Em comemoração ao Dia Mundial da Água, o  Acadêmico José Galizia Tundisi, coordenador do Grupo de Estudos sobre Recursos Hídricos da ABC, elencou recomendações para políticas referentes à água.

A água é um recurso natural estratégico para a sobrevivência de todas as espécies de plantas e animais do Planeta Terra. Para a espécie humana, a água tem um papel fundamental na saúde, na qualidade de vida das populações e no bem estar. Também os recursos hídricos são de enorme importância no desenvolvimento econômico de países, regiões e continentes.

Apesar de todas estas relevâncias, ainda, de acordo com as últimas informações das Nações Unidas há 844 milhões de pessoas sem serviços básicos de água no Planeta Terra: 2,1 bilhões carecem de água potável e 4,5 bilhões não têm acesso a saneamento básico seguro.

A poluição de água está piorando: água e saneamento necessitam de investimentos. A formação de especialistas ainda é insuficiente, e os ecossistemas e seus serviços estão em declínio contínuo.

A solução destes problemas é possível, mas o primeiro passo é que a questão da água seja tratada como prioridade: é fundamental que haja compreensão da sua importância para o desenvolvimento sustentável.

Ações urgentes são necessárias para que este objetivo seja atingido. O monitoramento da qualidade e quantidade de água precisa ser alimentado com mais e melhores dados. Planejamento é uma outra questão básica: é preciso que ele considere a implementação da gestão integrada dos recursos hídricos por bacias hidrográficas. A ideia deve ser proporcionar serviços de distribuição de água, coleta e tratamento de esgotos e saneamento básico para todos, eliminando as desigualdades. Para tanto, é necessário assegurar a participação pública na tomada de decisões.

E quem terá o conhecimento necessário para garantir essas ações? Desenvolver o treinamento técnico adequado de especialistas é outra ação básica, assim como utilizar tecnologias inteligentes no monitoramento e gestão.

Enfim, é preciso adaptar as cidades, núcleos urbanos e as megacidades às mudanças globais, que interferem no ciclo da água e alteram disponibilidade, causando desastres com secas e enchentes.

Foco no Brasil

Em nosso país, há cinco problemas principais relacionados ao ciclo da água e seu papel fundamental, econômico, ecológico e social.

É preciso estabelecer coleta e tratamento de esgotos para 100% da população em todas as regiões. É urgente a instalação de saneamento básico em todo o país, eliminando as desigualdades. Para trabalhar nestes processos, é necessária a capacitação de pessoas especializadas, com visão interdisciplinar.

Os avanços, porém, só ocorrerão se o conhecimento na área for ampliado e, para tanto, são fundamentais estudos estratégicos sobre disponibilidade hídrica, mudanças globais, escassez hídrica, efeitos na economia e saúde humana. E alguns conceitos têm que ser esclarecidos para que a coisa funcione, especialmente a distinção entre desenvolvimento e modernização no processo de gestão hídrica integrada.

Qualidade da Água nas Américas: Riscos e Oportunidades

Em homenagem ao Dia Mundial da Água, a Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) lançou o livro “Qualidade da Água nas Américas: Riscos e Oportunidades”, disponível em espanhol e inglês.

A publicação é oriunda do esforço de academias de ciências de 21 países das Américas e é o trabalho de um time de 148 autores, todos especialistas em diferentes aspectos das ciências voltadas para os recursos hídricos. O capítulo referente ao Brasil ficou sob responsabilidade da ABC e foi organizado pelos acadêmicos José Galizia Tundisi e Carlos Eduardo de Matos Bicudo.

Os objetivos do trabalho são identificar e analisar problemas específicos relacionados à qualidade da água e propor sugestões para uma melhor gestão. O livro ainda contém uma avaliação da qualidade da água superficial e subterrânea, seu impacto no consumo humano, na agricultura e nos serviços ecossistêmicos de cada país.

Sobre o autor

José Galizia Tundisi é especialista em ecologia, limnologia com ênfase em gerenciamento  e recuperação de ecossistemas aquáticos. Professor titular aposentado da Universidade de São Paulo, atua na pós-graduação da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade Feevale, Novo Hamburgo orientando mestres e doutores. É presidente da Associação Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA) e pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (IIE) É secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia da Prefeitura Municipal de São Carlos – SP.