No Brasil e Paraguai e, em menor proporção, na Bolívia e Uruguai, há mais de 200 registros de ocorrência de rochas magmáticas alcalinas, como são chamadas formações rochosas geradas pelo resfriamento ou solidificação do magma e compostas, principalmente, pelos minerais feldspatos, feldspatoides, anfibólios e piroxênios alcalinos.

Um grupo de pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IG-USP), em colaboração com colegas de universidades italianas, tem se dedicado a estudar desde 1980 esse tipo de rocha, formada há até quase 240 milhões de anos, no Brasil e em países fronteiriços.

foto-celso_de_barros.pngOs resultados mais recentes desse estudos, realizados pelos pesquisadores no âmbito de projetos coordenados pelo professor sênior do IAG, Celso de Barros Gomes, estão reunidos no livro Magmatismo alcalino continental da região meridional da plataforma brasileira, publicado pela Edusp também com apoio da Fundação.

“Procuramos dar uma visão geral das mais de 200 ocorrências dessas rochas no Brasil e Paraguai, além da Bolívia e Uruguai, e apresentar um grande volume de dados, acumulados sobretudo a partir de 2005, sobre diversos aspectos dessas rochas, como geologia, petrografia [análise das características estruturais, mineralógicas e químicas], mineralogia, geoquímica, petrologia [mecanismos físicos, químicos e biológicos que formam e transformam as rochas] e geocronologia”, disse Gomes à Agência FAPESP. Ele é um dos organizadores do livro juntamente com Piero Comin-Chiaramonti, professor da Universidade de Trieste, na Itália.

De acordo com Gomes, além do Brasil, Paraguai e, em menor proporção, na Bolívia e no Uruguai, as rochas magmáticas alcalinas são também encontradas nos continentes europeu, africano e norte-americano.

No Brasil, essas rochas ocorrem predominantemente nas margens das bacias sedimentares do Paraná, Bauru e Santos e apresentam uma grande variação de composição, tipos petrográficos e modos de ocorrência. A maior parte delas é composta por variedades intrusivas – formadas abaixo da superfície – e hipoabissais – em um estado de transição entre as rochas intrusivas e as vulcânicas – e, em menor parte, vulcânicas.

“As variedades intrusivas têm tamanho bastante variável. A maior parte tem dimensão diminuta e é limitada geograficamente. Mas outras, como as encontradas em Poços de Caldas, em Minas Gerais, Itatiaia e Passa Quatro, no limite entre Minas Gerais e São Paulo, têm grande expressão superficial e atingem dimensões quilométricas”, disse Gomes. “Mas sua extensão não se compara com as das rochas graníticas ou basálticas, que têm expressão superficial muito maior”, comparou.

O período de formação das rochas alcalinas é muito abrangente, cobrindo desde o período Mesozoico – entre 251 milhões e 65,5 milhões de anos atrás – ao Cenozoico – que se iniciou há 65,5 milhões de anos e se estende à atualidade. O maior número de ocorrências, contudo, data do período Cretáceo – entre 145 milhões e 65 milhões de anos.

As manifestações mais antigas estão situadas na divisa do Brasil com o Paraguai, ao longo do Estado do Mato Grosso do Sul e do Rio Paraguai, e datam de 240 milhões de anos. Já as manifestações mais recentes estão localizadas no Rio de Janeiro, nos municípios de Itaboraí e Volta Redonda, e em São Paulo, nos municípios de Jaboticabal e Taiúva, e foram formadas há 50 milhões de anos, explicou o pesquisador.

“No Brasil ocorreram dois picos de manifestação de rochas alcalinas: um em torno de 130 milhões de anos e outro entre 80 e 90 milhões de anos”, afirmou Gomes.

Importância econômica
Além do interesse científico, as rochas alcalinas também têm grande importância econômica em razão dos carbonatitos a elas associados. Essas rochas são fontes principalmente de nióbio – usado como liga na produção de aços especiais e um dos metais mais resistentes à corrosão e a temperaturas extremas – e fosfato – utilizado na agricultura para produzir fertilizantes, além de terras-raras, como titânio e vermiculita, que não é mais explorada comercialmente.

Em sua maior parte, essas rochas compostas por mais de 50% de minerais carbonáticos, como a calcita, a dolomita e ankerita, ocorrem na forma de um manto de rochas alteradas física e quimicamente (intemperismo) que pode atingir até 250 metros de espessura, como as encontradas no Vale do Ribeira, em Catalão, em Goiás, e em Araxá, em Minas Gerais, onde está localizado o principal depósito de nióbio do Brasil.

A exceção a esse padrão de formação de carbonatitos no país pode ser encontrada em Jacupiranga, no Vale do Ribeira, em São Paulo, onde essas rochas afloram como “rochas frescas”.

A exploração dessas rochas na cidade paulista, contudo, pode se esgotar em poucos anos. Quando começaram a ser exploradas, em meados da década de 1950, essas rochas afloravam a dezenas de metros acima do nível do mar; hoje estão a dezenas de metros abaixo desse nível.

“No decorrer desse anos, foram extraídos grandes volumes de materiais dessas rochas, o que, consequentemente, baixou o nível topográfico delas. Há uma grande possibilidade de esgotar a fonte nos próximos anos”, disse Gomes.

De acordo com o pesquisador, não há registro recente de novas fontes de carbonatitos de interesse econômico no Brasil. Mas é perfeitamente possível encontrar novas fontes em razão das condições favoráveis de alterações físicas e químicas de rochas frescas.

Os custos de levantamentos geoquímicos e de estudos de sondagem para identificar rochas de interesse comercial e viabilidade de exploração, contudo, são muito altos, ponderou.

“Nosso trabalho é essencialmente científico, mas também serve de subsídio para estudos voltados à identificação de rochas de interesse econômico”, afirmou Gomes.