Nesta quinta-feira (5/8) ocorreu o segundo dia de atividades da InnSciD SP + TWAS 2021. O evento é uma parceria entre a Escola de Diplomacia de Inovação e Ciência de São Paulo (InnSciD SP) da USP e Academia Mundial de Ciências para o avanço da ciência nos países em desenvolvimento (TWAS). O tema central das discussões é a diplomacia científica e como as relações internacionais moldam o desenvolvimento de pesquisa e inovação. 

A pandemia da COVID-19 trouxe a prática científica para o centro das discussões e deixou claro que a cooperação entre países é crucial para obter melhores resultados em um curto espaço de tempo. O workshop foi idealizado com o intuito de estabelecer o conceito de diplomacia científica e discutir os principais problemas enfrentados pela área.  

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) participou ativamente da organização do evento ao lado da TWAS. Esta segunda manhã de apresentações contou com alguns membros da ABC. 

Dimensão internacional das políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação 

Luiz Davidovich, presidente da ABC

Iniciando o dia de palestras, o presidente da ABC e secretário-geral da TWAS Luiz Davidovich conceitualizou a diplomacia científica como a atuação conjunta da comunidade internacional para a produção de conhecimento. Ele explicou que a ciência oferece valores universais, que podem servir para aproximar diferentes culturas e que os principais desafios da humanidade atualmente dependem de respostas científicas e internacionais. “Problemas em um país se tornam rapidamente globais”, apontou Davidovich, falando sobre o novo coronavírus. 

Vivemos em um mundo desigual e as inequidades tendem a se refletir nas diferentes áreas da ciência e tecnologia. O acesso à saúde, água, comida, energia elétrica, bem como outras necessidades básicas exibe um padrão muito claro de distribuição que está relacionado ao grau de desenvolvimento científico. Para superar esse ciclo vicioso de desigualdade é preciso colaboração, e nesse ponto foi enfatizado o papel de organizações internacionais e, particularmente, das Nações Unidas. Davidovich destacou que “países não investem em ciência porque são ricos, mas são ricos porque investem em ciência”. 

O palestrante apresentou exemplos de cooperação internacional e diplomacia científica em ação. “O Tratado Antártico é talvez o mais emblemático, onde todos os países que reclamavam territórios no continente se comprometeram a ocupar suas posses com expedições científicas, ao mesmo tempo que estabeleceram acordos de paz e não militarização”, apontou Davidovich. Existem diversos outros casos que atravessam fronteiras e, muitas vezes, antagonismos históricos, e mostram como a ciência pode servir de base para a diplomacia em seus diversos aspectos. 

Durante as perguntas do público, os temas discutidos foram aprofundados e algumas questões objetivas foram citadas como empecilhos para uma maior equidade científica. “As publicações científicas são um exemplo prático: o preço para se publicar em uma revista de ponta é proibitivo para países em desenvolvimento, o que leva a uma literatura enviesada para a ciência feita nos grandes centros”, argumentou Davidovich. 

Circulação de cérebros: a importância e os desafios da mobilidade científica 

Elisa Pereira Reis, membro titular da ABC

A segunda atividade do dia tratou da mobilidade científica. O tema foi abordado a partir do problema da fuga de cérebros, que tende a contribuir ainda mais para a desigualdade entre os grandes centros e as periferias da ciência. 

O painel contou com a participação da socióloga Elisa Pereira Reis, membro titular da ABC, que analisou a perda de cientistas para países desenvolvidos como um fenômeno antigo e cujas consequências foram mitigadas com a hiper conectividade do mundo moderno. “Antes, um pesquisador que emigrava tendia a perder contato com a comunidade científica local; porém, com o novo cenário tecnológico, cada vez mais essa relação é mantida e esses cientistas se tornam pontes entre seu país de origem e os grandes centros”, completou a Acadêmica.

A fala da pesquisadora foi toda no sentido de promover o intercâmbio científico e de reforçar laços entre os países. Elisa Reis salientou que “a comunidade científica deve transcender fronteiras e os países que se beneficiam da chegada de cérebros devem também agir por isso, encorajando que mais cientistas busquem trabalhar em países emergentes”. Reis observou que, no entatno, “para obter resultados consistentes a diplomacia científica depende não apenas de pessoas, mas de instituições”. 

Também participaram do evento a professora Ana Maria Carneiro, do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas da Unicamp (NEPP/Unicamp), que ofereceu uma conceitualização e um panorama histórico do problema; e Slaven Misljensevic, membro da Comissão Europeia para elaboração de políticas públicas, que trouxe um pouco da experiência da União Europeia com a mobilidade científica dentro do continente. 

O tema da mobilidade científica foi debatido e estudantes de diversas partes do mundo tiveram a oportunidade de ponderar sobre as razões e consequências da emigração de cérebros. Por fim, Elisa Reis destacou o que acredita ser o foco das discussões: “o desafio da diplomacia científica é convencer países que a ciência é um bem coletivo”. 

O InnSciD SP – TWAS 2021 continua até o dia 13 de agosto com mais palestras e discussões sobre a diplomacia científica. 

Alguns dos participantes do painel “Circulação de cérebros: importância e desafios para a mobilidade científica”

Leia todas as matérias da ABC sobre o evento:

Cerimônia de abertura do InnScid reúne cientistas em debate

Introdução à diplomacia científica

Diplomacia científica 2.0

Painel Science Diplomacy Trail abre a segunda semana do InnScid + TWAS 2021

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Cientistas planejam próximos passos na cerimônia de  encerramento do InnScid + TWAS 2021