Participantes e moderadores do simpósio reunidos: Flávio Almeida Amaral, Denise Morais da Fonseca, Lucia Previato, Normanda Araújo de Morais, Ruben Oliven e Vivian Vasconcelos Costa.

 

O 2º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021 foi realizado no dia 1º de junho, com apresentações de três jovens cientistas de excelência das áreas de microbiologia e imunologia e dois das ciências sociais. O evento foi coordenado pela vice-presidente da ABC para a Região Rio de Janeiro, Lucia Mendonça Previato, e pelo diretor da ABC Ruben Oliven.

Os membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) são eleitos anualmente por região e tomam posse automaticamente no dia 1º de janeiro do ano seguinte à eleição. Os eleitos em 2020 e 2021 foram recepcionados conjuntamente em cerimônia online realizada em 3 de maio de 2021 e estão apresentando suas contribuições à ciência em 12 simpósios ao longo do ano. A agenda completa dos simpósios científicos virtuais pode ser conferida aqui.  

A coordenadora Lucia Previato deu início ao evento, explicando o que é o programa de membros afiliados da ABC. Apontou que, na ocasião, seriam apresentadas pesquisas da área da saúde e da área social,  que seriam conectadas no debate final. Apresentou o diretor da ABC Ruben Oliven, antropólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coordenador da parte do evento voltada para as ciências sociais.

Em seguida, apresentou os três palestrantes das áreas de microbiologia e imunologia: Denise Fonseca, Flávio Amaral e Vivian Costa, que fizeram apresentações sobre suas pesquisas. Conheça-os a seguir:

Imunologia das mucosas

Professora da USP, Denise Morais da Fonseca busca entender como influências ambientais podem acarretar alterações permanentes no sistema imunológico humano.

Reumatologia experimental
Professor da UFMG, o biólogo Flávio Almeida Amaral estuda os mecanismos envolvidos na inflamação, lesão e dor de articulações, envolvendo pesquisas básicas e translacionais.

Do desejo de ajudar pessoas à paixão pela ciência
A professora da UFMG Vivian Vasconcelos Costa começou a graduação motivada por uma questão familiar, mas se apaixonou pela pesquisa e hoje estuda doenças virais.

Ao final da apresentação de Vivian Costa,  Oliven apresentou os dois membros afiliados das ciências sociais: Eduardo Zilberman, que em não podendo comparecer enviou um vídeo, e Normanda Araújo. Conheça os dois membros afiliados, eleitos em 2020:

Rigor metodológico para estudar fenômenos macroeconômicos
Professor da PUC-Rio, o economista Eduardo Zilberman visa entender interações entre os ciclos econômicos e os preços dos ativos financeiros.

Atenção a quem mais precisa
Professora da Unifor Normanda Araújo de Morais estuda a psicologia do desenvolvimento, sobretudo em contextos de vulnerabilidade social.

O debate

A primeira rodada de perguntas foi com os Acadêmicos da área da saúde, sendo mediada por Lucia Previato.

Flávio, que havia falado especificamente sobre as possibilidades de resolução de inflamações e dores das articulações, respondeu à pergunta de espectador do YouTube sobre os possíveis malefícios do uso de pró-resolutivos. O Acadêmico afirmou que apesar da existência de estudos clínicos, ainda não há nada constatado. Ele destacou que ainda é difícil afirmar quais são os efeitos desses medicamentos no controle das inflamações. “O conceito de ‘resolução’ é relativamente novo. Os anti-inflamatórios, muitas vezes, são imunossupressores. Não acredito que a lipoxina, em questão, terá algum efeito colateral. Especialmente no caso das doenças não-infecciosas.”  Questionado sobre os agentes pró-resolutivos para osteoartrite, ele afirmou que os estudos ainda estão no começo. Ele destacou a anexina a1 e os estudos sobre a capacidade do ômega 3 de fornecer melhora na contenção do avanço da doença.

Denise, cuja palestra havia sido intitulada “Eixo intestino-pulmão: o diálogo imunológico entre as mucosas no desfecho de doenças inflamatórias”,  foi questionada se, de alguma forma, a dieta auxilia no controle de infecção da mucosa. A resposta foi positiva: ela afirmou que uma melhor alimentação pode atuar diretamente no combate a inflamações. Sobre o uso de antibióticos, a pesquisadora afirmou que, como tais medicamentos agem diretamente na microbiota do intestino, acabam alterando a composição do sistema inflamatório de maneira indireta.

Um internauta enviou uma pergunta para os três membros do grupo: por que tantas vacinas contra COVID-19 têm baixa eficácia?

Flávio associou o dado a urgência pelas doses, o que limitou o tempo de pesquisa e de produção de vacinas. “Proteger pouco é melhor do que não proteger”, destacou.

Denise afirmou que, por ser uma doença nova, ainda não é possível saber exatamente quais são os mecanismos protetores – apesar dos milhares de estudos diariamente realizados em todas as partes do mundo. “Nós inferimos com base no que se sabe na base de infecção viral, mas vacinas de imunidade celular são muito mais difíceis do que vacina de imunidade humoral”, disse a pesquisadora, comparando a COVID-19 com a tuberculose, que até hoje não possui uma vacina 100% eficaz.

Vivian alegou que o conceito de eficácia pode variar. “No caso, qual seria? Redução no número de mortes? De casos? De hospitalização?” Ela completou destacando que em pouco tempo, os resultados obtidos são bem eficientes.

Oliven deu sequência a parte de perguntas da área das ciências sociais, levando várias questões para Normanda, cuja palestra havia focado nos impactos psicossociais da pandemia e estratégias de resiliência de indivíduos e grupos em situação de vulnerabilidade. “O grave não é existir a adversidade, tampouco o impacto causado por ela; o grave é a gente não ter recursos para lidar com essas adversidades. E o fato é que existe uma lista infinita de grupos invisíveis que requerem um olhar mais cuidadoso”, afirmou a Acadêmica, que incluiu enlutados da pandemia, minorias sexuais, pessoas com deficiência, vítimas de violência e pessoas em situação de pobreza como exemplos de grupos vulneráveis.

Ela afirmou que, ao longo do último ano, foi possível observar diversas ações comunitárias de sucesso, destacando que a sociedade civil foi muito mais ágil do que o governo no suporte às populações invisíveis. Ações comunitárias conseguiram levar cestas básicas, apoio, máscaras, escuta psicológica e práticas educativas à grupos marginalizados com muito mais agilidade do que as entidades governamentais. “Isso é muito importante e positivo, mas não deve ser naturalizado”, completou a pesquisadora, que afirma que esta obrigação segue sendo do governo.

Ruben Oliven questionou Normanda em relação a como continuar vivendo diante da pouca empatia das autoridades com a saúde mental e os impactos psicossociais da pandemia. Oliven gostaria de saber como isso impacta a resiliência e a perseverança dos seres humanos. Normanda mencionou a emergência da psicologia positiva, uma nova área que inclui estudos sobre esperança, otimismo e espiritualidade e a ajuda no tratamento de questões psicossociais. A pesquisadora acrescentou que os efeitos da pandemia em longo prazo são sentidos com cada vez maior intensidade, conforme o tempo avança e a situação permanece inalterada. Em tempos como os atuais, o resgate do otimismo através de grupo de apoio e da companhia dos pares são fundamentais. “Não há outra forma de passar por isso sem ser com a vivência em grupo’’, completou. “Não se isolem! Não queiram enfrentar a pandemia sozinhos, não é um bom caminho.”

Ela afirmou que somente a resiliência e a esperança do ser humano não são capazes de combater a pandemia. Esta luta depende de ações e medidas em múltiplos níveis, incluindo políticos e sociais – além disso, o “momento político extremamente negativo”, como categorizou Normanda, não favoreceu o Brasil nos últimos 15 meses pandêmicos. A professora relembrou uma frase dita pelo moderador Ruben Oliven em um webinário anterior da ABC:  “Em sistemas democráticos, a gente muda isso pelo voto.”

O diretor da ABC encerrou o simpósio, que em sua visão, foi diferente dos demais, já que uniu duas áreas que geralmente estão separadas em congressos e seminários. Ele destacou que é o único membro da Diretoria da ABC que faz parte da área de ciências sociais e que é importante não apenas falar e mostrar suas opiniões e estudos, mas também ouvir os outros colegas, destacando a importância do debate interdisciplinar.

Veja a transmissão completa aqui.


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