O BR Político tem a honra de abrir seu espaço para a campanha #CientistaTrabalhando, que celebra o Dia Nacional da Ciência, comemorado em 8 de julho. Ao longo do mês, colunistas cedem espaço para abordar temas relacionados ao processo científico, em textos escritos por convidados ou por eles próprios. Fui convidada [Vera Magalhães, jornalista, editora do blog BR Político do Estadão] a compartilhar meus espaços com a campanha, que é coordenada pelo Instituto Serrapilheira e pela Agência Bori de jornalismo científico.

Neste texto, Carlos Vogt e Virgílio Almeida falam sobre inteligência artificial, as questões éticas decorrentes de seu desenvolvimento e como só a integração de várias ciências poderá “fechar o gênio de volta na garrafa” e evitar o mau uso dessas descobertas.

Carlos Vogt e Virgílio Almeida, especial para o BR Político

O País precisa de ciência básica e de ciência aplicada. Da filosofia, das engenharias, da matemática, da medicina. Precisamos da ciência para enfrentar pandemias, mudanças climáticas, a devastação da Amazônia, desigualdades sociais e regionais e a falta de inovação e competitividade. As humanidades, letras e artes colaboram para a formação integral, responsável e ética dos cidadãos. O conhecimento tradicional desenvolve o respeito às diferenças. Não podemos prescindir de nenhum saber.

A necessidade de diálogo entre as ciências salta aos olhos diante da expansão dos sistemas de inteligência artificial (IA). Eles afetarão todos os setores da economia e da sociedade, dos robôs que atuam em cirurgias aos que ajudam a investir em bolsas. Os humanos trazem conceitos e valores; os sistemas de inteligência artificial criam novas formas de organizar o mundo. Precisam colaborar de maneira eficaz.

O campo das máquinas inteligentes combina ciência da computação, robótica e ciência cognitiva, com aplicações transformadoras. Diferentes abordagens – aprendizado de máquina, raciocínio simbólico, psicologia e linguística – se fazem necessárias para acelerar as interações homem-máquina. Porém, falhas no seu uso podem exacerbar desigualdades e discriminações.

Nos Estados Unidos, pessoas negras e inocentes vêm sendo presas por erros de sistemas de reconhecimento facial. No Brasil, tais algoritmos são usados em diversos Estados, mas não se tem notícia sobre processos por erro de identificação. O uso de algoritmos que decidem sem interferência humana questões de justiça demanda pesquisas das humanidades.

Só a união das ciências pode nos trará o otimismo desconfiado e crítico de que não precisaremos fechar o gênio de volta à garrafa. Não podemos ser nem utópicos, nem distópicos, tampouco impermeáveis à memória, à história, às sensações e emoções, aos sentimentos, à literatura, à arte, à poesia.

Leia o artigo na íntegra no blog BR Político do Estadão..

Carlos Vogt, poeta e linguista, é professor emérito da Unicamp, onde foi reitor entre 1991 e 1994 e hoje preside o conselho científico-cultural do Instituto de Estudos Avançados (IdEA). Também foi presidente da Fapesp (2002-2007) e secretário de ensino superior do Estado de São 

O Acadêmico Virgilio Almeida é professor associado ao Berkman Klein Center da Universidade de Harvard e professor emérito do Departamento de Ciência da Computação da UFMG. Foi secretário nacional de políticas de informática do MCTI (2011-2015). É membro do grupo de estudos de inteligência artificial do IdEA-Unicamp.