Coordenadora do Fundo Verde, que é o programa de transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Suzana Kahn é graduada em engenharia mecânica, com mestrado em programas de planejamento energético e doutorado em engenharia industrial pela UFRJ. É professora titular do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) e presidente do comitê científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Em sua palestra durante a Reunião Magna da ABC 2019, Kahn apontou que o desenvolvimento sustentável que está sendo buscando deve ser focado nas ameaças à população mundial, que está, de fato, em risco. “Com relação ao problema climático, o planeta vai achar seu caminho. Tivemos eras glaciais, espécies desaparecem e outras aparecem. A forma acelerada vai prejudicar é a humanidade, e de forma extremamente desigual”, alertou a engenheira.

Ela questiona o significado de “progresso”, conceito que em sua visão deveria ser redefinido, a partir de novos indicadores. “A riqueza não deve ser um indicador apropriado para a prosperidade”, destacou Kahn. Para tanto, ela sugeriu o uso de Indicador de Progresso Real (IPR), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice de Saúde Social (ISS), Índice de Bem-estar Econômico e Sustentável (IBES) e Felicidade Interna Bruta (FIB). Este último foi um indicador originário do Butão e visto, a princípio, como folclore. Mas depois, contou Susana, foi incorporado pelas Nações Unidas. “O que todas as pessoas querem é o bem-estar, a felicidade.”

Para Kahn, uma nação próspera é a que melhor satisfaz aos anseios da sociedade. “Há uma retroalimentação positiva, uma vez que uma sociedade ‘feliz’ é mais produtiva e colaborativa”, destaca. “A busca pelo desenvolvimento sustentável precisa incluir a componente humana”, completou.

Demanda por recursos naturais marca a desigualdade entre países

Com relação ao clima, ela diz que a emissão de gases de efeito estufa vai continuar crescendo até o final do século, apesar de todos os alertas. “A população mundial continua crescendo, com aumento correspondente por alimento e energia, demanda que não pode ser negligenciada. A questão ambiental passou a ser entendida como uma questão econômica”, relatou.

No planeta, todos os elementos estão sendo impactados pelo homem, que joga cada vez mais carbono para a atmosfera.  O sistema climático responde, buscando um outro equilíbrio.

Porém, de acordo com Kahn, a capacidade de reagir aos impactos é diferente, pois os países desenvolvidos têm sistemas de alerta, sistemas de resgate. “A classe média crescente desses países vai copiando padrões insustentáveis, que estão inclusive impactando a saúde humana”, ressaltou a palestrante. Neste contexto, os países mais vulneráveis vão ter que desenhar outras estratégias, com mais dificuldade para enfrentar os impactos.

Além do impacto do clima, a humanidade também vem sofrendo o impacto da tecnologia.

Kahn explica que a velocidade dos avanços nas diferentes áreas do conhecimento requer recursos humanos qualificados. A empregabilidade das pessoas é diferente em cada área, devido às diferentes formas de fazer negócios. Segundo a engenheira, “a tecnologia tem impacto fortíssimo na formação de recursos humanos para atender a essa nova configuração.”

Temos um problema

A palestrante observou que o atual modelo de crescimento econômico não é viável no longo prazo. O uso de recursos naturais é ineficiente e insustentável, e temos mais de três bilhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.

“Se é o bem-estar que a gente procura, não é o que está sendo atingido, exatamente o contrário. O que vemos é o aumento de transtornos de ansiedade e de pânico”, pontuou Kahn. O mal-estar e a tensão estão concentrado nas cidades, onde vive 80% da população mundial.

Soluções são possíveis

Uma possível solução é o descasamento do impacto, reduzindo a demanda por recursos naturais. “O Japão reduziu o consumo de materiais para os níveis de 1970”, apontou, “e o México reduziu muito o chumbo”. Dada a concentração da população nas metrópoles urbanas, o poder municipal é estratégico parar se atingir os objetivos de descasamento.

A colaboração também é parte da solução transformadora. “As pessoas estão trabalhando mais juntas, em espaços compartilhados. Os carros também estão sendo compartilhados”, salientou Susana, acrescentando que essa “fase colaborativa” deve ser induzida, porque ajuda no bem-estar.

Outro ponto fundamental da solução é a integração dos conhecimentos e culturas. “Precisamos facilitar e estimular soluções criativas em questões cruciais para a ciência e sociedade”, apontou a pesquisadora. Kahn aponta que a capacidade de sintetizar o conhecimento acumulado e variado em diferentes campos do conhecimento ajuda no avanço da ciência e no fornecimento de subsídios para tomada de decisão, em qualquer nível.

Finalizando, Susana Kahn reiterou que uma sociedade feliz entende os bens coletivos, pensa nas próximas gerações. “Nações avançadas no desenvolvimento tecnológico e inovadoras são mais competitivas e com economias mais prósperas. Uma nação próspera promove o bem-estar de toda a sua sociedade.”

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