Leia matéria do jornalista Cesar Baima para o jornal O Globo, publicada em 2 de janeiro de 2019:

O discurso de posse do astronauta Marcos Pontes no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) agradou a representantes da comunidade científica brasileira, que esperam ver a promessa de priorizar a área transformada em realidade no novo governo do presidente Jair Bolsonaro.

Pontes, que disse querer os cientistas brasileiros “nas capas dos jornais”, afirmou que pretende investir na formação de pesquisadores por meio do incentivo ao interesse pelo campo nos ensinos fundamental e médio.

“É uma iniciativa realmente louvável procurar trazer a ciência para a educação básica. Certamente apoiamos isso” — avaliou Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). “Mas não pode ser apenas uma ciência ‘cuspe e giz’. É preciso desenvolver o espírito crítico, o hábito de duvidar e fazer perguntas, o uso do método científico para estimular o interesse dos jovens.”

Segundo Davidovich, porém, para tanto são necessários mais recursos para área, numa reversão dos cortes nos investimentos públicos em ciência dos últimos cinco anos. “Os cientistas brasileiros já têm ocupado as primeiras páginas dos jornais com suas pesquisas, prêmios e participações em grandes colaborações internacionais. Temos um matemático ganhador da Medalha Fields (o “Nobel” da área, concedido a Artur Avila em 2014)”, lembra. “Falta é apostar em nossos jovens pesquisadores, dando oportunidade para que trabalhem na fronteira do conhecimento. E isso implica ter condições de trabalho, equipamentos, diminuindo a distância do Brasil para o resto do mundo neste sentido, que por enquanto só aumenta.”

Ainda de acordo com Davidovich, só assim também será possível estancar a consequente “fuga de cérebros”, sinalizando aos jovens nas escolas a viabilidade, e a recompensa, de seguir uma carreira científica. “Esperamos que os recentes cortes nos investimentos sejam revertidos e que a ciência, tecnologia e inovação de fato passem a ser prioridade altíssima no projeto de desenvolvimento do país do nopvo governo”, conclui.

Para isso, a comunidade científica conta que Pontes, ex-oficial da Aeronáutica, use seu acesso direto a Bolsonaro.

“Desde a indicação de Pontes digo que ele é sem dúvida um nome interessante para o ministério”, destaca Jerson Lima Silva, professor do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IbqM), da UFRJ, que assume nesta quinta-feira a presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). “Além de um nome mais técnico que político, é algo muito bem-vindo para a ciência e tecnologia ter alguém no comando do ministério com acesso à Presidência.”

Silva também aplaudiu a intenção de Pontes de aumentar o estímulo e interesse pela ciência na educação básica.

“Acontece lá na UFRJ de pegarmos um aluno que entrou no curso porque tinha afinidade com biologia mas tem pouco interesse por matemática”, exemplifica. “Mas se se quer fazer pesquisas em biofísica e bioquímica é preciso ter uma base sólida em matemática. Há uma interdisciplinaridade muito grande na ciência de ponta hoje. Mesmo em Humanidades muitas pesquisas precisam usar ferramentas estatísticas e, novamente, isso envolve matemática. Então o estímulo tem que ser geral. Na fase de 12 a 20 anos o jovem está com a cabeça a mil, e precisamos incentivar esta curiosidade.”