O Brasil tem investido mais em educação, os brasileiros têm acumulado mais anos de estudo, mas a produtividade do país continua parada. Buscando interpretar essas estatísticas e propor soluções para o problema, o Acadêmico Naercio Menezes Filho realizou, durante o Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC Regional São Paulo 2019-2023, conferência intitulada “Educação e Crescimento com Justiça Social”. O evento aconteceu no dia 14 de março, no Auditório István Jancsó – Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Universidade de São Paulo (USP).

O Acadêmico Naercio Menezes Filho durante a conferência.

A educação desempenha um papel fundamental no crescimento do país com justiça social. É por meio dela que a produtividade de pessoas e empresas aumenta, e é essa produtividade que leva ao crescimento econômico de um Estado. Como a elite econômica sempre se educa primeiro, são os avanços posteriores na área que auxiliam os mais pobres, promovendo assim a redução das desigualdades sociais.

Coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Menezes Filho cita como um exemplo positivo o programa social Bolsa Família, que executa a transferência de renda sob a condição das crianças e adolescentes da família estarem matriculados na escola. “O sucesso final do Bolsa Família será quando ele não for mais necessário, quando as pessoas, através da educação e da saúde, conseguirem autonomia no mercado de trabalho formal”, complementa o economista.

O assunto é especialmente relevante para o Brasil, um país com desigualdade econômica extrema, onde o 1% mais rico da população ganha 102 vezes mais que os 50% mais pobres da população. Se comparado aos países europeus, a minoria mais rica do Brasil fatura até mais que a mesma categoria na Europa, enquanto os 50% mais pobres no continente europeu recebem 5 vezes mais do que a classe equivalente no Brasil.

Fonte: Naercio Menezes FilhoAssouad, Chancel e Morgan (2018)

O Acadêmico observou que, a partir da década de 90, a desigualdade no país foi sendo reduzida, simultaneamente à melhora na educação. Ainda assim, a produtividade brasileira ficou estagnada. Este problema pode ter sido causado pela baixa qualidade na educação, a deficiência em algumas habilidades socioemocionais, como a perseverança, a falta de concorrência na economia e o clima de negócios, com impostos altos e pouca infraestrutura.

“A loteria da vida”

Segundo o Centro para o Desenvolvimento da Criança da Universidade de Harvard, o primeiro ano de vida é crucial para o desenvolvimento das conexões neurais para as vias sensoriais (visão, audição), linguagem e funções cognitivas mais elevadas. Logo, Menezes Filho aponta, se a criança tiver problemas nessa fase, como a convivência em ambiente tóxico, estressante, com uma família desestruturada, terá dificuldades para o resto da vida.

Isso tem a ver com o que o Acadêmico chama de loteria da vida: “Se você teve sorte de nascer numa família mais bem estruturada, com um nível socioeconômico melhor, você tem uma probabilidade muito maior de se dar bem na vida do que se você nasceu numa família mais pobre, com mais dificuldades. Não significa que é impossível para uma família mais pobre se desenvolver, mas é muito mais difícil. O Brasil tem uma mobilidade muito baixa”.

O desempenho dos estudantes brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa)

Menezes Filho falou das habilidades socioemocionais a partir também dos dados sobre o desempenho dos estudantes brasileiros no Pisa. O programa é uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada de forma amostral a estudantes matriculados a partir do 7º ano do ensino fundamental, na faixa etária dos 15 anos, coordenada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Na edição de 2015, mais da metade dos alunos ficaram abaixo do nível básico da Pisa. O Acadêmico destacou que os estudantes muitas vezes nem chegam ao fim da prova. “Eu estou interpretando isso como falta de persistência dos alunos brasileiros, falta de vontade, falta de ir atrás e resolver as coisas que não tem retorno imediato para eles. E pode ser um dos fatores que fazem com que a produtividade esteja parada no Brasil”, ele declarou.

Fonte: Naercio Menezes Filho

Sobral, Ceará: um caso de sucesso

O economista pautou em sua apresentação a cidade de Sobral, no Ceará, como um exemplo a ser seguido pelos demais municípios brasileiros. Segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação (MEC), 77 das 100 melhores escolas públicas de ensino fundamental do país ficam no Ceará. No caso de Sobral, a cidade chega a superar a média nacional na avaliação do Ideb.

Fonte: Naercio Menezes Filho

O que deu certo em Sobral? O Acadêmico enumera alguns fatores: foco no desenvolvimento infantil (alfabetização, monitoramento de escolas, avaliação do progresso de todos os estudantes), prestação de contas (diretores e professores são responsáveis pelo sucesso ou fracasso dos alunos), recompensa para diretores que alcançam as metas e continuidade das políticas educacionais.

Sendo assim, para o economista, o foco no desenvolvimento infantil e na meritocracia na educação se apresenta como uma ótima alternativa para o crescimento da produtividade no Brasil.