Naercio: “Quanto mais tempo fora do mercado, mais difícil fica se encaixar”
Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo

RIO – Em entrevista ao GLOBO, Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, pesquisador nas áreas de mercado de trabalho, educação e desigualdade social, afirma que o desemprego no Brasil vai continuar alto por algum tempo, e os jovens são os principais atingidos, pois estão se formando em um período de crescimento muito baixo e desemprego alto, o que aumenta a probabilidade de entrarem em atividades ilegais.

Estamos com 13 milhões de desempregados, e mais de 3 milhões deles procuram vaga há mais de dois anos. Quais as consequências para o mercado de trabalho?

No passado recente, houve um período de desemprego prolongado. De 1999 até 2003, a taxa ficou em 10%, 11%. Houve aumento do salário mínimo em termos reais, o que fez crescer o poder de consumo de parcela significativa dos trabalhadores. Eles começaram a consumir produtos e serviços que antes não consumiam, e isso gerou emprego também entre os não qualificados. Foi um círculo virtuoso, que durou até 2014, quando começou a crise atual, e o desemprego aumentou bastante. A tendência é continuar com essa taxa até que tenha um choque, como naquela época houve o do salário mínimo. Precisa de algum componente, seja de demanda, via salário mínimo, de investimento público, exportações ou uma melhora de expectativas, com aprovação das reformas. Mas parece que a tendência é ter um período como o do início dos anos 2000, uma taxa constante e elevada.

Teremos esse desemprego alto até que a reforma da Previdência venha?

Nem sei se a reforma da Previdência seria suficiente para reduzir o desemprego, há um quadro de estagnação. Pode ser que a aprovação não só da Previdência, mas de outras reformas, como a tributária, e as privatizações animem os empresários, e eles decidam começar a investir. Mas nada está garantido, pois os investimentos públicos estão diminuindo para fazer ajuste fiscal. As perspectivas são ruins para os próximos anos.

Desempregados há muito tempo vão conseguir se recolocar?

Quanto mais tempo fora do mercado, mais difícil fica se encaixar. As qualificações vão depreciando. Estudos mostram que os jovens que estão se formando agora, num período de crescimento muito baixo e desemprego alto, têm mais probabilidade de entrar em atividades ilegais. Especialmente para os jovens, a situação é muito difícil. Terminam o ensino médio, só que o mercado não está absorvendo os mais jovens. Não vão ser atendidos por programa social, não têm acesso ao seguro-desemprego. Acredito que o governo está pensando em estender o Bolsa Família a jovens, desde que se inscrevam em cursos profissionalizantes ou no EJA (ensino de jovens e adultos).

Qual a sua opinião sobre a carteira verde e amarela?

O peso dos encargos na folha de salários é excessivo. Grande parte deles não beneficia nem o trabalhador nem o empregador. Uma redução seria bem-vinda. Mas estudos mostram que a maior parte das alterações nos encargos no Brasil tende a provocar mudanças nos salários, mas não gerar empregos. Para elevar a geração de empregos seria necessário aumento de produtividade que reduzisse os preços ou que as empresas previssem alta na demanda. Como o desemprego está alto, os investimentos do governo estão declinando, o salário está estagnado, as famílias endividadas e o setor externo em banho-maria, não há perspectivas de aumento de demanda no futuro próximo.