Leia artigo do Acadêmico Roberto Lent, professor titular da UFRJ e pesquisador do Instituto D’Or, publicado no jornal O Globo, em 6/6/2019:

Não se trata do título de uma novela, nem de uma série na TV. Fascinação sedutora é o conceito que alguns pesquisadores criaram ao estudar a credibilidade de afirmações baseadas na ciência junto ao público em geral. Especialmente nas neurociências, mas também em outras disciplinas.

O primeiro desses estudos foi realizado por pesquisadores da Universidade Yale em 2008 e replicado posteriormente por outros grupos independentes. A coisa funciona assim: os pesquisadores criaram quatro tipos de afirmativas científicas curtas. Uma era correta, e apresentava a interpretação de um fato psicológico. Uma segunda apresentava uma afirmativa circular e vazia, do mesmo fato. E duas outras adicionavam àquelas uma frase incluindo na explicação um conceito neurocientífico (por exemplo, a imagem de uma área cerebral).

Exemplo do primeiro tipo: “O suor frio é um fenômeno ligado ao medo e à ansiedade” (quem não sabe?). Exemplo do segundo tipo: “O suor frio é um fenômeno que ocorre quando uma pessoa se sente envolvida em uma situação complicada que a faz suar” (blablabla…). E, para dar um tom neurocientífico a ambas, elas poderiam receber um adendo como este (totalmente incorreto!): “Estudos de neuroimagem comprovam que o córtex frontal direito está envolvido neste fenômeno”.

As frases foram apresentadas a três grupos de voluntários: um grupo de alunos de pós-graduação em neurociência, um grupo de calouros universitários e o terceiro formado por pessoas leigas. Todos tinham que atribuir notas às explicações para qualificá-las como satisfatórias, num extremo, ou insatisfatórias, em outro.

Imaginem o resultado. Bingo!

As notas eram sempre melhores para as assertivas que continham referências ao cérebro (mesmo sendo erradas), exceto para os alunos de pós-graduação, mais experientes, que não se deixaram enganar.

Conclusão: nas pessoas leigas ou mesmo medianamente informadas, é robusta a “mágica” convincente da neurociência para os fenômenos cognitivos, psicológicos ou psicofisiológicos. Esse efeito é que foi chamado “fascinação sedutora”.

Mais recentemente, outros grupos de pesquisa estenderam os experimentos a conteúdos de outras ciências e descobriram que o mesmo efeito ocorre para as explicações mais reducionistas. Isto é: se falarmos de moléculas e células para explicar uma observação científica, é maior a chance de convencermos os leitores…

Você deve estar pensando. Puxa, que tiro no pé deste colunista. Quem agora irá acreditar em seus artigos?

Ao contrário: os trabalhos que mencionei servirão como fonte de grande cuidado de minha parte para relativizar os dados apresentados e formular as conclusões com a necessária parcimônia. E, aos leitores, a necessária cautela para crer (ou descrer) de afirmações ligeiras e sem fundamento, que tanto caracterizam as neuromodas e neuromanias.