A ciência influencia a música, influencia as letras, influencia as mentes e, por consequência, a arte, a forma de fazer arte e a imaginação. Os novos materiais influenciam as tintas e, as novas tintas, a forma de se expressar nas artes. As novas biotecnologias influenciam no envelhecimento e isso muda a percepção do tempo e, por consequência, das relações humanas. Controlar o envelhecimento passa a ser uma forma de arte biológica. A tecnologia – a ciência aplicada do conhecimento –  se transforma, se recicla e transforma as pessoas.

Esta visão ampla e interativa da ciência é característica de Tiago Veiras Collares, gaúcho nascido em 1977, na cidade de Pelotas. Filho mais velho dos três do casal Jerônimo Collares e Anna Marisa Veiras Collares, irmão da advogada Lara Collares e da designer Lanna Collares, Tiago já é pai de dois filhos: Afonso e Alice, frutos do casamento com a pesquisadora Fabiana Kommling Seixas.

Passou a infância na cidade de Pelotas, onde reside até hoje.  Na infância, gostava de ficar na rua brincando com os amigos.  “Fiz parte de uma geração em que o convívio entre as pessoas era mais importante que os jogos virtuais, ainda que admirasse e desfrutasse das tecnologias da época desde pequeno”, reflete Tiago.

As brincadeiras ao ar livre e o convívio com os animais estimularam sua curiosidade científica. Na escola, gostava de biologia e química, já pensando de forma multidisciplinar. “Sempre tive dificuldade em manter-me motivado a aprender matérias isoladas”. Entender como fatores químicos podem influenciar o campo físico e biológico, interferindo nos genomas por gerações, evidenciariam, mais tarde, a multidisciplinaridade científica que o interessava –  como, por exemplo, compreender a complexidade do câncer.

Ingressou no curso de biologia da Universidade Federa de Pelotas no ano de 1997,  o que coincidiu com um marco científico: a apresentação do primeiro mamífero clonado, a ovelha “Dolly”. Este acontecimento despertou sua curiosidade e foi ponto decisivo para definir seu caminho científico.

Como estudante de mestrado e doutorado em biotecnologia, organizou o livro “Animais Transgênicos: princípios e métodos”, lançado pela Editora da Sociedade Brasileira de Genética,  que teve a participação de autores nacionais e internacionais. A obra foi uma importante contribuição na popularização da ciência sobre o tema no Brasil. Mais tarde, nos Estados Unidos, integrou grupo de pesquisa na geração de clones de suínos geneticamente modificados para o estudo do câncer humano, os oncopigs.

As ciências biomédicas foram o foco principal na sua carreira acadêmica. No entanto, o contato com modelos animais exigiria uma qualificação complementar. Os estudos  em genômica e biotecnologia realizados no curso de ciências biológicas foram  qualificados com o curso de graduação em medicina veterinária e, mais tarde, consolidados pelo mestrado (2004), doutorado (2007) e pós-doutorado (2013), em biotecnologia.  “A oportunidade de ter sido bolsista de iniciação cientifica do CNPq foi propulsora no meu caminho pela ciência. Agradeço ao meu orientador de IC e de doutorado, o professor e amigo, Dr. João Carlos Deschamps pelas oportunidades e conselhos”, diz Collares.

A ciência biomédica, em sua opinião, encanta por sua natureza multidisciplinar. “A área captura os pesquisadores pelos desafios infinitos a serem compreendidos e solucionados, de forma inteligente e coletiva”, afirmou o cientista. O estudo do câncer pode ser considerado um destes surpreendentes desafios científicos. O afiliado recentemente publicou artigos científicos que apresentam os principais desafios de desenvolver um modelo biológico complexo para o estudo do câncer e para os ensaios pré-clínicos robustos.

Tiago Collares considera que o desenvolvimento científico depende dos avanços em ciências básicas e que o desenvolvimento tecnológico depende dos avanços em ciências aplicadas. Para ele, “isso impulsiona nosso protagonismo na compreensão das relações humanas e com a natureza e na busca constante de formas inteligentes, de modo que possamos modelar e editar o que permeia essas relações”, avaliou.

Ele conta que sempre teve uma vida simples e que seus maiores prazeres na vida envolvem a convivência com a família, os amigos e pessoas mais velhas. “Gosto de observar o outro como ser humano. Adotei um estilo de vida focado no trabalho cientifico, mas intercalado com a vida familiar e os amigos”, diz Collares.

Para o Acadêmico, coordenar um grupo de pesquisa multidisciplinar é fascinante e desafiador. Tiago Collares orientou diversos estudantes e recebeu vários prêmios e homenagens. De acordo com o pesquisador, sua equipe foi a grande responsável por suas conquistas. “Estar rodeado de profissionais altamente qualificados para fazer ciência de fronteira torna meu trabalho algo muito gratificante. Propor e implementar inovações nas áreas biomédicas é um constante desafio a todas as equipes de pesquisa nesta área”, entusiasma-se o cientista.  Hoje, o grupo de Oncologia Celular e Molecular do Laboratório de Biotecnologia do Câncer da UFPel, que coordena com a pesquisadora Fabiana Seixas, conta com cerca de 30 profissionais das áreas das ciências da vida nos níveis de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. “Nosso grupo desenvolve ciência básica e aplicada. Buscamos entender e aplicar os processos biológicos”, afirma.

Seu grupo trabalha em colaboração constante com outros grupos de pesquisa com a mesma filosofia: a multidisciplinaridade e os desafios de impacto. “Temos utilizado e aprimorado sistemas de triagem celular in vitro para avaliação de compostos sintéticos, compostos naturais e quimioterápicos nanoencapsulados contra o câncer de bexiga, câncer de mama e câncer de pulmão”, relata Collares. Em dez anos, publicaram cerca de 80 artigos científicos e registraram 32 patentes.

Collares destaca que os grupos científicos são compostos por pessoas que, juntas, são propulsoras de ações propositivas para mudar a ciência. Saber trabalhar em colaboração na diversidade e nas limitações financeiras, em sua visão, quase que torna a eficiência obrigatória. “Ao longo de minha carreira de pesquisa não obtive financiamentos e aportes robustos de recursos. Assim, passei  a acreditar que a forma mais eficiente de trabalhar é compartilhando as atividades em redes de colaboração com metas de impacto cientifico e social bem estabelecidas. Tive a sorte de ser sempre bem recebido e compreendido por grandes pesquisadores deste país que me ajudam até hoje. Espero fazer o mesmo por outros jovens cientistas que estão nesta estrada”, ressaltou o Acadêmico.

Ele aponta para o fato de que ser membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências é, sem dúvida, o maior reconhecimento que um jovem pesquisador pode receber no Brasil de hoje. “Pretendo atuar no diálogo com a comunidade científica a fim de construir redes inteligentes de colaboração entre pesquisadores das mais diversas áreas, para que possamos elaborar projetos coletivos de impacto para o Brasil” , conclui Tiago Collares.