Leia texto enviado para a NABC, de autoria do Acadêmico José Galizia Tundisi, em 9/4:

Nestes tempos difíceis e complexos de pandemia, alem da dedicação intensa dos profissionais da saúde, médicos, enfermeiros e técnicos, há um outro contingente de pesquisadores cientistas e infectologistas que tem se destacado no Brasil nesta crise.

O Brasil sempre teve uma tradição exemplar e expressiva de sanitaristas e infectologistas reconhecida internacionalmente. A este grupo de profissionais, junta-se agora um conjunto de especialistas em genética, bioquímica, biofísica, física e química altamente qualificado, com reputação internacional devida à excelência de suas pesquisas.

Portanto, além dos mecanismos e providências para a prevenção, destacados pelos profissionais da saúde, as pesquisas sobre o coronavírus avançam em muitos laboratórios do Brasil. Para isto tem contribuído também a participação dos cientistas brasileiros em redes internacionais, o que tem ampliado a troca de experiências e informações científicas e de tecnologia aplicadas ao problema. A participação nestas redes de alta qualificação é um importante requisito para acelerar a solução do problema. Não há mais dúvidas de que a resolução dos problemas do coronavírus (prevenção, tratamento, vacina e recuperação dos pacientes) virá pela atuação dos cientistas. E a colaboração destes profissionais com os profissionais da área de saúde tem proporcionado avanços no conhecimento de uma doença inteiramente desconhecida do ponto de vista cientifico, médico e até mesmo de saúde publica.

Uma outra evidência da ação decisiva dos cientistas brasileiros foi o sequenciamento do genoma do coronavírus em apenas dois dias, o que mostra o alto grau de preparo profissional para execução deste trabalho.

Apesar das dificuldades, há laboratórios bem equipados e preparados para o trabalho de pesquisa, graças aos esforços dedicados dos cientistas brasileiros nas diferentes áreas envolvidas.

É importante destacar também que os grandes laboratórios de referência como a Fiocruz, o Instituto Evandro Chagas e Adolfo Lutz, situados estrategicamente em diferentes regiões geográficas do Brasil, contam com a parceria e efetiva colaboração das universidades e institutos de pesquisa locais, formando uma poderosa associação com aplicações de inestimável valor para a procura de soluções.

Esta atuação relevante é fundamental e sem sombra de dúvida deveria sensibilizar o atual governo para um apoio decisivo à ciência no Brasil. O Brasil só poderá se desenvolver de forma consistente e sustentável se um apoio decisivo do governo à atividade cientifica for permanente e voltado para o desenvolvimento cientifico, inovação e a formação de especialistas nas várias áreas. Especialmente, naquelas áreas essenciais para a sustentabilidade, a saúde publica e a qualidade de vida da população. Ciência gera desenvolvimento, o que está comprovado por todos os países desenvolvidos do planeta.

Neste sentido, vale a pena recordar as imortais palavras da filantropa americana Mary Woodward Lasker (1900-1994), tão atuais hoje como na época (1946) em que, ao se dirigir ao Congresso americano sobre a importância do apoio do governo americano à pesquisa, afirmou: ¨Se você pensa que a pesquisa é cara, experimente a doença¨.

É o que estamos assistindo no Brasil com os milhões de reais que estão sendo gastos com a pandemia. Colocar a ciência como prioritária na agenda nacional, é, portanto, fundamental e urgente. A atuação meritória e estratégica dos cientistas brasileiros nesta catástrofe pandêmica tem mostrado o caminho a seguir, que será relevante em muitas áreas no futuro próximo.

Jose Galizia Tundisi
Membro titular da Academia Brasileira de Ciencias
Ex presidente do CNPq (1995-1998)
Professor Titular da Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul
Atual secretário de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura Municipal de São Carlos