Leia a matéria de Paula Ferreira para O Globo, publicada em 22/9:

Uma das principais agências de fomento à pesquisa do país, o CNPq pode ter até metade de sua produção comprometida caso o cenário orçamentário para 2021 não seja revertido no Congresso.

Em entrevista ao GLOBO, o presidente da instituição, Evaldo Vilela, afirma que o corte de 5,3% em relação ao ano anterior, previsto no Projeto de Lei Orçamentária (PLOA), juntamente com o fato de quase a metade do orçamento (R$ 696 milhões) estar condicionada à aprovação do Congresso, podem levar a um cenário no qual o órgão não terá dinheiro para pagar nem mesmo as bolsas já vigentes, que hoje giram em cerca de 80 mil.

As restrições no orçamento, disse ele, podem comprometer inclusive a resposta do país à pandemia, uma vez que diversas pesquisas na área estão sendo financiadas pelo órgão.

O Ministério da Ciência e Tecnologia vai ter um corte de orçamento em 2021. Quais as perspectivas do CNPq em relação a isso?

O orçamento seria diminuído para o ano que vem em R$ 200 milhões, conseguimos reverter e temos uma diminuição de R$ 100 milhões, que é muito. O que nos preocupa é que este orçamento está dividido em duas partes. Uma delas, que já está garantida, corresponde mais ou menos à metade. A outra parte, em lei complementar, que é o condicionado que pode ser liberado dependendo da política econômica. Nunca foi tão grande, de R$ 600 milhões. No ano passado foi de R$ 60 milhões, e o Congresso nos liberou. Vai liberar este ano? Se não liberar é uma catástrofe, porque vamos rachar a pesquisa no CNPq à metade. A gente precisa de recurso, porque ciência não é uma coisa que possa fazer sem dinheiro e os níveis de financiamento da pesquisa no Brasil têm caído sistematicamente.

Com a pandemia, aumentou a demanda pela ciência. Nossa resposta à COVID-19 seria mais eficiente caso a ciência tivesse sido preservada?

Sem dúvida. Ciência se faz com talentos, com gente. E gente equipada em laboratórios equipados. Temos uma rede de laboratórios, especificamente na área de saúde, graças a um trabalho bem feito pelo Ministério da Saúde, mas sempre trabalhamos com o mínimo, e com uma coisa que é muito prejudicial à ciência no Brasil: a falta de fluxo. Um ano tem um bom dinheiro, no outro ano não tem aquele dinheiro. Esse sobe e desce do fluxo do dinheiro mata muita pesquisa. Desestimula muito talento, muito pesquisador. Uma vez paralisada, a pesquisa não se recupera. Não é um asfalto que para uma semana e volta daqui a um mês. Nunca tivemos no Brasil uma consciência de que precisamos investir seriamente em ciência. Isso tem altos e baixos, mas precisa se tornar uma constante. Não tem como desenvolver um país se não tiver geração de conhecimento e uso do conhecimento.

Caso o corte se mantenha, considera que não conseguiremos dar respostas eficientes à pandemia?

Com certeza. Se não revertermos esse quadro, se o CNPq ficar restrito à metade de seu orçamento. O dano das pesquisas em andamento é irreparável. Sabemos de todas as dificuldades que os governos estão passando, estadual, federal. A crise econômica é muito séria. E temos um país onde uma pessoa é ajudada com R$ 600, a gente sabe o tamanho da encrenca, do problema, e a gente lamenta muito isso e sabe que o esforço que o governo está fazendo é muito grande, e isso tem impacto na economia. Mas o desenvolvimento científico tecnológico é para frente, abre novos caminhos, e não pode ser fechado.

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