O Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da Regional Norte da Academia Brasileira de Ciências (ABC), eleitos para o período 2016-2020, reuniu representantes de alguns Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) para apresentarem as atividades de pesquisa desenvolvidas na região. O já tradicional evento aconteceu no Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITVDS), em Belém do Pará, no dia 6 de setembro.

O vice-presidente da Regional Norte da ABC, Roberto DallAgnol; Philip Fearnside (INCT Serviços Ambientais da Amazônia); William Magnusson (Cenbam); o presidente da ABC, Luiz Davidovich; Adalberto Val (Adapta); e Marcondes da Costa (Igeovam)

Os INCTs do Norte vêm desenvolvendo importantes pesquisas que visam à proteção e conservação das biotas amazônicas, mas focam também em evolução geológica e recursos minerais e em tecnologias da informação. No entanto, conforme relataram seus representantes, essas atividades estão ameaçadas pela falta de recursos. Diversas pesquisas estão atualmente paradas por conta da descontinuidade do financiamento.

Além disso, os projetos dos atuais INCTs se encontram em fase final e, embora 11 INCTs sediados na região tenham sido recomendados pelo CNPq na avaliação de edital recente, não há garantia de sua efetivação. “O CNPq enfrenta severas limitações de recursos e as FAPs regionais, que apoiaram o desenvolvimento de INCTs aprovados no primeiro edital, não se comprometeram publicamente até o momento com a liberação de recursos”, informou o vice-presidente da Regional Norte da ABC, Roberto DallAgnol.

Há, portanto, grande risco de que redes de pesquisa, reunindo grupos de excelência e outros em fase de consolidação, voltados essencialmente para a Amazônia, sejam desarticuladas e tenham suas pesquisas muito afetadas ou mesmo inviabilizadas.

Adaptação genética

O Acadêmico Adalberto Val, ex-vice-presidente regional da ABC para a região Norte e ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), apresentou o INCT Estudos de Adaptações da Biota Aquática – Adapta, que teve as fases I e II. Este INCT busca gerar informações científicas para as políticas públicas e novos produtos e processos a partir da capacidade de adaptação dos organismos aquáticos da Amazônia, frente às mudanças ambientais – as naturais e as provocadas pelo homem.

A primeira fase do Adapta pretendeu responder duas perguntas: como reagiam diferentes organismos a desafios ambientais, como expansão urbana, e como cada espécie ajustava sua informação genética para responder a mudanças, que podem estar relacionadas a fenômenos como fortes secas e enchentes na região, que afetam esses organismos. Ele deu o exemplo de uma espécie de sardinha que vive nos três tipos de água da região – a branca, como a do Rio Solimões, a preta, como a do Rio Negro, e a clara, como a do Tapajós, o que demonstra sua capacidade genética adaptativa muito grande.

Situações de secas e enchentes na região, nos últimos anos

“A história evolutiva de organismos aquáticos, incluindo as estratégias para enfrentar restrições ambientais, está escondida no DNA dos animais que vivem em rios e lagos hoje”, disse Val. Para estudar esse tema, o INCT Adapta reproduz a atmosfera em quatro cenários diferentes previstos pelo IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – para 2100.

Observou-se, por exemplo, danos ao DNA do tambaqui a partir da exposição à radiação solar. “Os organismos aquáticos tropicais são vulneráveis aos processos de aquecimento global e acidificação.” O Adapta II incluiu em seus estudos a segurança alimentar e propostas para mitigar e minimizar os efeitos das mudanças climáticas na região.

Preservação e biodiversidade

O INCT Serviços Ambientais da Amazônia, apresentado pelo Acadêmico Philip Fearnside, do Inpa, faz estudos do impacto ambiental das ações de devastação na Amazônia e da importância dos serviços ambientais prestados pela floresta. Uma das maiores preocupações de Fearnside é o impacto das hidrelétricas nessa região. Ele afirma que estamos exportando energia para outros países, mas os impactos ficam na Amazônia. Quem paga são os ribeirinhos e indígenas.

Entre os aspectos negativos das hidrelétricas apontados por Fearnside, estão as enormes perdas de transmissão, de cerca de 20% – na Argentina, são apenas 8%. Esse número corresponde à transmissão de Itaipu, no Paraná, para São Paulo. Haverá ainda mais perda no caso da transmissão das novas hidrelétricas da Amazônia, como Belo Monte, para o sudeste.

O Acadêmico William Magnusson, também do Inpa, apresentou o INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia (Cenbam), que coordena uma rede de instituições amazônicas e extra-amazônicas envolvidas em estudos de biodiversidade. O objetivo é a integração da pesquisa da biodiversidade amazônica em cadeias científica-tecnológicas eficientes e produtivas. Isso porque, atualmente, a biodiversidade amazônica não está sendo preservada ou utilizada de forma eficiente por falta de conhecimento científico-tecnológico. A pouca pesquisa que é feita está concentrada nos grandes centros populacionais – Belém e Manaus. Assim, os centros regionais enfrentam um círculo vicioso de falta de recursos, que, a longo prazo, impedem a fixação dos pesquisadores em áreas remotas.

Magnusson falou sobre a Reserva Florestal Adolpho Ducke, de 100 km², situada junto à área urbana de Manaus, onde o Cenbam avalia mudanças ambientais e impactos e modificações de uso da terra, bem como os efeitos de vários tipos de intervenção humana, por meio de um sistema chamado Rapeld. Esse sistema é utilizado em várias regiões do país, pois funciona em áreas perturbadas, desde o Pantanal (veja foto abaixo) à savana. “Ele gera informação biológica, mas não adianta nada se ela não for disponibilizada para os tomadores de decisão.”

Pesquisadores no Pantanal

De acordo com o Acadêmico, cada área da Amazônia tem solos e climas diferentes, então os impactos das mudanças também são respondidos de maneiras distintas. “Não estamos preparados para utilizar os dados gerados. Precisam treinar o pessoal do Ibama, do serviço florestal e envolver habitantes locais para formar núcleos regionais. O que a Amazônia precisa é de um Centro de Capacitação em Biodiversidade.”

O membro afiliado da ABC Alexandre Aleixo (à esquerda na foto, ao lado de João Crisóstomo Weyl, do INCT Redes e Sensores Óticos), do Museu Paraense Emilio Goeldi, apresentou o INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia. Suas linhas de pesquisa abrangem a modelagem de biodiversidade; impactos sobre a biodiversidade; interações socioambientais e mud
anças de uso da terra; análise de custo-benefício entre desenvolvimento e conservação; desenvolvimento de estratégias sustentáveis e divulgação de conhecimento – “Laboratório de Práticas Sustentáveis”; e formação de recursos humanos e Escola da Biodiversidade.

“Esse instituto busca entender que dinâmicas socioambientais ocorrem na Amazônia como um todo, levando em conta que não é um ambiente homogêneo”, afirmou o afiliado. Aleixo comentou, ainda, a importância dos INCTs, agora ameaçados pela escassez de recursos para financiamento da pesquisa. “Eles foram fundamentais para alavancar a ciência brasileira em nível internacional. A maior parte de tudo que saiu nas revistas internacionais foi gerada nos INCTs.”

Geociências e tecnologia da informação

O INCT Geociências Avançadas da Amazônia (Igeovam), apresentado pelo Acadêmico Marcondes da Costa, da Universidade Federal do Pará (UFPA), envolve 14 instituições e empresas parceiras, além de pesquisadores estrangeiros da Alemanha, Estados Unidos, França e Bolívia. Entre seus objetivos estão: aprofundar as pesquisas sobre magmatismo, evolução crustal e metalogênese do Cráton Amazônico; esclarecer a formação do Cráton Amazônico e a geração de seus depósitos minerais; contribuir para a educação em ciências e difusão do conhecimento; e formar recursos humanos na área de geociências.

Cada instituição está vinculada a alguns desses objetivos. O Instituto de Geociências da UFPA, por exemplo, constitui a base central e foca na petrologia, evolução crustal e metalogênese na Amazônia (Carajás). Já os Institutos da USP e Unicamp têm como foco as rochas arqueanas e paleoproterozoicas vulcânico-plutônicas e as mineralizações associadas na Amazônia. “Estudamos os efeitos do clima do passado geológico que levaram à formação dos depósitos minerais”, afirmou Costa. “Tentamos entender a evolução geológica da Terra desde o período Arqueano até agora.”

Já o INCT Redes e Sensores Óticos foi apresentado por João Crisóstomo Weyl, da UFPA. O Instituto visa desenvolver soluções inovadoras de sensoriamento, baseadas em sensores ópticos, para setores estratégicos ao desenvolvimento do país: mineração, energia, construção civil, defesa, espacial, petróleo e gás. No setor de telecomunicações, o objetivo é o desenvolvimento de soluções que enfrentem os limites de capacidade das redes ópticas atuais. Envolve oito instituições nacionais, seis empresas e sete parceiras internacionais.

“Buscamos modelar e desenvolver novas fibras e dispositivos para sensoriamento óptico e faixa de Terahertz”, explicou Crisóstomo. “Também desenvolvemos novas técnicas de interrogação para várias aplicações em sensores ópticos, além de ferramentas computacionais para gerenciamento de dados para redes de sensores ópticos.”

 

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