Uma nova perspectiva para o controle de doenças autoimunes, entre elas o Diabetes Tipo 1, é o foco do estudo da médica Maria Carolina Rodrigues. O objetivo é que os portadores da doença diminuam a dependência diária de insulina através de um tratamento com as células mesenquimais (MSC) – existentes em diversos tecidos do corpo, incluindo as células-tronco, possíveis de ser cultivadas em laboratório. A linha de pesquisa, na qual a cientista atua há 12 anos, sugere que as MSCs podem controlar o sistema imunológico, evitando o mecanismo comum dos anticorpos desses pacientes, que não reconhece as células produtoras de insulina e as ataca, destruindo-as.
As MSCs foram selecionadas por apresentarem três capacidades essenciais para neutralizar os efeitos dessas doenças, evitando que o sistema imunológico destrua tecidos saudáveis do corpo por engano: a de imunomodulação, que permite resfriar e desinflamar o sistema imunológico; a de regeneração de órgãos inflamados; e a de angiogênese, que possibilita o crescimento de novos vasos sanguíneos a partir dos já existentes. “Em algumas situações, como úlcera de pele, essas células ajudam a regenerar os tecidos e limitar as lesões. Já no infarto de miocárdio, elas contribuem para a recuperação dos vasos”, exemplifica a pesquisadora.
A tentativa do estudo é fazer com que essas mesmas células interrompam a agressão imunológica ao pâncreas, preservando parte de sua função e mantendo a secreção de insulina. “Não sabemos se as MSCs agem de forma igual em todos os indivíduos. Isto é comprovado em animais, mas nos humanos a resposta não é tão clara. Testamos em pacientes com inflamação no pâncreas, na tentativa de salvar o que restava do órgão, e, em alguns, as células foram destruídas, ou seja, eles não reagiram. ‘Por que isso acontece?’ É o que tentamos descobrir!”, explica. Segundo a Dra. Maria Carolina, uma das possibilidades é de as células estarem sendo rejeitadas. “Se isso for comprovado, teremos um grande passo, pois descartaremos o seu uso ou aplicaremos de outra forma. Nossa intenção é que os pacientes se beneficiem dessa evolução na pesquisa”, afirma.
Foi pensando em melhorar a qualidade de vida dessas pessoas que a pesquisadora decidiu inscrever o projeto no Para Mulheres na Ciência 2014. Para ela, a visibilidade do prêmio é importante para o andamento da pesquisa e também para a valorização das cientistas. “Acredito que este reconhecimento ajuda a estimular ainda mais a presença feminina nos laboratórios”, diz. Natural de São Carlos, interior de São Paulo, Maria Carolina se dedica há 21 anos aos estudos da medicina. Aos 18, decidiu prestar vestibular para a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, um dos campus da Universidade de São Paulo (USP), e não saiu de lá desde então. Cursou a graduação, o mestrado e o doutorado, fez residência, e hoje, aos 39 anos, é professora de reumatologia para alunos de graduação e pós-graduação.
A dedicação à ciência não é exclusiva na vida da médica, casada há 15 anos e mãe de três filhos – um de 9, outro de 6 e o caçula, de um ano e meio. “Costumo dizer que tenho duas vidas: a acadêmica, das 8h às 18h, e a pessoal, à noite e aos fins de semana”, diz.