Leia a seguir o texto do Acadêmico Fernando Galembeck sobre a atual situação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq):

A atual situação do CNPq me faz lembrar de um episódio do início dos anos 90, durante o infeliz período Collor. O Grupo Técnico de Química e Engenharia Química do PADCT estava reunido, com vários convidados, para detalhar a execução do orçamento do programa, no ano seguinte. A situação econômica do país era péssima e ocorria um desmonte da indústria brasileira, tão grave quanto o que ocorreu na década seguinte. Segundo o plano original, naquele ano seriam aplicados recursos vultosos em projetos de P&D de empresas e era preciso detalhar o edital, sua divulgação e a avaliação das propostas.

Minha posição era de observador e de representante do GEA, o Grupo Especial de Acompanhamento, sem direito a voto ou interferência. Em um dado momento, percebi que os três representantes de empresas no GT-QEQ estavam fora da sala, o que me preocupou.

Pouco depois, eles voltaram e anunciaram, conjuntamente, o seguinte (cito de memória): os representantes da indústria reconheciam que a gravidade da situação ameaçava o próprio futuro das empresas e que a dotação para P&D feita pelo PADCT, ainda que substancial, era insuficiente para mudar as perspectivas das empresas.

Portanto, propunham que os recursos fossem destinados a grupos de pesquisa de universidades e institutos, para que estes sobrevivessem e estivessem ativos em um futuro melhor do que aquele dramático momento. Todos concordaram, ali decidindo criar uma ponte para o futuro, fundamentada em uma esperança que se concretizou – ao menos por alguns anos.

Eu entendi perfeitamente a posição dos três empresários, porque tinha ouvido, na China, relatos sobre as estratégias usadas pelos acadêmicos, durante a travessia da devastadora Revolução Cultural.

Hoje, faltam recursos para tudo e as demandas de simples manutenção de “status quo” destinam-se ao insucesso. Mas temos de pensar que chegará um futuro, apesar de todos os problemas e erros atuais. É preciso que cada um, na posição em que estiver, tenha clareza sobre o que cabe fazer agora, para chegarmos lá. E é preciso que os detentores de poder político, sempre temporário e fugaz, pensem por um momento nas responsabilidades que lhes serão atribuídas pela História.