Leia a matéria de Ana Lucia Azevedo para o jornal O Globo, publicada em 14/5:

RIO – Cientistas brasileiros descobriram uma nova alteração causada pela covid-19. Algumas pessoas infectadas pelo coronavírus sofrem mudanças na retina, que podem ser indicadoras de complicações no sistema nervoso central. Publicado na “Lancet”, uma das revistas de ciências médicas mais respeitadas do mundo, o estudo foi realizado com pacientes de São Paulo. O trabalho é de autoria de pesquisadores do Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia e do Instituto da Visão, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O líder da pesquisa, Rubens Belfort Jr., [membro titular da ABC], presidente da Academia Nacional de Medicina e professor titular da Unifesp, destaca que “ainda estamos longe de compreender toda a complexidade da infecção pelo coronavírus”.

Este é o primeiro estudo a identificar alterações neurológicas no olho associadas à Covid-19?

Sim. Investigamos o olho porque estudos com o zika mostraram que poderia haver alterações desse tipo. Realizei, na verdade, o primeiro trabalho sobre zika no olho e pensei que o coronavírus poderia talvez causar algo semelhante.

Que alterações são essas e por que seriam um indicador de complicações neurológicas?

São alterações na retina (a camada mais interna do globo ocular, que transforma a luz em sinais elétricos e, em última instância, forma as imagens). E a retina é parte do sistema nervoso central.

O que encontraram?

Observamos lesões em todos os pacientes. Mas não detectamos perda da acuidade visual ou dos reflexos, também não identificamos sinais de inflamação intraocular.

As lesões provocaram perda de função do olho?

A princípio, não. Os pacientes não tiveram perda de função do olho, mas continuamos a estudar para ver se não surgirão lesões posteriores, com algum dano à visão.

Mas, se não causam perda de função do olho, por que essas alterações preocupam?

Porque podem indicar que o sistema nervoso central, isto é, o cérebro, foi afetado pela Covid-19. E o tipo de lesão que identificamos já foi associado em estudos com animais a complicações do sistema nervoso central. Somado a isso há um número crescente de casos de pacientes com Covid-19 que desenvolvem, por exemplo, encefalite. Outros sofrem sintomas neurológicos, como convulsões. É importante ter um indicador para esse risco.

O senhor tem organizado na Academia Nacional de Medicina encontros virtuais com integrantes de academias médicas do mundo todo. Como vê a doença neste momento?

Temos tido uma troca de conhecimento muito importante. Já tivemos uma reunião muito produtiva, por exemplo, com integrantes da academia da China. A medicina tem aprendido muito. Mas ainda estamos longe de compreender toda a complexidade da infecção pelo coronavírus.

 

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