Nascida em 1983, Grace Silva Deaecto passou a infância e adolescência em Guarulhos, de onde só saiu para iniciar a graduação em engenharia elétrica no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Ilha Solteira, no interior do estado. Filha de um mecânico de automóveis e de uma dona de casa, com um meio-irmão por parte de mãe e uma meia-irmã por parte de pai, a caçula se dedicou muito aos estudos. Aluna de colégio público e sempre muito incentivada pela mãe, Grace conta que sua maior motivação era traçar um futuro diferente para sua família.

A paixão pelos números não é de hoje: desde o colégio, a matéria favorita da Acadêmica era matemática. Ela contou que, o que mais a fascinava era a possibilidade de “traduzir os problemas do dia a dia em equações simples e ver como a matemática pode nos ajudar a tomar decisões”. Quando não estava imersa em números e equações, Grace gostava de brincadeiras ao ar livre, como pega-pega e esconde-esconde, e também das férias com o pai em represas próximas de São Paulo.

Além da facilidade com números e da paixão pela matemática, outro fator foi determinante para que Grace seguisse na carreira de engenheira: o desejo de ultrapassar barreiras. Ela queria mostrar que mulheres podem ter sucesso na engenharia e em qualquer área que quiserem.

Grace fez iniciação científica desde o início da graduação. A primeira delas foi na área de física da matéria condensada, um campo que ela considera muito interessante por exigir conhecimentos de programação computacional. A ideia era simular computacionalmente a estrutura de uma blenda polimérica (uma espécie de mistura mecânica de diferentes polímeros, em que, na maioria dos casos, não há reação química entre eles) e acrescentar o cálculo da condutividade elétrica, para entender como ocorre a condução nesse material. Em seguida, ela fez uma iniciação científica na área de teoria de controle – linha de estudos que a encantou e na qual ela permanece desde então. Seu primeiro projeto na área foi analisar, via simulação numérica, o desempenho de estratégias de controle projetadas para várias classes de sistemas dinâmicos. O objetivo era ter contato com os temas de pesquisa do orientador e escolher um deles para um futuro mestrado.

Ela concluiu o mestrado em 2007 e o doutorado em 2010, ambos na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Grace Deaecto foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) tanto no mestrado quanto no doutorado, e ambas as pesquisas tiveram o foco na análise e controle de sistemas dinâmicos com comutação. Durante o ano de 2011, realizou pós-doutorado no Centre de Recherche en Automatique de Nancy (CRAN), França, onde também participou de um projeto conjunto entre o laboratório CRAN e a empresa de aço Arcelor Mittal.

Grace Deaecto é pesquisadora do CNPq desde 2016, atualmente no nível 1D.

Na área de teoria de controle, o que fascina Grace é a sua abrangência e interdisciplinaridade. “De maneira bastante genérica, podemos traduzir esta teoria como o desenvolvimento da capacidade de modelar matematicamente para compreender e determinar uma ação que faça um sistema dinâmico operar em condições desejadas”, explica a cientista. Junto com os seus orientandos, se dedica ao estudo de sistemas dinâmicos com comutação, que têm grande aplicabilidade na área de eletrônica de potência, por exemplo, na regulação da tensão de saída de conversores e no controle de trajetórias de máquinas elétricas, como as máquinas síncronas de ímã permanente. “Com uma estratégia de controle desenvolvida para um modelo mais geral é possível obter um desempenho melhor e estudar fenômenos que até então foram abordados somente de maneira empírica.”

Seu currículo também inclui uma coautoria do livro “Análise Linear de Sinais: Teoria, Ensaios Práticos e Exercícios”, publicado pela Editora Blücher, em 2019, e a participação na diretoria da Sociedade Brasileira de Automática no período 2019-2021, na função de secretária de relações institucionais.

A cientista confessou estar muito empolgada com a oportunidade de fazer parte da ABC, principalmente pelo fato de ser uma jovem pesquisadora. “A maior importância da Academia é valorizar as pesquisas desenvolvidas em nosso país, além de defender a nossa ciência em todas as instâncias em que isso se tornou necessário”. Ela destacou a necessidade de uma maior representatividade feminina na ciência, e mencionou a política de paridade de gênero na ABC como uma atitude modelo para outras instituições científicas. “A baixa representatividade das mulheres em todas as áreas é reflexo de uma menor valorização do seu trabalho na sociedade. Aquelas que conseguem o espaço precisam ocupá-lo com responsabilidade e com o objetivo de abrir caminho e condições para a valorização das demais. Só assim, no futuro, teremos uma participação igualitária, mais justa e coerente entre homens e mulheres.”

Fora a ciência, um dos maiores prazeres da Acadêmica é viajar. Com o nascimento da filha Victória, em fevereiro de 2020, apresentar e redescobrir o mundo se tornou uma atividade ainda mais empolgante para Grace Deaecto, em ótima companhia.