No dia 10 de agosto aconteceu o quinto dia do InnSciD SP + TWAS 2021. O evento é uma parceria entre a Escola de Diplomacia de Inovação e Ciência de São Paulo (InnSciD SP) da USP e Academia Mundial de Ciências para o avanço da ciência nos países em desenvolvimento (TWAS).  

Como parte das atividades, foi realizado um painel com o tema “Lições sendo aprendidas com a pandemia da Covid-19: a importância das colaborações internacionais”. O painel contou com a participação dos membros titulares da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Nísia Trindade (Fiocruz) e Mauro Teixeira (UFMG), além do epidemiologista Salim Abdool Karim (Universidade de Columbia). A mediação ficou por conta do jornalista de ciência Herton Escobar, atualmente no Jornal da USP. 

Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz

A primeira apresentação ficou a cargo de Nísia Trindade, presidente da Fundação Oswaldo Cruz, que apresentou um pouco das contribuições da instituição no combate à pandemia. A Fiocruz foi designada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como laboratório de referência para COVID-19 na América Latina e está desempenhando papel crucial na imunização dos brasileiros. A parceria com a farmacêutica AstraZeneca, para produzir no país a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, é um grande exemplo de cooperação científica internacional. Além disso, a Fundação também conta com um escritório em Moçambique, que articula colaborações em saúde com países africanos. 

O epidemiologista sul-africano Salim Abdool Karim, que também trabalhou no enfrentamento da epidemia de HIV, fez um comparativo entre as respostas da comunidade científica internacional nos combates a AIDS e a COVID-19. Para ele, a velocidade com que foram obtidas respostas para o novo coronavírus desde sua descoberta – 11 dias para o primeiro sequenciamento, nove meses para a primeira vacina – se deve não apenas aos avanços tecnológicos das últimas décadas, mas a uma maior coordenação internacional das instituições de pesquisa. 

Karim alertou também para a desigualdade na imunização global, citando a estocagem inicial de vacinas por parte de países ricos. Ele deu o exemplo da Parceria para Manufatura de Vacinas Africanas (PAVM, da sigla em inglês) como uma colaboração internacional que visa sobrepor essas iniquidades e acelerar a imunização do continente. A iniciativa já conta com um financiamento de €1.2 bilhões da União Europeia. “Nenhum país estará seguro enquanto todos os países não estiverem seguros” concluiu. 

Mauro Martins Teixeira, UFMG

O último a apresentar foi o médico Mauro Teixeira, vice-presidente da ABC para a Região Minas Gerais e Centro-Oeste, que destacou a importância da cooperação internacional na produção de novas drogas. Segundo ele, o estabelecimento de redes internacionais é crucial para acelerar o desenvolvimento científico e para isso é necessário investimento contínuo, sobretudo em países emergentes. “Infraestrutura existente, pessoal qualificado, tudo isso é necessário para garantir simetria colaborativa, mas para tanto os investimentos em ciência e tecnologia devem ser perenes”, alertou. 

Debate 

Durante as discussões, o mediador questionou os participantes sobre o papel exercido pela OMS durante a pandemia. Os três convidados comentaram os erros e acertos da entidade, mas salientando que sem ela as desigualdades poderiam ser ainda piores. “A OMS tentou uma abordagem visando a equidade na imunização, mas o mundo distribuiu vacinas de acordo com as forças de mercado. Não existiu uma estrutura de coordenação central”, alertou Salim. 

Teixeira avaliou que a pandemia veio em um momento complicado, em que governos das principais potências mundiais adotavam uma posição contrária a colaboração internacional. “Acredito que se a OMS tivesse contado com esse apoio, a pandemia poderia ter sido menor”, afirmou. 

Quanto ao funcionamento da diplomacia internacional, os participantes acreditam que a comunidade científica cumpriu sua parte, mas que faltou suporte político e financeiro em alguns países.  

Respondendo a um ouvinte sobre o legado que a pandemia deixa para o combate de outras doenças, Salim exemplificou com os avanços conquistados em tecnologias de imunizantes, citando o caso do laboratório alemão BioNTech que já trabalha em uma vacina para malária. 

Por fim, os participantes voltaram a enfatizar a necessidade de colaboração. “A cooperação internacional deve ser baseada não apenas na solidariedade, mas na interdependência entre os países”, sumarizou Nísia. 

Assista ao painel na íntegra pelo canal da InnSciD SP no YouTube. 


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