O físico Leandro Malard Moreira nem sempre foi bom em matemática. Mas, por amor à sua área de atuação, ultrapassou obstáculos, e, em 2015, foi contemplado por suas conquistas com o título de membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências.
Seus pais, José Maria e Sônia, eram comerciantes de uma loja no ramo de eletrônica. O estímulo deles durante a infância do filho foi fundamental para a aproximação do futuro pesquisador com a ciência.
A impaciência para quebra-cabeças quando criança não impediu que Malard deixasse de lado os brinquedos de montar. Na loja de seus pais, ele passou bons momentos divertindo-se com os materiais descartados dos eletrônicos e criando novos objetos.
Ao terminar o ensino médio, Malard, como tantos outros jovens, começou a se questionar sobre que profissão escolher. Apesar do gosto pela física, optou por cursar engenharia. “Na época, a falta de conhecimento sobre a carreira de físico e a atraente remuneração de um engenheiro fizeram com que eu escolhesse essa segunda opção. Comecei a graduação, porém, já no primeiro ano decidi que devia estudar física. Recebi todo apoio de meus pais”, relata.
Já nos primeiros períodos do curso de física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Malard ganhou uma bolsa de iniciação científica para pesquisar sobre biosorção. Depois, foi trabalhar com propriedades ópticas da matéria no laboratório de semicondutores da UFMG. Lá passou toda a graduação e mestrado, fez amigos e aprendeu diversas técnicas experimentais, principalmente com seu orientador Franklin Matinaga.
Durante o mestrado, Malard e seu grupo de pesquisa desenvolveram trabalhos em microcavidades semicondutores e suas propriedades de emissão de luz laser. Após assistir a uma palestra no Encontro de Física da Matéria Condensada da Sociedade Brasileira de Física (SBF), ele percebeu que havia novos materiais de carbono com propriedades ópticas extremamente interessantes. “Decidi, então, fazer o doutorado com o professor e Acadêmico Marcos Pimenta, que virou referência nas propriedades ópticas de materiais de carbono. Logo no início do trabalho de doutorado, o professor Pimenta me pediu para estudar um novo material: o grafeno.” Este elemento havia sido isolado pela primeira vez em 2004 por um grupo de pesquisa em Manchester, liderado pelos professores Andre Geim e Kostya Novoselov – ambos ganhariam o prêmio Nobel por essa descoberta em 2010.
Em 2006, já haviam sido demonstradas no grafeno propriedades como a alta mobilidade de elétrons – a corrente elétrica nesse material dissipa pouca energia -, a grande rigidez mecânica e até uma plataforma para se estudar efeitos relativísticos. “Bastava então conseguirmos uma amostra para começar o doutorado”, conta. As primeiras medidas de espalhamento Raman de grafeno feitas no laboratório foram realizadas com amostras diminutas, mas logo seus companheiros de pesquisa encontraram uma boa técnica para obter as amostras desse material.
Malard considera a parceria estabelecida com seus alunos durante o trabalho bastante proveitosa. No final do doutorado, o grupo fez descobertas interessantes acerca do grafeno, como a determinação de seus níveis de energia por espalhamento Raman e suas interações com as vibrações interatômicas.
O físico continuou sua carreira acadêmica com um pós-doutorado pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, em 2011. Atualmente, como professor de física da UFMG, trabalha com as propriedades ópticas de novos materiais. Sua pesquisa consiste em incidir luz sobre um material e ver como este se comporta sob a presença dessa luz. “Com o uso de diversas técnicas, podemos saber se um material é bom condutor, se é isolante, se absorve muito a luz, se pode emitir luz, entre outras coisas. Pretendemos, assim, buscar novos materiais que possam ser utilizados na próxima geração de processadores de computador, em melhores células solares e baterias”, explica.
Outro objetivo da pesquisa é desenvolver novas técnicas de diagnóstico médico baseado em luz. “Existem diversos tipos de proteínas no corpo humano e cada uma possui uma resposta diferente quando incidimos luz, podendo, então, ser usadas como marcadores. Dessa forma, qualquer anomalia causada por alguma doença pode ser detectada.” A equipe de Malard estuda como produzir um diagnóstico de forma eficiente e confiável para que possa ser usado por médicos.
Para o físico, fazer ou descobrir algo completamente novo e útil para a sociedade é o que torna a ciência encantadora. Na área de propriedades ópticas, ele sente-se realizado quando desenvolve métodos diferentes para extrair informações acerca de novos materiais ou quando seus estudos são aplicados na área biomédica.
O jovem cientista considera um mérito ser membro afiliado da ABC e espera contribuir para o desenvolvimento da ciência no Brasil. “Esse título mostra que o trabalho que desenvolvemos tem importância”, celebra.