Alexandre Bruni-Cardoso nasceu em 1980, na cidade de Novo Horizonte, no estado de São Paulo. Sua mãe era manicure e, depois, trabalhou algum tempo como auxiliar de enfermagem. Seu pai é contador e, desde a década de 90, possui seu próprio escritório. Dentre os três filhos do casal, Alexandre é o filho do meio. Foi o primeiro da família a ingressar numa universidade e ter um diploma, seguido pelo irmão mais novo, que se formou em ciências contábeis. 

Ele relembra que ele e os irmãos faziam muitas coisas juntos durante a infância. Brincavam com outras crianças da rua de esconde-esconde, pega-pega, andavam de bicicleta, brincavam na areia do quintal embaixo de pés de abacate, manga e jabuticaba. Já na adolescência, passavam muito tempo no clube da cidade e praticavam diversos esportes, dentre eles o basquete: Alexandre e seu irmão caçula chegaram a disputar diversos campeonatos escolares. Ele lembra, também, dos inúmeros passeios nos finais de semana para pescar com o pai. “Eu sempre gostei de estar em contato com a natureza e, além de admirar a beleza, tinha curiosidade de entender o que fazia ‘a vida funcionar’”, relata.  

Na escola, suas matérias prediletas eram ciências, no ensino fundamental, e biologia, no ensino médio. Sempre foi muito curioso e por volta dos dez anos, quando descobriu que cientistas tinham o objetivo de fazer descobertas, avistou logo uma perspectiva de carreira científica. “Minha mãe diz que ainda mais cedo eu disse pra ela que descobriria a cura do câncer. Não sei se isso é verdade, acho que é coisa de mãe”, brinca. Ele diz ter estudado em escolas públicas – que já naquela época não tinham uma boa qualidade, sobretudo no ensino médio -, porém lembra de um excelente professor de biologia que foi responsável por lhe encantar pela matéria, com aulas muito estimulantes. 

Após um ano de cursinho preparatório, Alexandre Cardoso passou no vestibular para ciências biológicas na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São José do Rio Preto. “A biologia sempre foi minha primeira opção”, relata. Desde o início da graduação, Cardoso já tinha convicção de que seguiria carreira acadêmica. No entanto, relata que por ter uma formação falha no ensino médio, teve um pouco de dificuldade para acompanhar as aulas e, consequentemente, só procurou fazer iniciação científica no terceiro ano, no Laboratório de Zoologia de Peixes.  

Com a aposentadoria do professor responsável, Cardoso passou no processo seletivo para monitoria de Biologia Celular e Histologia, disciplinas em que ia muito bem. Logo, deu início à iniciação científica no laboratório do professor Sebastião Roberto Taboga, supervisor dos monitores. “Trabalhei inicialmente num projeto para a caracterização de glicosaminoglicanos no cordão umbilical humano e realizei um trabalho de conclusão de curso que caracterizou, no nível ultraestrutural, o complexo prostático do gerbilo da Mongólia, um tipo de roedor”, diz o pesquisador. 

Em 2004, ele foi aceito no laboratório do professor Hernandes F. Carvalho, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde completou seus estudos para a aquisição dos títulos de mestre e doutor em biologia celular e estrutural. Ele relata ter feito uma pós-graduação muito produtiva, com a publicação de vários artigos, orientado pelo professor Hernandes, um expert em biologia da reprodução, regulação hormonal e bioquímica da matriz extracelular. “Os resultados obtidos no meu mestrado foram animadores e nos levaram, durante o meu doutoramento, a investigar mais detalhes sobre o envolvimento das metaloproteinases de matriz (MMPs) na remodelação tecidual da próstata utilizando, além do modelo de desenvolvimento pós-natal, modelos de privação de testosterona e de câncer”, afirma.  

Estimulado pelo prof. Hernandes, em 2008 Cardoso passou seis meses no laboratório da professora Lynn Matrisian na Vanderbilt University, nos Estados Unidos, fazendo doutorado sanduíche. Essa oportunidade, para o Acadêmico, foi um marco para sua formação. “Lá vivi o momento que me levou a definir o estudo do papel do microambiente celular na fisiologia tecidual e no surgimento e progressão do câncer como parte fundamental da minha pesquisa. Assim, vi que deveria retornar ao exterior para adquirir mais conhecimento nessa área”, conta.  

Entre 2010 e 2014, Cardoso fez um estágio de pós-doutoramento no laboratório da Dra. Mina J. Bissell no Lawrence Berkeley National Laboratory, também nos Estados Unidos. Ele conta que o laboratório é reconhecido internacionalmente por seu pioneirismo na pesquisa sobre o papel do microambiente na biologia e câncer de mama e pelo desenvolvimento de diversas técnicas relacionadas. “No laboratório da Dra. Bissell, encontrei o local perfeito para atingir meus objetivos de aprendizagem e pesquisa. Lá, eu pude aprender novas técnicas e desenvolvi um projeto que revelou detalhes importantes de como matriz extracelular regula a decisão da célula de proliferar quando em ambientes 3D em células normais e em células tumorais”, explica. 

Cardoso é professor do Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP) e lidera o e-Signal Lab, onde estuda como a interação das células com o seu meio externo influencia processos fisiológicos e doenças. Utiliza modelos tridimensionais de cultura de células, ferramentas da bioquímica, biologia molecular e diversas técnicas de microscopia. “Estruturas ramificadas são onipresentes nos seres vivos e apresentam diferentes níveis de complexidade, tamanho e uma infinidade de funções. A biologia, a morfogênese e as afecções dessas estruturas trazem questões que eu tenho tentado responder”, explica. “Acredito que as respostas para essas questões têm importância abrangente, como o entendimento dos mecanismos fundamentais do desenvolvimento de sistemas biológicos, a resolução de paradigmas que são necessários para o uso de ferramentas terapêuticas na medicina regenerativa e engenharia tecidual e o diagnóstico e tratamento do câncer”, declara.  

Alexandre Bruni-Cardoso define sua atração pela ciência. “A ciência me oferece a possibilidade de conhecer o desconhecido, ter o sentimento de olhar para algo que ninguém nunca viu. Gosto do processo hercúleo de desenvolver um projeto e ter a satisfação de descobrir algo que pode não só avançar o conhecimento como trazer benefícios para a população”, ressalta.  

Ele conta ter se sentido bastante gratificado ao ser reconhecido pelos seus pares da Academia Brasileira de Ciências (ABC). “É um sinal importante de que o trabalho que venho executando está no caminho certo. Além disso, eu vejo esse título como uma oportunidade para contribuir com os objetivos da ABC de avançar a ciência no Brasil e, também, aprender com as diversas atividades da Academia voltadas para a formação e mentoria de cientistas mais jovens”, afirma. 

O Acadêmico revela que a música é parte essencial de sua vida e que ouve rock todo dia, seu estilo predileto. No tempo livre, Alexandre Cardoso gosta dos esportes ao ar livre, como corrida e mountain bike, de ler sobre ciência e biografias de músicos e cientistas, e também de assistir séries.  No entanto, a maior parte de seu tempo livre atualmente é dedicada a cuidar e brincar com seu filho, João, nascido em 2018.