Pelo clima de emoção e orgulho que predominou na abertura da 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no dia 22 de julho, essa edição promete ser histórica. Realizado pela primeira vez no Acre e pela quarta vez na região Norte, o maior encontro científico do Brasil recebeu um total de 5.480 inscrições (2.942 do Estado anfitrião) – número que, neste ano de atenções voltadas para a Copa do Mundo, surpreendeu os coordenadores do encontro. O tema de 2014 é “Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras”.
A reunião acontece na Universidade Federal do Acre (Ufac), na capital, Rio Branco, de 22 a 27 de julho. A abertura lotou a plateia do Teatro Universitário, onde muitas pessoas assistiram à cerimônia de pé e outras não conseguiram nem mesmo entrar. Estavam na mesa o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), Clelio Campolina; a presidente da SBPC, Acadêmica Helena Nader; o presidente da ABC, Jacob Palis; o reitor da Ufac, Minoru Kinpara; o secretário estadual de CT&I do Acre, Marcelo Minghelli; a chefe estadual da Casa Civil, Marta Regina Pereira; o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre Médici; o general Joaquim Luna (representando o Ministério da Defesa); o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Sergio Gargioni; a vice-reitora da Ufac, Margarida Aquino; o diretor de Cooperação Institucional do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Acadêmico Paulo Beirão; e a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naiz. A cerimônia foi conduzida pelo secretário-geral da SBPC, Aldo Malavasi.
Paulo Beirão, Jacob Palis,Tamara Naiz, Guida Aquino, Jorge Viana, Clelio Campolina,
Helena Nader, Minoru Kinpara, Marcus Médici, Marta Pereira, Marcelo Minghelli,
Joaquim Luna e Sergio Gargioni

Superação de desafios
Os representantes do Acre na cerimônia enfatizaram a conquista do Estado em realizar a 66ª Reunião Anual da SBPC, principalmente pelas dificuldades inesperadas com as quais precisou lidar: há apenas quatro meses, a região Norte foi acometida por fortes chuvas e a enchente do Rio Madeira, em Rondônia, deixou o Acre quase 30 dias sem comunicação terrestre com o resto do país. Por conta disso, alguns hotéis não puderam se preparar para receber participantes do evento e obras não foram finalizadas.”Oito mil famílias foram afetadas. Mas lutamos e aqui estamos, recebendo a todos com carinho”, afirmou o prefeito de Rio Branco.
“O Acre está mais bonito”, declarou o reitor da Ufac, Minoru Kinpara (na foto ao lado), dizendo-se muito emocionado e convidando todos a conhecerem as novidades da reunião deste ano: a SBPC Extrativista, SBPC Indígena e o Dia da Família na Ciência. “A Ufac nunca mais será a mesma depois dessa semana”, comentou a vice-reitora, conhecida como Guida. “É um evento muito esperado por todos nós.”
O secretário de CT&I do Acre falou sobre o papel do Estado de dar condições mais dignas ao povo, ao mesmo tempo em que preserva a floresta, priorizando a baixa emissão de carbono. “Ciência e tecnologia são essenciais para que possamos fazer isso”, destacou Minghelli.
Tamara Naiz, presidente da ANPG, afirmou que os estudantes “querem muito mais para o país e acreditam que a abundância de recursos naturais deve levar à educação”. Ela recordou, ainda, que a Associação foi criada em uma Reunião Anual da SBPC, há 28 anos, e defendeu que iniciativas como essa têm o papel de combater as desigualdades regionais.
O presidente da Confap, Sergio Gargioni, informou que a entidade reúne, atualmente, 25 fundações de amparo à pesquisa. “Acreditamos na capacidade do pesquisador brasileiro, do mais jovem ao mais sênior.” O oficial Joaquim Luna comentou que o tema da reunião é instigante e promete gerar discussões profícuas, que se estenderão mesmo após o fim do evento.
O ministro de CT&I lembrou que o patrimônio natural da região amazônica merece atenção, ressaltando que a bioeconomia é uma das fronteiras do conhecimento humano. “Temos que buscar outro padrão produtivo que não o convencional, usar a biodiversidade para gerar renda, emprego, aproveitando a ecologia dos saberes regionais sem comprometer o meio ambiente.” Campolina acrescentou que o evento da SBPC será decisivo para o Acre e a Amazônia em geral.
Ano movimentado na ciência
Bastante emocionada, a Acadêmica Helena Nader ressaltou a “força do povo do Acre”, que já existia com os seringueiros quando o território ainda pertencia à Bolívia. Ela agradeceu ao apoio de todos que contribuíram para a realização da 66ª Reunião Anual e relembrou alguns acontecimentos que marcaram o ano que passou, voltando a mencionar o financiamento de CT&I como um desafio que ainda persiste: “Tivemos cortes no orçamento não só do MCTI, mas também do Ministério da Educação, e continua a ameaça de extinção dos recursos dos royalties do pré-sal para a ciência”.
Nader falou também sobre a proposta da criação do Código Nacional de CT&I e mais uma vez se manifestou contra a supressão da expressão “pesquisa básica”, que afirmou ser o alicerce da inovação. Reconheceu, ainda, o esforço do MCTI ao criar o recém-lançado Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento, mas pediu cautela, alegando que, antes de se iniciar uma nova jornada, é preciso dar continuidade a outros projetos, como o Syrius e o Programa Espacial.
Ainda assim, a presidente da SBPC também comemorou as conquistas, como a aprovação do Plano Nacional de Educação e do marco civil da internet como normas jurídicas. Ela recordou a bem-sucedida realização do Fórum Mundial de Ciência no Brasil, a partir da atuação da Academia Brasileira de Ciências (ABC), SBPC e outras instituições. “O fórum só foi trazido ao país graças aos esforços do Jacob, presidente da ABC, que convenceu a todas as entidades que o Brasil podia sediá-lo e que era importante que este saísse da Europa”, disse Nader. Ela, então, agradeceu a Jacob Palis, que recebeu aplausos.
Prêmio e homenagem
A abe
rtura também incluiu uma homenagem ao geneticista e membro da ABC Darcy Fontoura de Almeida, falecido em março. Graduado em medicina pela então Universidade do Brasil, o cientista fez pós-doutorados em lugares como Londres, Bruxelas, Roma e Texas, e iniciou sua carreira no Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi precursor da genética de microrganismos no país e também atuou com gestão de ciência. Em 2000, fundou o Laboratório de Bioinformática dentro do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Amigo de Fontoura, o Acadêmico Alberto Passos Guimarães recebeu uma placa em nome da esposa dele, que não pôde comparecer.
Outro homenageado foi o jornalista de O Estado de S. Paulo Herton Escobar (na foto ao lado, entre o ministro Campolina e Paulo Beirão, diretor do CNPq), que recebeu o Prêmio José Reis de Divulgação Científica. Especialista em jornalismo de meio ambiente, Escobar é repórter do jornal desde 2000, onde também mantém um blog sobre ciência, e já escreveu mais de 1700 reportagens nessa área.
A cerimônia foi encerrada com uma apresentação do instrumentista acreano, de grande reconhecimento, Chico Chagas, acompanhado do Trio de Cordas da Ufac.