jguima-250.jpg Há dois anos à frente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o Acadêmico Jorge Guimarães tem reunido esforços para levar o Brasil a melhores posições no ranking da produção de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Durante a 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Guimarães apresentou um panorama dos impactos da ciência brasileira no mundo e deu o diagnóstico: “Precisamos aumentar o percentual do PIB [Produto Interno Bruto] que é aplicado em ciência e mudar a lógica dos investimentos em PD&I [pesquisa, desenvolvimento e inovação], elevando a participação do setor privado”, afirmou Guimarães.
O presidente da Embrapii ministrou palestra na manhã de terça-feira, 18 de julho, quando mostrou números que revelam o que países como Israel, Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos e China fizeram para estarem no grupo da chamada “Liga da Ciência”, conforme batizou Guimarães. “Eles aplicam anualmente em ciência e tecnologia 2% ou mais do PIB e contam com 3 mil cientistas e engenheiros por milhão de habitantes”, afirmou Guimarães. “Eles somam apenas 18 países, que estão dentro do grupo dos desenvolvidos. Desse percentual aplicado em ciência, 70% ou mais são recursos que provêm de empresas privadas”, acrescentou o Acadêmico.
Enquanto isso, do lado brasileiro, segundo Guimarães, foram aplicados, em 2013, 1,2% do PIB em ciência. No mesmo período, existiam 700 cientistas e engenheiros por milhão de habitantes. “60% dos recursos direcionados a P&D eram públicos. Os dados são de um período em que a Petrobras participava ativamente desses 1,2% do PIB o que, com a crise, não acontece mais”, observou Guimarães.
Para o presidente da Embrapii, os cursos de pós-graduação no Brasil continuam formando muitos profissionais, um sinal bastante positivo. Ainda assim, segundo ele, o país deveria triplicar o número de cientistas e engenheiros O Acadêmico também enxerga que o Brasil deveria aplicar, no mínimo, 2% em PD&I. Em números reais, isso equivaleria a um aporte adicional de US$ 24 bilhões por ano sobre o percentual aplicado hoje.
“Infelizmente, diante do cenário atual, eu perdi essa expectativa no curto prazo”, lamentou Guimarães, que logo em seguida apontou um desafio mais próximo de solução: chamar a iniciativa privada a investir em PD&I. “Hoje o governo aplica 60% em PD&I e as empresas, 40%. Na Embrapii, nós atuamos para inverter essa lógica. Hoje, 42% dos recursos são da Embrapii e 58% da iniciativa privada. Precisamos atrair a participação de empresas no percentual de investimentos brasileiros”, salientou.
Ciência é desenvolvimento social
A uma plateia formada por estudantes e pesquisadores, entre eles a ex-presidente da SBPC e Acadêmica Helena Nader, o vice-presidente da ABC, João Fernando Gomes de Oliveira e o vice-presidente da ABC para a Região Sul, João Batista Calixto, Guimarães apresentou números que revelam o quanto o desenvolvimento da ciência está atrelado diretamente ao bem-estar social. Em 29º lugar no ranking mundial de Ciência e Tecnologia (C&T), aplicando 1,2% do PIB em C&T, o Brasil contam com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,744, o que o coloca na 79º posição no mundo.
Enquanto isso, a Coreia do Sul, que investe 4,2% do PIB em C&T e é a segunda no ranking mundial da ciência, tem IDH de 0,891 e está em 15ª posição. “O milagre da Coreia do Sul está nos investimentos em ciência e educação. E nós estamos abandonados. Menos de 7% da população brasileira têm nvel superior no Brasil. Como vamos mudar nosso Congresso com esse nível de formação?”, questionou Guimarães.
No que tange à cooperação internacional, o presidente da Embrapii avalia que a relação é quantitativamente desbalanceada e tecnicamente assimétrica, sendo mais prejudicial do que benéfica para o Brasil. Para o Acadêmico, o país precisa fazer o dever de casa e ampliar as parcerias. “Há países com alta cooperação internacional, como o Vaticano, mas com baixa produção científica”, afirmou Guimarães, destacando a necessidade de que a cooperação leve ao fortalecimento das pesquisas nacionais.
“Fizemos cooperação com Alemanha, França e Estados Unidos, embora esta tenha sido muito individualizada. Mas se nós não tivéssemos feito o dever de casa, não teria adiantado nada”, acrescentou Guimarães, ressaltando o bom exemplo dos estudos na área de zika vírus. “Se não tivéssemos apostado em qualificação de grupos, não teríamos essas 200 mil pessoas altamente qualificadas, pesquisadores seniores, atuando em pesquisas na área. Isso sem contar os pesquisadores inciantes. Temos algo a oferecer. Por isso a cooperação nessa área é alta”, apontou.
Além desse campo, há muitas outras áreas cientificas em que o Brasil ocupa posição de destaque, em segundo e quarto lugares. Destacam-se a medicina tropical, agricultura, odontologia, parasitologia e, recentemente, zika e microcefalia. A liderança brasileira regional e mundial também aparece em setores como extração de petróleo em águas profundas, engenharias, agricultura tropical, indústria de papel e celulose, automação bancária, produção de aeronaves, plataformas marítimas, indústria metal mecânica, álcool e biocombustíveis.
Mesmo estando em primeiro no ranking de produtividade em pesquisa entre os países da América Latina no período de 2000 a 2015, o Brasil apresenta uma cooperação internacional entre esses países bastante tímida. Enquanto a média da América Latina está em 58%, o percentual de cooperação do Brasil está em 27,9%. “Estamos na lanterna”, ressaltou Guimarães. “Isso mostra que o Brasil não está buscando estreitar a cooperação com os países vizinhos”, apontou o presidente da Embrapii.
Para Jorge Guimarães, o Brasil vem obtendo avanços na produtividade em pesquisa por conta do forte programa de pós-graduação, sendo, portanto, “um típico desenvolvimento doméstico”. No entanto, segundo ele, é preciso que haja uma cooperação internacional quantitativamente balanceada e simétrica. “Sem isso, não será possível que o país alcance níveis de desenvolvimento adequados para fazer frente aos seus grandes desafios sociais e econômicos”, concluiu.
Sobre o palestrante
Antes de assumir a presidência da Embrapii, em agosto de 2015, Jorge Guimarães foi presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por 11 anos, entre 2004 e maio de 2015. Durante sua passagem pela instituição, obteve êxito no desenvolvimento do sistema de Pós-Graduação e no aumento da produção de conhecimento científico brasileiro. Além de Pesquisador Sênior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Guimarães foi professor da Universidade Federal Rural (UFRRJ), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).