Professora adjunta no Departamento de Oncologia Clínica e Experimental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde coordena o Programa de Pós-graduação em Hematologia e Oncologia, Clarissa Ribeiro Reily Rocha trabalha na identificação, análise e modulação de mecanismos de resistência à quimioterápicos em células tumorais humanas. Seus projetos de pesquisa envolvem o desenvolvimento e implementação de ferramentas moleculares específicas para tentar entender os mecanismos moleculares que as células de câncer usam para não responder as drogas antitumorais. 

Nascida em 1981, na pequena cidade de Antas, no sertão da Bahia, Clarissa teve uma infância com muita liberdade. Brincava na rua, de elástico, amarelinha e bola de gude. O pai era pecuarista e a mãe era professora do ensino fundamental. Os dois irmãos mais velhos, assim como ela, fizeram faculdade na área da saúde: farmácia e medicina.  

Seu processo de escolha de carreira, no entanto, não foi linear: cursou três anos da faculdade de direito, depois um ano de enfermagem e finalmente se encaminhou para o curso de Ciências Fundamentais para Saúde na Universidade de São Paulo (USP), voltado para a formação de cientistas na área biomédica.  

O curso era novo e Clarissa foi da segunda turma. Desde o primeiro semestre teve oportunidade de fazer iniciação científica em laboratórios do Instituto de Ciências Biomédicas. Assim, fez três estágios em áreas diversas: embriologia, biologia estrutural e reparo de DNA. Nesse período, vivenciou a rotina de laboratórios de pesquisa, os desafios e expectativas de se fazer ciência. “Essa experiência contribuiu de forma crucial para minha formação científica, uma vez que pude perceber como um mesmo problema pode ser abordado de maneiras muito diferentes e como cada área do conhecimento pode contribuir para resolvê-lo”, conta a Acadêmica. “Ali eu soube que queria fazer ciência para o resto da vida, e a melhor ciência possível.” 

Clarissa Reily Rocha desenvolveu sua tese de doutorado em biotecnologia sobre novas alternativas terapêuticas de tratamento quimioterápico contra diferentes tipos de câncer, sob supervisão do Acadêmico Carlos Menck. Nela, analisou mecanismos que determinam resistência à cisplatina e temozolomida (TMZ) em células de glioma e melanoma humano. Fez dois períodos de estágio durante o doutorado: um na Universidade de Buenos Aires, Argentina, e outro no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston, nos Estados Unidos. Ao final do seu doutorado, obtido em 2015, retornou ao MIT para continuar sua pesquisa como pós-doutora por um ano.   

A Acadêmica afirma que a descoberta de um processo biológico que pode gerar a solução de um problema de saúde é o que lhe traz encantamento com a ciência. E considera sua eleição como membro afiliado da ABC o reconhecimento de cientistas renomados à sua contribuição científica. “Mais do que isso, é uma aposta de que eu posso continuar a gerar conhecimento científico de qualidade, com impacto não só acadêmico, mas para a sociedade. Pretendo contribuir também para as discussões sobre política científica no Brasil”, diz Rocha.   

Fora da rotina do laboratório e sala de aula, Clarissa adora fazer trilhas em parques junto com seu marido, o físico Alexandre Reily Rocha, que foi afiliado das ABC entre 2008 e 2013, e suas duas filhas, Luísa e Beatriz, nascidas respectivamente durante o período da graduação e do doutorado da pesquisadora. “Acredito que as mulheres podem trazer contribuições diferenciadas e fundamentais para a ciência”, ressaltou a Acadêmica.