Estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Farmacologia da Inflamação e do Câncer (LAFICA), da Faculdade de Medicina da Universidade do Ceará, foi anunciado como vencedor na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, da 12ª edição do Prêmio Octávio Frias de Oliveira. A cerimônia de premiação ocorreu na tarde dessa quinta-feira (5), com transmissão simultânea pelo site da Folha de São Paulo e pelo canal do periódico no YouTube.

O resultado havia sido divulgado no último domingo (1º) na edição impressa e no site do jornal. O prêmio é oferecido anualmente pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e pelo Grupo Folha a iniciativas de entidades e cientistas brasileiros na prevenção e no combate ao câncer. Por conta da pandemia de covid-19, a cerimônia adotou o formato virtual.

A pesquisa premiada é fruto da tese de doutorado, concluída em 2019, de Camila Meirelles de Souza Silva, do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da UFC. O trabalho, sob a orientação do Prof. Roberto César Lima Júnior, [membro afiliado da ABC eleito para o período 2019-2023], desenvolveu uma nova técnica para diagnóstico precoce do câncer colorretal por meio de microRNAs presentes no sangue humano. Os microRNAs atuam como impressões digitais na detecção da doença de modo não invasivo, facilitando assim o acesso ao diagnóstico, diminuindo o custo dos exames e aumentando as possibilidades de cura. A concentração dessas substâncias no sangue também possui potencial para diagnóstico de tumores em estágio inicial nas mamas, no estômago e nos pulmões.

Orgulho

Natural de Petrolina (PE), Camila Meirelles enfatizou a dupla representatividade como mulher e como nordestina ao receber o Prêmio Octávio Frias de Oliveira. Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), com mestrado e doutorado em Farmacologia pela UFC, Camila evidenciou que um fator decisivo para essa conquista foi a interiorização do ensino superior público, um processo muito recente no Norte e Nordeste do País. Além dela, a Profª Patrícia Chakur Brum, da Universidade de São Paulo (USP), foi laureada na categoria Pesquisa em Oncologia.

Meirelles explicou que, no contexto brasileiro, o câncer colorretal é o segundo tipo de câncer com maior incidência, ou maior número de novos casos, e o terceiro em mortalidade. O estudo realizado pela equipe do LAFICA pretende agregar à colonoscopia, exame padrão-ouro para detectar o câncer colorretal, que possui uma fila de espera de um ano, em média. Ao fim de sua fala na cerimônia de premiação, ela manifestou a intenção de seguir nos estudos e o desejo de se tornar pesquisadora e professora universitária no Brasil.

“Esse prêmio serve para mostrar que há ciência de qualidade sendo feita no Brasil, e o que a gente precisa é de investimento. Hoje, no estado atual de tanto negacionismo relacionado à ciência e à educação, eu falo com você que está assistindo: apoie a ciência, apoie a educação. A pandemia está aí para mostrar. Não há atalhos para prevenção, tratamento ou diagnóstico de uma doença. Há muita ciência por trás disso, e é necessário um investimento regular”, pontuou Camila Meirelles.

Fonte

O artigo “Circulating let-7e-5p, miR-106a-5p, miR-28-3p, and miR-542-5p as a promising microRNA signature for the detection of colorectal cancer” (“let-7e-5p, miR-106a-5p, miR-28-3p e miR-542-5p plasmáticos como uma assinatura de microRNA promissora para a detecção de câncer colorretal”, em tradução para o português), que teve Camila Meirelles como autora principal, foi publicado na conceituada revista Cancers, de fator de impacto 6.639, e está disponível gratuitamente para leitura on-line (em inglês).

O estudo teve colaboração de médicos e pesquisadores do Hospital Haroldo Juaçaba, que faz parte do Instituto do Câncer do Ceará, do Hospital Universitário Walter Cantídio e do Hospital Geral César Cals, em Fortaleza (CE); do A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo (SP), além de uma parceria internacional com a Universidade do Sul da Dinamarca (SDU, Southern Denmark University). A pesquisa foi viabilizada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS), com investimentos voltados para o sistema público de saúde.

Memória

Segundo o orientador da pesquisa, Prof. Roberto César Lima Júnior, condecorações como essa celebram o legado deixado pelo saudoso Prof. Ronaldo de Albuquerque Ribeiro (1956-2015), fundador do LAFICA, formador de gerações de oncologistas no Ceará e liderança nessa linha de pesquisa oncológica na UFC. Lima ressalta ainda que o reconhecimento advindo do Prêmio Octávio Frias de Oliveira abre “uma avenida de visibilidade”, pois, entre os concorrentes, havia 42 artigos científicos produzidos por centros de pesquisa brasileiros de destaque nacional e internacional.

“Um ponto de grande relevância é a categoria de inovação tecnológica em oncologia, na qual esse trabalho concorreu. Isso ilustra o potencial aplicado da pesquisa ora desenvolvida, amplificando a visibilidade do que é produzido na UFC. Ao se verificar que o câncer está entre as doenças que mais levam pacientes ao óbito, trabalhar para evitar esse desfecho desfavorável traz muita satisfação, e esse prêmio ressalta isso”, avalia o Prof. Roberto César.

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