, filmes ou lendo. Porém, também gosta de viajar e conta já ter tido a oportunidade de conhecer alguns países, por sua atração pelas diferenças culturais de cada lugar. “Música não pode faltar. Seja em casa ou no carro, é algo que sempre me anima e faz parte do meu cotidiano.” Também aprendeu a tocar violão na adolescência, o que lhe ajudou a entrar no doutorado. “Mas não é nada profissional, só arranho mesmo…”