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Encerrando a programação do evento “Promoting Gender Equity in Science”, o Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, recebeu o workshop “Promovendo a Equidade de Gênero na Ciência: A Visão dos Jovens Cientistas”, na manhã do dia 22 de agosto. A atividade envolveu representantes de 13 países latino-americanos, que compartilharam suas experiências pessoais e levaram ao conhecimento do público dados e estatísticas que quantificam a presença da mulher na ciência em seus países de origem.

O workshop, dividido em três partes, teve na primeira sessão a participação das cientistas Vania Flores (Universidad Mayor de San Andrés, Bolívia), Patricia Zancan (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil), Melissa Ruiz (Universidad Iberoamericana, República Dominicana) e Valeria Ochoa (Universidad San Francisco de Quito, Equador).

A bióloga Vania Flores apresentou os resultados de um questionário que realizou com 72 mulheres cientistas de seu país. Ela chegou à conclusão que a maioria das entrevistadas recebeu o apoio da família e do parceiro na escolha da carreira e nunca se sentiu limitada por seus professores ou colegas em relação ao gênero, mas, ao procurarem emprego ou fundos para pesquisa, tiveram que lidar com dificuldades impostas pela discriminação de gênero.

Flores incentivou as cientistas a realizarem suas contribuições na área, deixando assim mais exemplos e inspirações para meninas que desejem seguir a carreira de cientista. “Nós temos que mostrar que estamos vivas e fazendo ciência”, afirmou a boliviana.

Patricia Zancan, farmacêutica e doutora em química biológica, revelou informações importantes sobre a equidade de gênero na ciência brasileira e falou sobre sua experiência como pesquisadora em um país onde a ciência tem sofrido com cortes no investimento. A farmacêutica se baseou na pesquisa Cenário do Gênero na Pesquisa Global, realizada pela empresa de informações analíticas Elsevier.

 

Finalizando o primeiro ciclo de palestras, a engenheira ambiental Valeria Ochoa também falou sobre os desafios enfrentados pelas cientistas em seu país e apresentou o projeto WISE: Mujeres en Ciencia e Ingeniería, do qual foi co-fundadora na Universidad San Francisco de Quito. A equatoriana estimulou as jovens cientistas a trabalharem juntas, a construírem suas redes de contato e formarem uma comunidade. Finalizando sua apresentação, ela citou o provérbio africano: “Se você quer ir rápido, vá sozinha. Se você quiser ir longe, vá acompanhada”.

Dando sequência à atividade, as cientistas Ingrid Alfaro (Universidad de El Salvador), Susana Arrechea (Universidad de San Carlos de Guatemala), Myriam Hyppolite (Université d’État d’Haiti) e o cientista Johan David Chávez (Universidad Nacional Autónoma de Honduras) fizeram apresentações.

A engenheira química Susana Arrechea tratou de  atividades que encorajam meninas à seguirem carreira nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Para estas jovens alcançarem seus objetivos, Arrechea ressaltou que deve haver uma transformação dos estereótipos de gênero na sociedade, bem como ações políticas que promovam a igualdade entre homens e mulheres.

A cientista também falou sobre a relação entre pobreza e ciência, e como a necessidade de estabilidade financeira é um desafio para aquelas que desejam seguir o caminho da pesquisa científica. O tema também foi abordado pelo biólogo Johan David Chávez, que apresentou  alguns dados sobre a presença feminina em diversos campos de estudo na universidade.

Concluindo o workshop, participaram ainda as cientistas Taneisha Edwards (University of the West Indies, Jamaica), Fania Kadiria Mendoza (Universidad Centroamericana, Nicarágua), Viviana Garabano (Universidad Nacional de Asunción, Paraguai), Carla Arimborgo (Universidad Peruana Cayetano Heredia, Peru) e Sophia Balfour (University of the West Indies, Trinidad & Tobago).

Graduada em biotecnologia clínica, Fania Kadiria Mendoza compartilhou com muita emoção sua experiência pessoal e lembrou como foi positivo o apoio de sua família em sua carreira. Ela contou que sempre foi muito curiosa, e seus pais sempre a estimularam a desenvolver esta característica. Além disso, eles nunca lhe impuseram barreiras por ser menina: “Subi em árvores, joguei bola, fiz tudo o que quis fazer, lembrou a cientista.

Já a bióloga Carla Arimborgo relatou os processos que teve que realizar para preparar sua apresentação. Ela contou que, conversando com colegas e estudantes, se questionaram quais seriam os desafios que as mulheres enfrentam na ciência, já que não se lembravam de terem sentido algum tipo de discriminação na área. A cientista concluiu que, salvo alguma piada fora de lugar, “um comentário incômodo sobre se a saia era muito curta ou os lábios muito vermelhos” que não teve repercussão, ela e as colegas não percebiam as dificuldades que enfrentam por viverem numa cultura patriarcal e terem normalizado muitas condutas.

Ao final de cada sessão, as ouvintes puderam fazer perguntas às palestrantes e também compartilhar suas próprias experiências. As trocas promovidas pelo workshop foram muito relevantes para debater a presença da mulher não só na ciência, mas na sociedade de modo geral. As palestrantes, cada uma representando seu país, comprovaram que as cientistas da América Latina têm vários problemas em comum, mas também possuem o mesmo entusiasmo para combater a desigualdade de gênero na ciência.

Saiba mais sobre o evento “Promovendo Equidade de Gênero na Ciência”:

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Meninas e Mulheres presentes na Ciência

Confira os projetos apresentados na sessão “Promovendo a Equidade de Gênero na Ciência: Experiências Brasileiras”:

“Contando Nossa História”, “Engenheiras da Borborema” e “Tem Menina no Circuito”
“Meninas na Ciência”, “Energéticas” e “ProgrAmazonas”
“Meninas no Museu”, “Parent in Science”, “Ciências da Terra – ON” e “NINA”