O físico Marcos Vinicius Borges Teixeira Lima, membro afiliado da ABC de São Paulo, eleito para o período 2015-2019, nasceu e passou a infância e a adolescência em Brasília. Foi um período de muita liberdade e convívio com a família, em que passava boa parte do tempo brincando, lutando karatê e jogando futebol na escola e em família, com o pai e os primos. Seu pai era funcionário público em uma empresa do governo e sua mãe, professora da rede pública de ensino fundamental. “Ambos sempre me incentivaram a estudar e a valorizar o conhecimento como meio de atingir a verdadeira felicidade. Eu devo aos meus pais tudo que vivi e atingi em minha vida”, revela.
A alfabetização formal da escola era complementada em casa com sua mãe, que acompanhava seu aprendizado de perto e elogiava seu progresso a todos. “O meu pai fazia o mesmo, e isso certamente teve uma influência muito positiva em mim. O orgulho que minha família constantemente demonstrava das minhas conquistas sempre me motivou muito.” Lima tem um irmão sete anos mais novo, que é médico.
Na escola, gostava de todas as disciplinas, mas sempre teve preferência por matemática e ciências e, no ensino médio, passou a ter interesse, também, pelas aulas de filosofia. “Eu me identificava instantaneamente com os tópicos discutidos e passava muito tempo pensando neles. Ali começou a despertar em mim, de maneira mais séria e consciente, uma curiosidade que até então existia de forma mais tímida.”
No começo do ensino médio, pensava em cursar medicina ou engenharia, mas dois fatores mudaram isso: “O primeiro foi a influência de alguns professores excelentes, entre eles a professora de filosofia, que me abriu um fantástico universo investigativo de forma muito natural e amigável.” O segundo foram as conversas que tinha com um colega de classe sobre as aulas de filosofia, matemática e física, bem como o sentido da vida e as possíveis carreiras. “Minha predileção por matemática e ciências manteve-se sempre forte e, através da leitura de alguns livros de divulgação científica de cientistas como Marcelo Gleiser e Stephen Hawking, eu percebi que a pesquisa em física explorava tópicos e métodos bem diferentes da física ensinada no ensino médio, e acabei me sentindo fortemente atraído por essa possibilidade.”
Começou, então, o curso na Universidade de Brasília (UnB). Durante toda a graduação, ele procurou formas de conciliar os cursos com atividades extras, investigativas. Assim, logo no primeiro ano, participou do Programa Especial de Treinamento (PET) de matemática, coordenado pelo Prof. Célius Magalhães. “Fui também monitor de algumas disciplinas e comecei a fazer iniciação científica com o Prof. Fernando Albuquerque Oliveira na área de mecânica estatística.
Na iniciação científica, Lima participou de um artigo científico de seu grupo de pesquisa, o que o estimulou muito a levar a sério este caminho. Adiantou algumas disciplinas do curso e se formou em sete semestres, iniciando o mestrado logo em seguida. “Nesse período, desenvolvi um desejo de explorar diferentes áreas de pesquisa e também de conhecer outros países e culturas”, relata. “Assim, decidi aplicar para o doutorado no exterior e, no começo de 2002, recebi a notícia de que havia sido aceito para o doutorado na Universidade de Chicago. Os anos nos Estados Unidos foram fantásticos, fiquei imerso em estudos e pesquisas, em uma cidade incrível e em um ambiente científico sensacional, com a melhor infraestrutura possível, muitas atividades e grande diversidade social e cultural.”
Durante o primeiro ano do doutorado, começou a se interessar pelas áreas de astrofísica e cosmologia, que trazia de volta toda a motivação inicial de estudar física, despertada inicialmente nas aulas de filosofia do colégio. “A cosmologia era um tópico fascinante e que tinha forte tradição em Chicago. Naquele momento, estava ainda mais em evidência, devido aos indícios de aceleração cósmica vindos de supernovas e às primeiras medidas da radiação cósmica de fundo feitas pelo satélite WMAP”.
Lima enfatiza que o ambiente científico local foi decisivo em sua escolha: “Um centro de cosmologia muito ativo acabara de ser criado na universidade, juntando pesquisadores dos departamentos de física e astronomia. Este centro viria, em poucos anos, a se tornar o Kavli Institute for Cosmological Physics (KICP), um centro de excelência mundial na área. Em meio a um ambiente de muita efervescência científica, decidi que iria me especializar em cosmologia. Tive dois orientadores durante o doutorado, o Prof. Wayne Hu e o Prof. Joshua Frieman, que me deram muita liberdade científica e a possibilidade de trabalhar em vários projetos, como o Dark Energy Survey.”
Após concluir o doutorado em 2008, Lima fez um pós-doutorado na Universidade da Pennsylvania. “Estas experiências todas definiram a minha carreira, as minhas áreas gerais de pesquisa, a minha visão de como se faz ciência e muito da minha personalidade.”
Atualmente professor-doutor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Lima pesquisa diferentes aspectos da cosmologia. “Uma das grandes questões que motiva os meus estudos é a chamada aceleração cósmica, ou seja, o fato de que o universo está se expandindo de forma cada vez mais rápida”, explica. “Eu tento entender as causas desta aceleração, a relação desta com aspectos de física fundamental, e como podemos aprender sobre estes aspectos através de observações de galáxias feitas com telescópios.”
Na ciência em geral, o que o atrai é o aspecto investigativo em si e a possibilidade de pensar sobre perguntas fundamentais acerca de como a natureza funciona. “Na minha área de pesquisa específica, o trabalho é altamente focado na compreensão de aspectos fundamentais do universo”, avalia. “Hoje, esta busca continua me motivando na pesquisa, bem como as possibilidades de, a qualquer momento, descobrir algo novo e interessante, de verificar a validade de novas leis da física que podem estar operando em escalas cosmológicas, e a chance de compartilhar estas buscas com colaboradores, estudantes e criar possibilidades para que eles participem deste processo e façam suas próprias investigações com motivação e ousadia.”
Lima se diz contente e honrado em se tornar membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências. Ele pretende contribuir para que a ciência brasileira seja continuamente modernizada e internacionalizada, tornando-se um hub da ciência mundial. Ele listou alguns aspectos importantes com os quais quer colaborar: a detecção e desenvolvimento de talentos locais, a atração de talentos externos e aproveitamento de oportunidades; a implantação de valores fundamentais que permitam a estruturação eficiente das instituições de pesquisa; a valorização da meritocracia nas atividades-fim de pesquisa, em detrimento do corporativismo, permitindo que a pesquisa científica fundamental tenha no país o lugar de destaque que merece. “Quero que a beleza e o poder da ciência se tornem evidentes a mais olhos, instiguem e contaminem as mentes mais talentosas e promissoras, e que esta mesma ciência transforme o país de forma material, social e cultural.”