Leia a matéria de Kariny Baldan para o Tribuna Online, publicada em 16/11:

As ações humanas são as principais responsáveis pelas mudanças na temperatura do planeta. Episódios extremos de seca e chuvas apontam a urgência em adotar ações para lidar com as consequências inevitáveis e evitar danos ainda maiores no futuro, que põem em risco a existência das espécies, inclusive a humana.

O cientista [membro titular da ABC] e coordenador científico do Instituto de Estudos Climáticos da Ufes, Carlos Nobre, alerta que a humanidade está vivendo uma catástrofe no clima e segue caminhando para um suicídio coletivo em escala global.

“Estamos vivendo uma catástrofe climática. Não conseguimos retirar o gás da atmosfera. É um processo lento que demora décadas. Todos os gases que jogamos na atmosfera irão permanecer por cerca de 150 anos, 15% permanecerá por mil anos”, afirma.

Nobre enfatiza a urgência de zerar as emissões líquidas de gases do efeito estufa na atmosfera. Caso contrário, o planeta será praticamente inabitável no século XXII.

A Tribuna – Quais as evidências que sentimos no dia a dia de que o clima está mudando?
Carlos Nobre – Os últimos 20 anos foram os mais quentes dos últimos 160 anos globalmente falando, e isso repercute também no Brasil.

Entre 2015 e 2020, a maioria dos recordes de temperatura foi quebrado. Esse aquecimento acaba provocando outros extremos, como a seca e tempestades muito severas e intensas como a de dezembro em 2013 no Espírito Santo e de novo agora em janeiro de 2020.

O aquecimento global que, por um lado, provoca secas extremas e, por outro, faz com que as chuvas se tornem bem mais intensas.

A Tribuna – Isso está associado a atitudes do homem, e não a um processo natural?
Carlos Nobre – O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas já coloca a responsabilidade pela maior parte das mudanças climática nas ações humanas. Nossas ações estão aumentando a emissão dos gases de efeito estufa, especialmente o carbono, que tem propriedade física que absorve o calor.

Esses gases são muito importantes. Sem eles, a superfície da terra seria de 30ºC a 33ºC mais fria e toda a água estaria congelada. Eles garantem a existência da água líquida, que é essencial para a vida.

Só que apenas uma parte dos gases (56%) que emitimos é absorvida pelas florestas e pelos oceanos. Os outros 44% ficam na atmosfera e existe uma certeza científica que esse é um gás emitido pela ação humana.

Em um século, já aquecemos o planeta em média 1,1º C. Nos continentes, 1,4ºC. Em muitos lugares do Brasil, o aumento na temperatura já superou 2ºC.

A Tribuna – É possível reverter os danos ou agora devemos lidar com as consequências?
Carlos Nobre – São duas ações principais. Uma é lidar com o que já está ocorrendo e com o que ocorrerá nas próximas décadas, que é inevitável.

O tempo que esses gases permanecem na atmosfera é muito longo. Além disso, o máximo aquecimento em função do nível dos gases que existem na atmosfera hoje só será sentido daqui a 30 anos. Então os eventos extremos ficarão ainda mais extremos. Temos que lidar com isso e buscar a adaptação.

A segunda ação e a mais importante é zerar as emissões líquidas dos gases de efeito estufa (os excedentes que não são absorvidos naturalmente). Se não zerarmos, o planeta ficará praticamente inabitável no século XXII.

Por isso existe o Acordo de Paris, que 195 países assinaram, com a meta de não deixar a temperatura do planeta aumentar mais de 2ºC. Para isso, temos de zerar as emissões até 2070. Para não passar de 1,5ºC, que é o mais seguro, temos de zerar até 2050. Esse é o maior desafio que a civilização já enfrentou.

Leia a matéria na íntegra.