Leia artigo de Francisco Gaetani, professor da Ebape/FGV e ex-secretário executivo dos Ministérios do Meio Ambiente e Planejamento, e do Acadêmico Virgilio Almeida, professor associado ao Berkman Klein Center da Universidade de Harvard, professor emérito da UFMG e ex-secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação, publicado no Valor Econômico, em  23/3:

Existem várias estratégias de automação e não há ainda um debate público sobre possíveis estratégias para o país. No Brasil, os robôs que conhecemos são aqueles que atuam em algumas linhas de montagem industrial (ex.: indústria automobilística e eletrônica), os robôs de software embutidos nas redes sociais e, crescentemente, os assistentes pessoais (Siri, Alexa,…).

Na prática, são muitas as variantes de robôs, que incluem desde robôs industriais até robôs comerciais, operados por sistemas de percepção e software de IA [inteligência artificial]. São robôs que têm flexibilidade e podem assumir um conjunto maior de tarefas na agricultura, em hospitais, no comércio varejista e na automação de cadeias de suprimentos, que incluem distribuição, armazenamento e logística.

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O país encontra-se numa encruzilhada. A mudança tecnológica abre a possibilidade de uma transformação positiva do mercado de trabalho, mas há riscos significativos de que o próprio trabalho possa mudar para pior. A imensa desigualdade social do Brasil e mais de 14 milhões de desempregados apontam para a necessidade de se pensar políticas inclusivas para a estratégias de automação no país. Um exemplo a ser observado é o caso da Alemanha, onde trabalhadores, empresas e sociedade civil tiveram a chance de moldar a direção da política em resposta a um documento governamental sobre a reinvenção do trabalho. Dentre as políticas públicas propostas no relatório do governo alemão, sobressai a necessidade premente de investir na requalificação da força de trabalho, frente o avanço da robótica.

Políticos, sindicatos e líderes empresariais devem buscar um diálogo público para que a mudança tecnológica leve a criação de empregos de qualidade no país. Esse diálogo deveria buscar respostas a muitas questões. Como nossas políticas de emprego, educação, industrial, de ciência e tecnologia estão abordando os desafios da robotização? Como nossas universidades estão se movendo para atender à brutal escassez de mão de obra nestes setores tecnológicos nas próximas décadas? Como nosso setor privado está ele mesmo proporcionando o desenvolvimento de capacidades digitais “in-house” para ser mais competitivo e dotado de maior produtividade? Como os sindicatos estão planejando a requalificacão de trabalhadores? A pró-atividade é imperativa. Temos que sair da paralisia e do defensivismo.

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Tudo isso deveria ser objeto de atenção prioritária do governo. A União Europeia, a China, os Estados Unidos e os suspeitos de sempre – Japão e Coreia do Sul – já se orientam pela acelerada locomotiva deste futuro digital faz tempo. Nós seguimos em transe, com poucas exceções, como as startups e algumas universidades de excelência internacional.

A consequência do descaso e inação quanto aos avanços tecnológicos não é a derrota do futuro. É a aposta no passado, é o comprometimento da juventude e a desqualificação do futuro. O Brasil corre o risco de não ser mais “o país do futuro” e sim de tornar-se “o país sem futuro”.

Leia a matéria na íntegra no site do Valor Econômico.