Leia matéria de Agostinho Vieira para Projeto Colabora, publicada em 4/4:

Não há mais dúvida hoje de que o combate ao coronavírus é uma prova de longa distância. Uma maratona mundial que exige paciência, solidariedade e muitos, muitos recursos. A metáfora da corrida vale também para a pesquisa científica, no Brasil e no mundo. É preciso ter paciência na espera pelos resultados, solidariedade entre os pesquisadores de todas as partes e muitos recursos, é claro. Só que aqui essa competição já vem sendo perdida há vários anos, no mínimo desde 2014. Hoje, o orçamento do país destinado à pesquisa, o que inclui a compra de insumos, equipamentos e a remuneração de doutores e doutorandos representa um terço do que já foi dez anos atrás. Dinheiro que faz falta nestes tempos de Covid-19.

“Nos últimos anos, o governo brasileiro vem navegando na contramão da história. Cortando e contingenciando seguidamente o orçamento para a pesquisa, a educação e a proteção ao meio ambiente, com grande impacto na performance científica no país. O cenário para 2020 é desolador: as verbas provenientes da Finep, do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico foram dramaticamente reduzidas antes dessa crise da Covid-19. O CNPq até terá dinheiro para as bolsas, mas as verbas de fomento foram pulverizadas, causando grande prejuízo às lideranças cientificas e aos laboratórios das universidades e institutos de pesquisa. A Capes também teve uma grande redução nas suas verbas e tem cortado bolsas dos programas de pós-graduação”, explica o professor Renato Cordeiro, pesquisador emérito da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências.

Enquanto isso, a Alemanha, por exemplo, já anunciou que investirá, entre 2021 e 2030, a vultosa soma de 160 bilhões de euros no seu ensino superior e na pesquisa cientifica. Movimentos semelhantes acontecem na China, na Coreia do Sul e nos Estados Unidos. Com isso, o abismo que nos separa desses países só aumenta. O físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, lembra a dependência externa que estamos vivendo hoje no combate ao coronavírus. Estamos importando testes, insumos e até máscaras, quando elas não são todas arrematadas por um país mais rico.

“Falta ao Brasil um projeto autossustentável de ciência e tecnologia. O país detém 20% da biodiversidade mundial e não tira proveito disso. Podíamos ser uma potência ambiental e não somos. Um exemplo que eu dou sempre é o da Endopleura uchi, uma planta originária da Amazônia. Do seu caule se extrai a bergenina, que é um excelente anti-inflamatório e antioxidante. O laboratório Merck vende a bergenina por R$ 1 mil cada miligrama. Dependendo da cotação, esse valor equivale a cinco mil vezes a miligrama de ouro”, contabiliza Davidovich.

Leia a matéria na íntegra aqui.