Três jovens cientistas de talento da região Nordeste passaram a fazer parte dos quadros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na categoria de membros afiliados: o bioquímico Bruno Anderson Matias da Rocha, a engenheira e bioquímica Kyria Santiago do Nascimento e o matemático Paulo Alexandre Araújo Sousa foram eleitos pela vice-presidência da Regional Nordeste & Espírito Santo da ABC, para o período 2015-2019.
Bruno Anderson Matias da Rocha, Kyria Santiago do Nascimento e Paulo Alexandre Araújo Sousa
A diplomação e o simpósio científico, em que os três cientistas eleitos apresentaram a sua pesquisa, aconteceu no dia 5 de novembro, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife. A mesa de abertura contou com a participação do reitor da UFPE, Anísio Brasileiro de Freitas Dourado; do presidente da ABC, Jacob Palis, doutor honoris causa e professor emérito pela universidade; e Cid Araújo, vice-presidente da Regional NE&ES da ABC. Araújo comemorou o fato de ser o sétimo ano que a ABC diploma os novos membros afiliados pela Regional Nordeste & Espírito Santo, e ressaltou a qualidade do trabalho dos jovens pesquisadores eleitos a cada ano.
Jacob Palis, Anísio Dourado e Cid Araújo
Segundo o reitor da UFPE, associar a universidade à ABC pela pessoa de Jacob Palis, que tem grande importância para a instituição, é uma “satisfação”. “É uma honra sediar a diplomação desses três beneficiados”, afirmou. Palis, por sua vez, afirmou ser fundamental propagar a ideia de que a ciência é absolutamente imprescindível: “Estamos precisando dessa contribuição mais do que nunca. A sociedade precisa de ciência e tecnologia, e não podemos abrir mão de ter os investimentos apropriados. Há nove anos eu digo que o pouco mais de 1% do PIB investidos nessa área é insuficiente”.
De acordo com o presidente da ABC, o Nordeste e o Espírito Santo têm um papel muito importante na Academia e na ciência, e devemos mostrar o trabalho feito nesta região ao eleger os afiliados, que se tornam membros da ABC por um período de cinco anos. “A expectativa é que eles se tornem, no futuro, membros titulares.”
Palis fez questão de mencionar a presença do físico e ex-membro afiliado da ABC Antonio Gomes de Souza Filho, atual pró-reitor da Universidade Federal do Ceará, na cerimônia, mostrando que a conexão da Academia com os membros afiliados é permanente. Também estavam presentes no evento os Acadêmicos Alcides Nóbrega Sial, Benildo Sousa Cavada, Celso de Melo e Sergio Rezende, que fez a palestra de abertura do simpósio científico.
Benildo Cavada, Alcides Sial, Celso de Melo, Sergio Rezende, Jacob Palis, Kyria Nascimento, Bruno Rocha, Cid Araújo, Paulo Sousa, Anísio Dourado e Antonio Gomes
A trajetória científica brasileira
Sergio Rezende, que foi ministro de Ciência e Tecnologia de 2005 a 2010, falou sobre a situação de CT&I no Brasil, com a qual ele declarou estar “triste”, mas que tentaria ser otimista. Rezende lembrou que o Brasil teve um início tardio na ciência. Em 1900, foi criado o Instituto Soroterápico que deu origem à Fundação Oswaldo Cruz. “A segunda instituição mais importante criada depois da Fiocruz foi a ABC, em 1916. Ano que vem a Academia completa 100 anos e ganhará uma nova sede, porque a atual não faz jus à sua importância”, lembrou.
Em 1921, houve a reestruturação do Observatório Nacional e a criação do Instituto Nacional de Tecnologia, no Rio de Janeiro. Em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo (USP) e, em 1939, a Escola Nacional de Filosofia. Rezende ainda pontuou como uma data importante a visita do físico Albert Einstein ao Brasil.
Em 1950, o país tinha pouquíssimos cientistas e pesquisadores e não havia ambiente de pesquisa nas universidades. A criação do CNPq, em 1951, foi resultado de uma grande mobilização da comunidade cientifica brasileira, com participação crucial da ABC, e representou um apoio inédito a estudantes e pesquisadores através de bolsas e auxílios. “Foi fundamental para a manutenção e criação de grupos de pesquisa”, disse Rezende.
Em 1962, a criação do Fundo Tecnológico (Funtec/BNDES) propiciou o surgimento dos primeiros cursos de pós-graduação. Em 1968, a reforma universitária criou o regime de tempo integral nas universidades e, em 1971, foi implantado o Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia (FNDCT), através da Finep. Já em 1985, surgiu o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT).
“Ciência e tecnologia são muito novas no Brasil e não têm sido decisivas para nossa economia”, destacou Rezende. “Mas quando o governo atua com regularidade nesse setor, os resultados aparecem. Um exemplo é a Embraer, criada no ITA. Outro é a Embrapa, criada em 1972.” De 72 a 95, mostrou o Acadêmico, os cursos de mestrado e doutorado aumentaram de 700 para quase 2 mil, por conta de investimentos na área. O FNDCT teve um grande crescimento no final dos anos 70, depois caiu e, de 1999 a 2002, foram anos melhores.
“A partir daí, houve a criação dos fundos setoriais de ciência e tecnologia, o início da recuperação do FNDCT e novos formatos de financiamento”, explicou o físico. “Depois, um grande aumento do número de bolsas de estudo e pesquisa, INCTs, Pronex e articulação com empresas por meio do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec).”
Rezende reconhece que, nos últimos dez anos, ocorreu um crescimento substancial sos recursos financeiros federais, com expansão do sistema de C&T, melhora na produção científica e notável avanço no ambiente para inovação tecnológica nas empresas. “Estamos formando cerca de 14 mil doutores e temos hoje cerca de 35 mil grupos de pesquisa – em 95 eram 7 mil.” Ele também ressaltou que houve uma grande melhoria na distribuição geográfica da ciência nos últimos 20 anos.
O Brasil é o 13º no mundo em produção de publicações citáveis. É o quarto, no caso das ciências agrárias e biológicas; o 15º, na física; e o 18º, na engenharia. “Construímos um sistema de C&T extenso e qualificado, apesar de um início tardio, mas é preciso expandir a comunidade de pesquisa, melhorar a qualidade da produção científica e aumentar a produção científica industrial. “Isso só vai ser vencido com investimentos e continuidade das ações e programas.”
Conforme declarou Oswaldo Cruz, cientista que deu nome a uma das nossas
primeiras instituições científicas, citada por Rezende no início da palestra: “Meditai se só as nações fortes podem fazer ciência ou se é a ciência que as faz fortes”.
Conheça os três novos membros afiliados eleitos para a Regional Nordeste & Espírito Santo:
Quando criança, o bioquímico Bruno Anderson Matias da Rocha acompanhava a mãe ao laboratório de farmácia bioquímica onde ela trabalhava. Hoje, ele próprio atua nessa área na Universidade Federal do Ceará.
A infância no litoral capixaba estimulou o interesse de Kyria Santiago do Nascimento pela natureza. Hoje ela é pós-doutora em biotecnologia e se dedica à identificação da proteína lectina em plantas e algas e à produção desta substância em bactérias.
Matemático, o professor Paulo Alexandre Araújo Sousa realiza sua pesquisa em geometria diferencial pela Universidade Federal do Ceará e é um dos novos membros afiliados da ABC.